Um ano da avalanche do Brasil nas ruas
O exemplo do 17 de junho de 2013 vai seguir assombrando os de cima, e dando motivação aos de baixo. Seguimos dando mais passos para construir um novo homem e uma nova mulher. Uma nova sociedade. Os conservadores e reacionários não podem nos calar. Não podem fechar de modo autoritário um capítulo da história que apenas começou.
*Pedro Serrano
17 de junho de 2014. Hoje, completa-se um ano do dia em que saímos às ruas às centenas de milhares, com o país transbordando. Um ano do dia em que derrotamos a repressão, ganhamos a consciência do povo e viramos a maré. Um ano dia em que vimos luzes de prédios e casas piscando, bandeiras do Brasil tremulando e um povo com orgulho de estar nas ruas. Um ano do dia em que humilhamos categoricamente Alckmin, Haddad e todos os grande políticos do país – os mesmos que, hoje, tentam normalizar o cenário e repetir suas velhas fórmulas falidas nas eleições de outubro.
Impossível não lembrar de cada passo daquele processo e dos momentos que antecederam a segunda-feira, 17. Era impossível para qualquer um de nós prever o que viria. Me lembro dos otimistas apostando em um ato de 30, 40, quem sabe 50 mil em São Paulo. Foram muitos mais! Me lembro do Secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, o mesmo que hoje ostenta orgulhosamente a repressão da PM paulista durante da Copa, sendo obrigado a dizer em rede nacional que, naquela data, a Polícia não usaria as “balas de borracha”. Nós expulsamos a PM das ruas.
Um ano depois, nada é como antes. Alguns ficam tristes de, no junho deste ano, o verde-e-amarelo das ruas não ser o da “luta”, mas o da Copa. Mas não há motivo para isso. A consciência não volta atrás. Hoje, se vibramos com a bola e torcemos pelo futebol, já não esquecemos, em contrapartida, dos nossos direitos, da legitimidade da luta, das injustiças que nos circundam e da brutalidade do sistema capitalista que oprime a todos. O futebol e o esporte já não manipulam um povo que acordou e tem consciência. E essa consciência, sem dúvida, está de pé em muito pelo que fomos capazes de fazer naquele dia, e nos dias subsequentes do mais extraordinário junho de nossas vidas.
17 de junho de 2013 segue presente. Presente nas tarifas que caíram. Presente em cada greve que fizemos e nas que faremos. Presente em cada ocupação de reitoria, de terra, de prédio. Presente em cada levante da periferia, em cada revolta negra que multiplica a resistência de Amarildos, Douglas, Cláudias e DGs. Presente no professor, no gari, no rodoviário, no metroviário e no “não tem arrego”. Presente na mulher, na negra, nas LGBTs. Presente nos trabalhadores do MTST, nas suas lições e vitórias. Presente em cada experiência maravilhosa que, sobretudo nós, os jovens, realizamos dia a dia, crescendo, apanhando, rasgando na marra as feridas desse mundo, para criar um outro possível.
O exemplo do 17 de junho de 2013 vai seguir assombrando os de cima, e dando motivação aos de baixo. Quando menos esperarem (ou quando já não puderem conter), estaremos de volta com a avalanche nas ruas. Lutam contra o inevitável os que tentam impedir isto – são os soldados do conservadorismo. E estaremos, numa avalanche, para arrastar ainda mais coisas podres do que já arrastamos da primeira vez. Dando mais um passo para construir um novo homem e uma nova mulher. Uma nova sociedade. Os conservadores e reacionários não podem nos calar. Não podem fechar de modo autoritário um capítulo da história que apenas começa a ser expectorado. Se assim pensam, não aprenderam nada com junho. Não viram que, não podendo com a formiga, não devem atiçar o formigueiro.
*Por Pedro Serrano, do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos!