Dia da visibilidade trans: pelo direito de ser
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Dia da visibilidade trans: pelo direito de ser

29 de janeiro é o Dia da Visibilidade Trans. A data foi criada há onze anos, em virtude do lançamento da Campanha Nacional “Travesti e Respeito”, do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

Eduardo Fernandes 29 jan 2015, 15:41
Eduardo Fernandes
29 de janeiro é o Dia da Visibilidade Trans. A data foi criada há onze anos, em virtude do lançamento da Campanha Nacional “Travesti e Respeito”, do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Foi a primeira campanha nacional idealizada por ativistas trans para promoção do respeito e da cidadania. Inicialmente, a data referia-se apenas a travestis, mas depois viu-se a necessidade da contemplação de todas as identidades trans.
E qual é a visibilidade que queremos?
Queremos o direito de existir e ter nossas identidades reconhecidas, sejam elas binárias ou não. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans. Da mesma forma, só é preciso externalizar a transgeneridade para alguém ser exlpuse de casa. Qualquer tentativa de afirmar a nossa existência é imediatamente frustrada por acusações de que estamos fingindo ser quem não somos ou estamos simplesmente confuses sobre nossas identidades. Nas melhores hipóteses, somos considerades “gays exagerados” ou “lésbicas pervertidas”.
Queremos a despatologização das nossas identidades. Transexuais têm que passar por um processo bem exaustivo para realizar a cirurgia de redesignação genital ou alterar o sexo no registro civil, e, no fim das contas, têm que contar com a boa vontade de um juíz cis para isso. Dessa maneira, o indivíduo só é considerado transexual se ele se enquadrar – ou fingir – perfeitamente num discurso patologizante. Com a despatologização e com uma lei de identidade de gênero, como a  PL 5002/13 (Lei João W. Nery), não seriam mais requeridas as dezenas de laudos médicos e psicológicos atualmente necessários. Além disso, o fato de sermos considerades doentes alimenta o discurso transfóbico – e, arrisco dizer, capacititista – que nos acomete.
Queremos um acesso digno à saúde. O atendimento nos consultórios médicos é extremamente transfóbico. Não se respeita pronomes, não se respeita autodeterminação. Não há nenhum preparo des profissionais para lidar com pessoas trans. Por isso, muitas delas acabam se hormonizando por conta própria e adquirindo medicamentos ilegais para modificar seus corpos.
  Queremos empregabilidade. De acordo com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 90% das travestis e transexuais brasileiras está se prostituindo, o que não significa que os outros 10% estejam em empregos formais. A maior parte das pessoas trans binárias – os dados que existem se referem apenas a elas – deixa a escola cedo e muites não chegam sequer a completar o Ensino Fundamental. Esse fator somado ao preconceito praticamente zera a lista de oportunidades de trabalho, jogando, assim, milhares de travestis e transexuais nas ruas, onde a única possível fonte de renda é a prostituição. Para alcançar mais clientes, muitas ainda arriscam suas saúdes injetando silicone industrial.
Queremos leis que evitem a evasão escolar de pessoas trans. Um dos meios mais opressores para nós é a escola. Justamente em um dos lugares mais importantes para nossa formação e descobrimento é onde se nota mais despreparo para lidar com isso. Os nomes sociais não são respeitados na chamada, as preferências de banheiro são desrespeitadas e a forma como as instituições lidam com o bullying é deveras ineficiente. Existem, embora precárias, algumas leis municipais e estaduais para lidar com o problema, mas não há nada no âmbito federal.
Queremos uma representação justa na mídia. A mídia nos presta um grande desserviço. Quando se vê uma pessoa trans na TV ou é porque ela morreu – e sua morte é noticiada desrespeitando seus nome social e pronome de tratamento – ou é para mostrá-la como freak de circo. Nos veículos midiáticos, parece que toda a existência da pessoa se resume sua transgeneridade. Fetichizam nossas identidades.
Queremos ver pessoas trans discutindo política, sociedade, cultura sem isso ter, necessariamente, alguma ligação com suas transgeneridades ou ser em função das mesmas.
Queremos espaço na luta. O meio que era pra mais nos acolher e respeitar acaba sendo, muitas vezes, um grande opressor. O movimento LGBT – ou seria GGGG? – insiste em ignorar nossas demandas. É preferível, no movimento, consquistar direitos homossexuais a partir do nosso silenciamento. Coletivos como o Grupo Gay da Bahia contabilizam mortes de pessoas trans como assassinatos de gays. Ao mesmo tempo uma imensidão de “militantes” enche a boca ao usar o termo LGBT para se refererir a pautas exclusivamente homossexuais.
O mesmo acontece no feminismo. Ainda existem feministas que não aceitam mulheres trans como mulheres, tampouco suportam a presença de homens trans e pessoas não-binárias no movimento. Existem correntes feministas que se autointitulam trans-excludentes e têm orgulho dessa nomenclatura.
Um movimento libertador que continua oprimindo não libertará ninguém de fato. Precisamos avançar Juntes!
Por fim, queremos ser visíveis durante todos os dias do ano e poder TRANScender para esse mundo.

Eduardo Fernandes, não binário, militante do Juntos! LGBT, Brasilia.

 


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