Estudar para lutar, lutar para transformar – Programa de 10 pontos do Juntos! nas Escolas
O Juntos nas Escolas quer chamar cada estudante, em cada escola municipal, estadual, técnica e federal para construir uma luta maior ainda.
Em 2019, os estudantes do Brasil já tinham chacoalhado o país no tsunami da educação, mostrando que mesmo com os ataques que o governo Bolsonaro planejava, nós iríamos revidar. Em 2020, mesmo em meio a uma crise de saúde, econômica e política, não deixamos de lutar: conquistamos o adiamento do Enem, a contragosto do ministro Weintraub, e fomos às ruas colocar um freio no racismo e no fascismo. Em cada luta, os estudantes secundaristas vem compondo a linha de frente, carregando o legado daqueles que derrubaram a ditadura, ocuparam escolas pelo Brasil e hoje declaram guerra aos inimigos da educação. Se hoje estamos conseguindo virar a maré e emparedar Bolsonaro e sua corja, é pela nossa luta que não começou ontem, e não terminará tão cedo.
O Juntos nas Escolas quer chamar cada estudante, em cada escola municipal, estadual, técnica e federal para construir uma luta maior ainda. Os ventos da luta do povo negro nos EUA que se levantam contra a violência policial, dos estudantes chilenos contra a privatização e do próprio povo brasileiro que levanta a cabeça pro nosso presidente fascista podem ecoar em cada escola. Nesse programa, queremos apresentar nossos dez principais pontos de luta, construídos coletivamente por estudantes do norte a sul do país, que pensam e lutam juntos em defesa das suas escolas e por outro tipo de educação. Acima de tudo, esse é um chamado à organização: só a luta muda a vida, e quando estamos Juntos, os poderosos recuam!
1. Educação emancipadora baseada na solidariedade
A nossa prática de educação é baseada na seleção de pessoas ditas “mais capacitadas” e com ideais meritocratas, o que reproduz mais uma forma de exclusão social e que reforça a competição entre os nossos e a ideia de que precisamos ser melhores do que os outros.
Abraçar a ideia do individualismo é concordar com a desigualdade, e derrubar o próximo não faz com que alcancemos a nossa liberdade real. Precisamos fazer a construção de uma educação baseada na solidariedade, na crítica a competição e a meritocracia. Entender que as diversas realidades que compõem o nosso meio devem ser levadas em consideração sempre. Ouvir aqueles que nos cercam, pensar ações coletivamente, combater a postura de diminuição do outro, são atitudes que ajudam a construir uma educação emancipadora.
2. Educação não é mercadoria: contra a privatização da escola
Embora saibamos que o orçamento para a educação pública seja extremamente insuficiente para garantir um ensino de qualidade ele acaba atraindo a cobiça de diversos setores que buscam nas escolas um caminho fácil para aumentar seus lucros. Somos contra os projetos como os de oferecimento de voucher (vales para estudar em escolas particulares) ou ainda de escolas terceirizadas que buscam transferir dinheiro público da educação para as empresas e institutos, segregando os estudantes e precarizando ainda mais nossas escolas. Estamos na luta contra o projeto Future-se, que abre caminho para a gestão das escolas por organizações privadas. Além disso, somos contra qualquer perspectiva de ensino à distância na educação básica, pois já vimos durante a pandemia que essa é uma alternativa excludente e que prejudica a formação dos estudantes, especialmente dos mais pobres. A escola deve ser pública e a gestão financeira deve estar voltada para a qualidade da educação e não para os lucros de poucos.
3. Educar para libertar
As escolas são espaços de forte pluralidade(indígenas, negros, lgbts, mulheres) e por isso falar da realidade desses diversos atores é trazê -los para os palcos desse debate. Uma escola que não prega somente um ideal de indivíduo(elite), mas que abranja as diversas faces da nossa história e da nossa sociedade, é uma escola que inicia o processo de libertação das pessoas.
Por isso, o nosso papel enquanto atores desses espaços é refletir, discutir com os nossos pares (ou não) e levar essas discussões para dentro da sala se aula- levando em consideração que o processo de ensino-aprendizagem é uma troca mútua entre educador e aluno. Ou seja, discutir pluralidade nesses espaços é um grande passo para romper com a lógica opressora.
4. Contra a militarização: em defesa da democracia das escolas
As escolas são espaços de intensa criação e contestação das desigualdades sociais e grandes injustiças. Por isso mesmo governo autoritários como o de Bolsonaro buscam controlar esses espaços. O projeto de militarização das escolas deve ser combatido pois significa o silenciamento de nossas vozes. Em resposta a ele precisamos aumentar a democracia dentro do espaço escolar com voz e vez para os estudantes e a comunidade escolar em geral, desde os funcionários até a comunidade ao redor da escola.
