Peru sigue de pies: Su victoria és nuestra victoria!
Tenho certeza de que o Peru sofreu uma pequena mudança legal, mas um bom avanço na politização dessa geração. Nesse momento cresce o sentimento de participação política no país e, com certeza, os abusos do neoliberalismo feroz desse governo não serão mais recebidos de cabeça baixa pela juventude.
Mateus Fumes
Sou Mateus Fumes, 20 anos, estudante e militante do Juntos! na cidade de São Carlos interior de São Paulo. Viajei para o Peru para realizar um projeto de desenvolvimento de competências em crianças carentes de Piura, primeira cidade fundada no país. A cidade apresenta uma cultura bastante conservadora e pouco engajada politicamente, de maneira geral.
Assim como em todo o país tem alta taxa de trabalho informal, seja entre jovens ou adultos. Como é sabido, o Congresso peruano aprovou há dias a “Ley Pulpín”, que ceifa uma série de direitos dos trabalhadores entre 18 e 24 anos (redução de férias, fim do seguro obrigatório, baixa indenização por demissão, redução de tributos às empresas, e mais).
Estive entre os dias 12 de dezembro e 27 de janeiro vivendo na casa de uma família peruana de classe média, da qual um dos membros é um estudante de 22 anos de idade. Como sempre havia uma televisão ou rádio ligado na casa, me acostumei a ouvir as propagandas do governo de Ollanta que justificavam lei afirmando, entre outras coisas, ser necessário diminuir a taxa de empregos informais de modo a “garantir que os direitos do trabalhador jovem fossem cumpridos”. É quase desnecessário apontar o quão sem sentido é essa afirmação: “vamos sacar-lhes direitos para que tenham mais direitos”. Conversei e indaguei a muitos jovens a respeito da lei e me pareceu que a maioria não conhecia bem os impactos do que estava por vir.
Mas também foi curioso como, depois de uma breve conversa, muitos refletiram e começaram a pesquisar e se manifestar sobre, na maior parte das vezes contra a lei.
Fui a duas marchas em Piura: a de 22 de dezembro contou com cerca de 500 pessoas e a de 15 de janeiro, com por volta de 800. Caminhamos por cerca de 3 horas pelas principais praças da cidade invocando palavras de ordem a todo o tempo. A polícia peruana esteve sempre presente em grande volume, do inicio ao fim das marchas. Felizmente não foram tão truculentos como em Lima, se limitando à pressão visual que causa a grande quantidade de homens vestidos para guerra. Depois da última marcha, conversando com um grupo de peruanos descobri que essa era a primeira vez que a juventude da cidade saía às ruas, se reivindicar. Não consegui averiguar a informação, mas de qualquer forma, se percebeu nos rostos das pessoas que acompanhavam as manifestações das calçadas que aquilo era realmente algo novo para a cidade.
No dia 26, após a antecipação das discussões que poderiam revogar a lei, foi convocada uma marcha com urgência. Porém a votação acabou acontecendo antes do horário da marcha e a notícia de que tínhamos vencido e tinha sido revogada a lei foi dada antes mesmo do horário da marcha. A juventude peruana tinha vencido! Venceu na luta contra a exploração das grandes empresas que se aproveitariam dessa lei, na luta pela manutenção dos direitos dos jovens e ao demonstrar que política de rua tem papel fundamental na construção da sociedade.
Tenho certeza de que o Peru sofreu uma pequena mudança legal, mas um bom avanço na politização dessa geração. Nesse momento cresce o sentimento de participação política no país e, com certeza, os abusos do neoliberalismo feroz desse governo não serão mais recebidos de cabeça baixa pela juventude. Isso traz muita esperança para mim, que vejo pelas notícias sobre o Brasil tarifas e impostos subindo, atrasos em bolsas de pós-graduação, tentativa de flexibilizar a política previdenciária. Tudo isso vindo de um governo que, assim como o de Ollanta, se apresenta como popular e age em prol do capital. Dadas as semelhanças e depois do sucesso dos jovens andinos, me parece que a Primavera chegou à América Latina, entrou pelo Oceano Pacífico e pode estar rumando ao Atlântico. Mas para que isso se concretize, temos que ir às ruas mostrar que não aceitamos e que Juntos! podemos.
Mateus Fumes é estudante e militante do Juntos! São Carlos