Um SIM à igualdade no coração do capitalismo!
Ativista do Juntos! LGBT – DF escreve sobre a aprovação do casamento igualitário nos USA.
A dois dias do 28 de junho, o movimento LGBT estadunidense conquistou uma das mais importantes vitórias em seu país, garantindo que neste próximo Dia Internacional do Orgulho LGBT as ruas sejam ocupadas com ainda mais alegria e esperança. Isso porque, depois de 46 anos de muita luta organizada, a Suprema Corte dos Estados Unidos, ainda que sob um placar apertado (5 votos favoráveis contra 4 contrários), passou a considerar direito constitucional o casamento entre pessoas de mesmo gênero.
A aprovação do casamento civil igualitário no principal império do capitalismo é uma vitória não só da população LGBT dos Estados Unidos, mas de toda a juventude e toda a classe trabalhadora do mundo. É um passo fundamental para que se combata a ideologia hétero-cisnormativa e o fundamentalismo religioso, ao menos no Ocidente, onde os EUA ainda se fazem passar como a pátria da democracia, exemplo a ser seguido.
Ora, mas por que essa conquista democrática tão óbvia encontrou tanta oposição no país arauto da democracia mundial? Foi preciso quase meio século de luta após a Revolta de Stonewall, quando a partir de 28 de junho de 1969 LGBTs nova-iorquinas/os lutaram por dias e noites a fio contra a violência policial e contra a marginalização e criminalização que lhes era imposta.
O fato é que vivemos atualmente, a nível mundial, uma polarização cada vez mais marcante entre polos conservadores e polos progressistas. Polarização que, a depender de seu resultado, determinará o futuro da juventude e das/os trabalhadoras/es. É dentro desta perspectiva que podemos compreender o porquê de, logo após a decisão da Suprema Corte, manifestações em solidariedade terem começado a pipocar no facebook, principalmente pela aplicação de filtros com a bandeira LGBT nas fotos de perfil. E podemos compreender também a importância de que até heterossexuais cisgêneros tenham adotado a ideia e contribuído para colorir a rede social, o que deve ser percebido como uma pequena demonstração da força que o movimento pode conquistar quando temos o apoio dessa grande parcela da população. Se protagonismo é fundamental para garantir representatividade e construirmos nossas pautas, a solidariedade das pessoas não-LGBTs é imprescindível para que tenhamos vitórias. E esta solidariedade tem nome: é solidariedade de classe, pois se somos diferentes em nossas individualidades, somos todas/os dominadas/os e exploradas/os pela mesma sociedade capitalista.
Agora, nossa tarefa deve ser canalizar este apoio também para fora dos computadores, para a luta real. Nos EUA, a juventude deve usar essa vitória para avançar em outras pautas de direitos humanos, principalmente no que concerne à luta contra o racismo e contra a xenofobia. No Brasil, permanece a violência policial contra travestis e mulheres transexuais, principalmente as que veem na prostituição a única forma de sobreviver. A tortura e humilhação de Verônica Bolina e, mais recentemente, o assassinato de Laura Vermont, ambas vítimas de policiais, são apenas os casos mais conhecidos, mas estão longe de serem os únicos. É preciso também que o apoio popular seja utilizado na luta contra o fundamentalismo, que agora tem em Eduardo Cunha uma de suas principais figuras. Da mesma forma como conseguimos massificar o “Fora Feliciano” e derrubar o nefasto projeto de “cura gay”, podemos nos contrapor a Cunha, seus projetos de “Orgulho Hétero” e criminalização da “heterofobia”, sem deixar de notar o quanto o ajuste fiscal aplicado pelo Governo Dilma, composto pelo mesmo Eduardo Cunha, também prejudica a grande parcela LGBT da classe trabalhadora e da juventude.
E usar essa solidariedade das massas para as lutas que ainda devem ser vencidas é uma necessidade urgente, pois se a aprovação do casamento igualitário é uma conquista necessária para assegurar a realização de um Estado laico e de uma democracia um pouco menos hipócrita, é preciso que afirmemos também que não é uma conquista que atinge a toda a comunidade LGBT e nem que assegura, por si só, uma realidade menos LGBTfóbica, principalmente nas periferias. No Brasil, o casamento igualitário tornou-se realidade a partir de decisão do Conselho Nacional de Justiça, que desde 2013 normatizou os cartórios a realizarem casamentos civis para casais de mesma identidade de gênero. Ainda assim, permanecemos sendo o país onde pessoas LGBTs mais são assassinadas em todo o mundo. Portanto, ainda que até alguns setores liberais da direita (como o próprio Partido Democrata de Obama) encampem a defesa dos direitos civis LGBTs, não será este o setor que encampará a luta por direitos sociais a essa população, com uma Educação sem LGBTfobia, por ambulatórios para pessoas trans, assegurando-lhes o direito à Saúde pública, por casas-abrigo para crianças e adolescentes LGBTs expulsos de casas por suas famílias, dentre diversas outras pautas.Tudo isso exige priorização do Governo com políticas sociais inclusivas, ou seja, exige que o orçamento público deixe de ser usado em prol das elites. E tudo isso só será conquistado caso a juventude e as/os trabalhadoras/es LGBT, tendo ao lado a sua própria classe em luta, consigam derrotar a onda reacionária que cresce em todo mundo. Sigamos em frente até o fim!