#BlackLivesMatter: A Vidas Negras Importam! A Chacina do Cabula em Salvador e o silêncio do campo governista
A Chacina do Cabula é mais um exemplo que este modelo de segurança é homicida: a guerra às drogas segue matando a juventude negra da periferia. O silêncio da militância que tanto se esmerou no segundo turno das eleições é conivente com as execuções.
*Danilo Marques e Maíra T Mendes
Na madrugada da última sexta-feira, 6 de Fevereiro, 12 homens, entre adultos e adolescentes, foram mortos na localidade de Vila Moisés, no bairro do Cabula, em Salvador [1]. Segundo os 9 policiais da operação, tratava-se de um grupo 30 homens “fortemente armados” se preparava para assaltar caixas eletrônicos na região – ao abrirem fogo contra o destacamento, teriam sido alvo da força policial. Contrariando as estatísticas, o resultado desse desigual uso de força – 30 homens versus 9 policiais – gerou a perda de 12 vidas de um lado e um tiro de raspão do lado policial.
Entretanto mais uma vez as estatísticas de jovens negros de periferia foram confirmadas: menos de 24 horas depois, mais três homens foram mortos em suposto confronto com a polícia no bairro de Cosme de Farias. Foram 15 mortes em “confronto” em menos de um dia. No intervalo entre a ação no Cabula e a de Cosme de Farias, mais precisamente na sexta-feita pela manhã, o Governador do Estado Rui Costa (PT-BA) afirmou que os policiais durante a ação eram como “artilheiros na frente do gol”[2]. Até a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, um dos órgão mais violentos contra a juventude da periferia, afirmou que a declaração de Rio reflete “ignorância” e “grosseria”[3].
Imediatamente surgiram as versões que contradizem a dos policiais e Secretaria de Segurança Pública do Estado[4]. Familiares e testemunhas afirmam que os jovens no Cabula já haviam sido rendidos, estavam desarmados e foram levados a um campo de futebol ermo e escuro, onde foram sumariamente executados – e o sensacionalismo mórbido publicou vídeo [5] mostrando alguns dos cadáveres em que se viam diversas marcas de espancamento. Afirma-se que os assassinados tinham envolvimento com o tráfico, mas já estavam rendidos: a ação, portanto, seguiria a lógica nefasta e homicida de segurança pública que tem sido mantida pelo governo estadual nos últimos 8 anos de governo petista: a de executar “os suspeitos” (pretos ou quase pretos de tão pobres) sem direito a julgamento.
As declarações do governador do Estado, que afirma não haver necessidade para investigação dos excessos e nem para afastamento dos responsáveis reforça a cumplicidade deste governo com a política de extermínio da juventude negra na periferia e a falta de políticas consequentes para enfrentar o poder paralelo do tráfico de drogas. Mais ainda: só levam a colocar em risco a vida de outros dois “suspeitos” que ainda se encontram hospitalizados.
Em Salvador, cidade mais negra do país, é extremamente arriscado ser negro, ainda mais vivendo na periferia. É comum se ouvir que as pessoas nestes locais tem medo da polícia, medo dos homicidios, dos “autos de resistência”, instrumento arcaico ainda utilizado pela Corporação para justificar os seus excessos e sua violência. Medo dos desaparecimentos, como foi o caso do menino Davi Fiúza, desaparecido no ano passado e ainda não encontrado por seus familiares, que juntamente com esta nova ocorrência, está sendo denunciada pela Anistia Internacional.
Num momento em que este modelo de segurança pública falido está sendo discutido pelos movimentos sociais, é importante tratar este caso com o nome correto: CHACINA. E o silêncio da militância que tanto se esmerou no segundo turno das eleições é inadmissível: faz coro aos argumentos mais retrógrados da linha “bandido bom é bandido morto” para justificar execuções sumárias. Este sim é o verdadeiro jogo da direita.
O silêncio petista é conivente com o genocídio da população negra. Para o JUNTOS a Chacina do Cabula é mais um exemplo que este modelo de segurança é homicida: a guerra às drogas segue matando a juventude negra da periferia. Enfrentar o debate da desmilitarização da polícia, exigir a apuração da operação policial e garantir a vida ddos sobreviventes e o direito a um julgamento é questão de assumir um lado. E nós temos: Estamos JUNTOS! com os que se indignam, fazendo coro ao movimento que explodiu nos Estados Unidos, que afirma #BlackLivesMatter – As Vidas Negras Importam!
[1] “MP-BA investiga ação da PM que resultou em 12 mortes no Cabula”
[2] Secretário defende PMs que mataram 12 em suposto confronto http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1658145-sobe-para-13-numero-de-mortos-em-tiroteio-no-cabula
[3]SSP-SP diz que declaração de Rui Costa sobre violência reflete “ignorância” e “grosseria” http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/ssp-sp-diz-que-declaracao-de-rui-costa-sobre-violencia-reflete-ignorancia-e-grosseria/?cHash=b36ebbbd53d583cf68c4cbe580b061d8
[4] Famílias alegam inocência de mortos no Cabula: “eles protegiam a gente. Temos medo é da polícia” http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/dois-sao-mortos-em-novo-confronto-com-a-rondesp-familias-alegam-inocencia-de-mortos-no-cabula/?cHash=5c7fa7353f76f5e3b96742f23bb0878a
[5 IMAGENS FORTES: vídeo mostra bandidos mortos durante confronto com a polícia em Salvador http://bahianoar.com/n/imagens-fortes-video-mostra-bandidos-mortos-durante-confronto-com-a-policia-em-salvador#.VNql9N-c08o
*Danilo Marques é estudante de Direito na UNEB (Cabula) e do Juntos! BA
Maíra T. Mendes é professora da UESC e militante do PSOL/BA