15M: a jornada nacional de protestos que abriu a Copa das Manifestações
O 15M demonstrou mudanças significativas. A unidade constituída entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Juntos e Comitês Populares da Copa, junto com dezenas de outros movimentos locais, propôs um manifesto comum, com eixos concretos. O mais intenso deles é o direito à moradia.
A série de protestos que percorreu 50 cidades brasileiras voltou a polarizar o país, ao trazer à cena o espectro das jornadas de junho. O 15 de Maio (15M) foi definido pelos movimentos sociais e, repercutido por órgãos de imprensa, como a Manifestação das Manifestações, conseguiu contrapor-se ao slogan estatal da Copa das Copas. O 15M desbancou essa ideia.
Numericamente inferior a junho, as passeatas do 15M estiveram à altura daqueles dias, pois conseguiram dialogar com o imenso desânimo popular com a Copa do Mundo. Somado à revolta com as injustiças cometidas em nome do Mundial, o desinteresse de parte significativa dos brasileiros é um dado crucial. Comerciantes de diversas cidades-sede da Copa calculam vender menos que suas previsões anteriores.
O 15M demonstrou mudanças significativas. A unidade constituída entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Juntos e Comitês Populares da Copa, junto com dezenas de outros movimentos locais, propôs um manifesto comum, com eixos concretos. O mais intenso deles é o direito à moradia. A coragem e força do MTST, que emergiu como o movimento social mais forte do Brasil pós-junho, contagiam o ativismo de esquerda no Brasil. A ocupação Copa do Povo, a 3 km da Arena Corinthians, coloca na rota dos turistas uma das grandes contradições agudizadas pela Copa: a falta de moradia e o avanço brutal da especulação imobiliária, que jogou o preço dos imóveis a preços estratosféricos.
Outra alteração nos protestos foi a importante presença de diversas categorias de trabalhadores no 15M. Ferroviários e professores de São Paulo, funcionalismo público em BH, municipários de Porto Alegre, entre tantos outras. Vale o destacar que a educação em todos os estados do Sudeste estão em greve. Em Brasília, o protesto homenageou os operários que morreram nas obras dos Estádios, levando cruzes com seus nomes até o Estádio Nacional Mané Garrincha. Muitos trabalhadores atropelam as direções sindicais pelegas, atreladas ao governo e, consequentemente, que tentam abafar os protestos durante a Copa do Mundo.
Por mais que a imprensa e as forças repressivas insistam em focar nas ações dos black blocks, é nítida a perda de força dessa tática. Ela não irá desaparecer, mas sua fase de glamour e destaque já passou. Os ativistas e cidadãos comprometidos com as mudanças sociais do Brasil não encontram um caminho para a mudança nessa tática. Essa conclusão, não significa igualar as ações de repressão às ações de jovens que revoltados depredam símbolos do capitalismo e da opressão.
Obtivemos uma vitória concreta na disputa das ruas. O governo Dilma recuou na intenção de aprovar leis que aumentem a punição e a repressão, em trâmite no Congresso Nacional. Não foi aleatória a escolha desse anúncio no 15M, por parte do ministro Gilberto Carvalho. A argumentação do Planalto é que não há necessidade de novas leis porque já existe instrumentos legais que garantam a repressão (e também a impunidade), como verificado desde as jornadas de junho. Outro aspecto destacado pelo governo federal é de que os protestos do 15M não se massificaram. Apostam também que a Copa terá apoio durantes os jogos. Isso não é totalmente errado. O equívoco está em crer que a existência dos jogos diminuirá o ímpeto dos manifestantes.
Diante desse quadro, o espectro de junho voltou a rondar o Brasil. Os trancaços de ruas, rodovias, greves e passeatas contestou, pela esquerda, o governo federal. Diante da dupla propaganda petista – o ufanismo estatal e a campanha de medo pela disputa eleitoral – está posta a perspectiva da massificação dos protestos. Mais do que exercícios de futurologia nos cabe dar a batalha de qual time vencerá a Copa das Manifestações. De um lado a FIFA, o governo, os bancos e empreiteiras. Do outro, movimentos populares e cidadãos na luta por direitos. Do 15M saímos mais fortes e habilitados para vencer essa partida.
Seguimos fardados e voltamos a campo com o MTST no próximo dia 22 de maio, a #QuintaVermelha, na luta por Copa, sala e cozinha. Queremos moradia completa!