Nossos sonhos não serão encarcerados! Não queremos a redução!
Nossa juventude vai voar alto, cada vez mais alto, pra que um dia não possamos ter a nossa juventude ameaça por aqueles que já nos sentenciam a morte em cada subida no morro. Pra todos esses dizemos em alto e bom som: não à redução da maioridade penal.
Hoje acordei apreensivo, como se fosse um dia que poderia terminar no mesmo momento em que acordei que não faria a menor importância. Mas faz e tem muita importância, porque hoje é o dia que querem institucionalizar o nosso retorno a um mundo em que só podemos observá-lo pode detrás de grades.
Hoje será votado na Câmara dos Deputados o projeto 171/93 que dispõe sobre a redução da maioridade penal no Brasil. Talvez a maioria da população brasileira não tenha percebido que esse projeto não se destina a toda juventude – ou tenha preferido observar o mundo apenas da ótica de quem sofre a violência urbana pelas mãos do bandido visível, aquele que aos olhos do estado sempre foi um cidadão invisível para as políticas públicas.
Esse projeto visa a mudança constitucional, mas em contrapartida só reafirma a manutenção da seletividade penal e do status quo. Não podemos nos enganar que a redução da idade penal tem um destino certo: a juventude preta de periferia. Nesse momento de avanço das pautas conservadoras, o parlamento agora ataca brutalmente os direitos da população negra, porque somos nós que eles não querem ver nas universidades, nos aeroportos e em qualquer outro lugar que possamos ocupar o que sempre nos foi negado.
Uma centena de argumentos, baseados em pesquisas sérias sobre segurança pública já foram usados contra a redução da maioridade penal e todos os deputados que levantam essa pauta no parlamento são convencidos disso, logo, isso só pode nos afirmar uma coisa: a questão não é segurança pública, eles de fato não estão nem ai pra segurança pública, eles querem legislar e legitimar uma política de extermínio e completa exclusão social da juventude negra.
O estado, que por sua própria essência de dominação de classe – e quando se afirma a classe, obviamente se inclui o caráter racial porque a maioria da população pobre é preta – vem então deslegitimar a sua responsabilidade com a nossa juventude. Vem legalmente afirmar que não se importa com o futuro de pretos marginais de qualquer política pública, que pra nós é garantido a invisibilidade política, social e agora, territorial.
Não consigo acreditar que a maioria da população que diz propagar o amor mediante valores religiosos possa realmente sonhar com uma sociedade em que as crianças estejam no banco dos réus e não da escola.
No fim de tudo, mesmo com tanto ódio contra o nosso povo nós iremos resistir como sempre fizemos. Não conseguirão tirar o nosso futuro que foi conquistado a duras lutas por nossos ancestrais. Queremos e lutaremos pra ter o nosso povo vivo e cada vez mais organizado na luta contra esses retrocessos. Nossa juventude vai voar alto, cada vez mais alto, pra que um dia não possamos ter a nossa juventude ameaça por aqueles que já nos sentenciam a morte em cada subida no morro.
Pra todos esses dizemos em alto e bom som: não à redução da maioridade penal.