Teste seu psicológico: Seja Negro
Já se perguntou por que, ao inverso do Brasil, os outros países da América Latina são predominantemente brancos?
O Brasil é o país mais negro da América Latina como resultado de 500 anos bem articulados de escravidão. O tráfico negreiro, que resultou no sequestro, estupro e desumanização de milhões de ancestrais fundadores deste país, deixou como herança além da resistência, um sofrimento que rompe gerações, adapta-se e mostra o quão cruel foi esse meio milênio de exploração. Mas como todo país escravista após a concretização do processo abolicionista, o Brasil passou para uma fase compulsiva de branqueamento resultando no extermínio do povo preto.
Já se perguntou por que, ao inverso do Brasil, os outros países da América Latina são predominantemente brancos?
Mesmo havendo tráfico de escravos nesses países também, podemos concluir que eles tiveram sucesso no projeto de extermínio de negros, no qual nos perseguiram e colocaram como linha de frente em suas guerras, embora sem armas. Além da negação de cidadania e outros métodos. A única diferença é que, no Brasil, pelo tempo que a escravidão durou e a demanda de negros sequestrados que o país recebeu, tornou este processo prolongado e atual.
Aqui vivemos o projeto de extermínio da população preta em tempo real, do primeiro código civil ao atual, constata-se o objetivo do Estado de aprisionar e matar os nossos. A educação para essa parte da população sempre foi negada; a saúde é inexistente para esta demanda. É um projeto vigente cheio de artimanhas para punir os sobreviventes da escravidão sem dó, desencadeando o poder do racismo a fim de castigar seus descendentes. Culpando-os por terem nascido negros.
Monteiro Lobato disse: “A mestiçagem foi maldição que os negros deixaram pela escravidão” e Gilberto Freire disseminou: “Brasil país de todas as raças e cores, país da miscigenação”. E nós, pretos, vivemos dizendo que somos pardos para tentar valorizar a mistura que nos torna mais brancos a cada nomenclatura: “Moreno jambo”, “Encardido”, “Sem cor”. Lidamos com todos esses ataques buscando uma forma de amenizá-los. Neusa Santos chamou este processo de “Tornar-se gente”: negamos o que somos para sobreviver a uma sociedade que nos odeia.
Desde que nascemos somos obrigados a ser acostumarmo-nos a ser maltratados e naturalizamos, por exemplo, o descaso dos recém-nascidos negros nas maternidades, ignoramos as crianças negras que não recebem atenção da professora no colégio, nos odiamos na adolescência e no final viramos o adulto negro perfeito: aquele que abaixa a cabeça.
E o nosso psicológico estará perdido devido à falta de tratamento que correspondam as nossas demandas. A nós é negada qualquer nomenclatura de doença mental, a não ser doenças ligadas a loucura e que nos exclui mais uma vez da sociedade.
Como a maioria da população brasileira teria bulimia se está lidando com a fome? Como entender nossa depressão, se ao menos podemos parar de trabalhar para sustentar um país que não nos dá nenhum benefício? Estamos doentes e não podemos sequer ser diagnosticados, será que um dia vamos poder falar seriamente sobre expectativa de vida?
Internalizamos tudo, engolindo um choro atrás do outro e os brancos nos “elogiam” de fortes – como um cavalo que não chia quando é marcado -, tornamo-nos vulneráveis a nós mesmos, depressivos, e, quando não morremos na juventude, somos os cardíacos, diabéticos, hipertensos, fora outras doenças que nos acometem.
É necessário que nós, negras e negros, estejamos unidos e tenhamos paciência com os nossos. – se possível, cursando psicologia para entender nossas demandas. rs – Enquanto os brancos aliados nesta luta seguem com o dever de rever seus privilégios e seguirem se policiando. Sobre a luta? Não fiquem preocupados, pois resistimos e sobrevivemos a vocês por gerações. Este é o relato de uma jovem de 20 anos, mais uma vítima da depressão. Filha de outra mulher negra consumida por uma doença mental há cinco anos.
Abaixo estão alguns gráficos que demostram dados sobre a expectativa de vida das mulheres negras em relação as mulheres brancas:
Mariane Duarte estuda História na UERJ-FFP e militante do Coletivo Claudia Silva e do Juntos!