5. Viemos de longe: estudantes balançam as estruturas no Brasil e no mundo
Tentam todo dia nos convencer que não temos força para causar grandes mudanças no mundo que vivemos. Porém os exemplos da história mostram exatamente o contrário. Desde a Revolução Pinguim no Chile que abalou toda a estrutura neoliberal daquele país até as históricas jornadas de ocupação de escola que derrotaram o projeto de fechamento de escolas em diversos estados do Brasil os exemplos nos mostram que mobilizados os estudantes podem abalar e mudar as estruturas. Por isso defendemos um movimento estudantil combativo e organizado pela base e conectado com as lutas gerais.
6. Por um ensino técnico emancipador e pelo acesso à universidade
Hoje, o ensino Técnico é dado para muitos estudantes de periferia como um dos principais meios de ingressar em uma universidade e no mercado de trabalho, como tem feito as ETECs, FAETECs, IFs, etc. Essas são as instituições que abrem portas para muitos estudantes, visto que, trabalham com um ensino prático, e técnico profissionalizante, e que se tem um maior investimento em suas estruturas de ensino. Devemos lutar por um ensino técnico mais amplo, defendendo o ensino politécnico e emancipador, que trabalhe não só as práticas técnicas, mas também o intelecto por trás delas, para que assim, se diminua o abismo entre a periferia e o centro. Neste período caótico, em que interventores são empossados como reitores nesses espaços, devemos também fazer a defesa intransigente da democracia da comunidade escolar e da educação publica, gratuita e de qualidade!
7. Por escolas plurais que representem as cores do nosso povo
Vivemos em um país continental e diverso de todos os pontos de vista. Por isso é impossível construir um único modelo de escola. A escola que existe no sudeste deve ser diferente da escola do nordeste, assim como a escola urbana é diferente da escola do campo. Por isso mesmo nós do Juntos defendemos o fortalecimento da construção plural das escolas que representem os diversos tipos de produção de conhecimento dos locais e culturas onde estão imersas valorizando as diferentes visões de mundo temos em nosso país.
8. Escola e a luta antifascista
Desde muito tempo o movimento estudantil, que está sendo construído pela juventude combativa, mostrou respostas a altura a ala que se utiliza das opressões sociais para implementar regimes e projetos autoritários. As jornadas de luta em defesa da educação em 2019 mostrou que o ME não sumiu e que agora mais do que nunca está ocupando diversos espaços.
Bolsonaro é a figura que representa o autoritarismo e o neofascismo que combatemos. Por isso, o seu impedimento é urgente, para que nossas lutas contra esse sistema tenha consequências vitoriosas. E isso só será possível se fizermos de todos os nossos espaços uma trincheira de luta, principalmente nossas escolas. Unamos todos os nossos esforços, nossa indignação, nossos debates, críticas, afim de construirmos coletivamente um projeto de superação do que Bolsonaro representa e de todo esse sistema.
9. Livre conhecimento e a cultura da resistência
Entender os princípios da educação inclusiva e popular é fundamental. Abranger diversas formas de conhecimento das pessoas que estão na escola, faz com que o espaço fique mais rico de experiências e rompa os muros que as cerca. Desde expressões artísticas até a expressões de vivências sociais, essas discussões fomentam e enriquecem o conhecimento da juventude. A cultura da periferia, do quilombo, das aldeias; as expressões do teatro, música, dança, circo e tantos outros, tem um poder gigantesco de transformação e tem a capacidade de unir nossas lutas. A escola também deve ter a função de debater as grandes questões da nossa sociedade, entre elas a questão ambiental, colocando a defesa dos nossos rios, florestas mares e da natureza como prioridade, buscando modificar a relação predatória da sociedade capitalista com o meio ambiente. Diante disso, queremos uma escola que reúna essas expressões e conhecimentos, afim de pautar a educação não a obediência à ordem que aprisiona, mas à resistência que liberta.
10. Nossa saída é a organização: Movimento estudantil independente.
Os grêmios estudantis e os Conselhos de estudantes são espaços que precisam ser construídos e ocupados pelos estudantes. Fazer elaboração de políticas de ação de forma coletiva é um grande passo para o êxito da nossa atuação.
Bolsonaro e seu autoritarismo repudiam o ME e os estudantes, por isso precisamos construir um movimento pautado na organização coletiva e fazermos dessa organização um espaço de fortalecimento. É necessário construir ações de solidariedade de classe internacional e que não titubeia em ir a luta.