Por que não vamos dialogar com a Copa da FIFA?
Mais do que fingir diálogo, os governos de Dilma, Alckmin e Haddad devem respostas e ação ao povo brasileiro. É isto o que milhões temos dito pelas ruas desde junho.
* Thiago Aguiar
Na noite de ontem, o Juntos recebeu da secretaria-geral da Presidência da República um convite para participar dos “Diálogos sobre a Copa do Mundo”, atividade que aconteceu hoje em São Paulo. A proposta era que movimentos sociais ouvissem os governos federal, estadual e municipal de São Paulo, além de apresentação do Ministério do Esporte sobre a Copa do Mundo e depois “dialogassem” com o governo.
Esta proposta não é novidade. Dias atrás, a secretaria-geral da Presidência já havia se reunido com a UNE e com movimentos de juventude. Em junho, Dilma também prometeu ouvir as posições dos movimentos sociais e posteriormente propôs os “cinco pactos”, dos quais o único levado a sério foi o absurdo pacto pelo “ajuste fiscal”, que tem significado cortes bilionários no orçamento, ataques aos direitos sociais e justamente a impossibilidade de atender as demandas da juventude nas ruas.
Nós decidimos não ir à reunião por considerarmos o chamado do governo ao “diálogo” uma tentativa distracionista e hipócrita de não responder aos anseios populares e à indignação com as obras superfaturadas, as leis de exceção, remoções e a repressão aos movimentos sociais promovidas na preparação para a Copa do Mundo.
Dias após a denúncia do escândalo “Blackwater”, quando o Brasil soube pela imprensa que oficiais responsáveis pela repressão na Copa estavam sendo treinados por uma empresa mercenária e assassina responsável por massacres no Iraque, nos chocamos com o assassinato do dançarino Douglas e do jovem manifestante no Pavão-Pavãozinho. Somamos nossa voz à indignação de milhões com as mortes de Amarildo, Cláudia, Douglas do Jaçanã e tantos outros que permaneceram anônimos na brutal repressão promovida pelos governos país afora.
Mais do que fingir diálogo, os governos de Dilma, Alckmin e Haddad devem respostas e ação ao povo brasileiro. É isto o que milhões temos dito pelas ruas desde junho. Quase um ano depois, o que os governos ainda não sabem?
* Thiago Aguiar é cientista social e integrante do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos