A Juventude vai refundar a América Latina!
Nosso desafio no bicentenário da América Latina é refundar nosso continente!
A Juventude vai refundar a América Latina!
A marca de 200 anos de independência está chegando por toda a América Latina, enquanto países como a Argentina tiveram suas comemorações nos anos passados, muitas das revoluções independentistas que abalaram o continente fazem seu segundo século de aniversário entre este e os próximos anos como o Peru, México, Guatemala e República Dominicana.
Durante esse período simbólico, a ideia de revolta tem aparecido com força em diversos países. A crise do coronavirus tem mostrado a incompetência e a qual classe os governos tomam lado em todo o mundo. Do Líbano à Catalunha, vemos mobilizações da juventude contra os regimes apodrecidos que pouco se importam para vida do povo – a América Latina não só não é exceção, como é um dos pontos altos dessas lutas.
O ano passado foi um ano de intensas mobilizações por todo continente – houveram importantes disputas da juventude contra os governos que impunham projetos de privatização e cortes na educação; dos povos originários em defesa de seus territórios e na luta em defesa do clima; das mulheres na luta pelo direito ao aborto e contra o feminicídio; da negritude contra o extermínio e a necropolítica. Se organizando de norte a sul, há a procura de novos espaços e formas de organização na construção de políticas antiautoritárias e amplamente democráticas – a revolta no Chile foi símbolo importante da totalidade dessas lutas, bem como também no Equador.
Assim como cresceram as mobilizações, cresceram também a busca por uma alternativa em todo continente. Os representantes da velha esquerda latino-americana não conseguiram, nem conseguem ainda, apresentar um projeto suficiente e nem manter a estabilidade nas negociações com os poderosos – crescendo assim o espaço da extrema direita e da direita liberal, com grandes pacotes de ataques à classe trabalhadora e aos setores já muito precarizados da sociedade. Essa ofensiva autoritária em parte considerável da América Latina demonstra a tentativa de instauração de um mundo da barbárie, da exploração e extrativismo predatório – à medida que moderniza os meios de produção, retrocede nas relações de trabalho, degrada profundamente o meio ambiente, precariza o que é público em projetos privatistas – em nome do lucro e da produção imediata. Porém, onde há ataque, há contra ataque – em um constante movimento de polarização política, cujo resultado dessa queda de braço vai traçar o que será o futuro.
Somente a pandemia foi capaz de dar uma impressão de um retorno à “estabilidade” nos conflitos sociais para consensos em torno da luta contra o vírus, porém, isso durou pouco tempo – a política dos governos, muitas vezes negligentes com seus povos e ainda mais com os povos originários e a negritude – fizeram com que suas contradições se acumulassem para uma nova explosão – a que estamos vivendo agora. Os Estados Unidos foram um ponto alto na contestação antirracista e antiautoritária durante a pandemia, com o movimento de justiça para George Floyd colocando milhares na rua e inspirando o movimento negro pelo mundo todo.
A ameaça de um segundo golpe assombra a Bolívia e, para garantia da democracia, os trabalhadores organizaram uma potente greve geral, estando em marcha novamente os povos indígenas do país, depois de um duro combate ao golpe que se deu ano passado contra Evo Morales. Essa movimentação boliviana é um ponto alto nas lutas populares latino-americanas contra o autoritarismo hoje; além disso, os garífunas, comunidade negra e originária de Honduras, está numa intensa luta contra os sequestros às suas lideranças; no Peru protestos em defesa da Amazônia garantem vitórias contra o Governo que as tenta reprimir. Internacionalmente, representações de todos países da região amazônica criaram a Assembleia Mundial da Amazônia, para fazer uma jornada de lutas contra as queimadas, extrativismo predatório e os governos que permitem as elevadíssimas taxas de morte nas regiões amazônica antes e depois da pandemia, que tem no dia 28 desse mês um marco importante dessa luta internacionalmente. São diversos novos espaços – nacionais e internacionais que voltam a ser reorganizados, no qual o Brasil não é exceção com suas lutas antirracistas e antifascistas e dos entregadores de aplicativos.
É um novo momento que estamos vivendo em nosso continente e a juventude é protagonista em todas essas mobilizações, atuando como organizadora e vanguarda. Temos um grande desafio em refundar espaços internacionais de troca e organização e, especialmente, encontrar sentido comum desse processo de lutas latino-americanas, entendendo que os espaços da antiga esquerda não mais representam ou são capazes de organizar essas lutas. Para barrar o autoritarismo é importante fazer com hierarquia o movimento contrário: construir espaços de ampla democracia e participação. O internacionalismo é uma das nossas principais armas no desafio de fortalecer nossas lutas a partir desse instrumento e organizar nossa solidariedade concretamente ativa às mobilizações em curso. A construção da Assembleia Mundial da Amazônia, as construções antifascistas e nossas mobilizações nas embaixadas hondurenhas são exemplos desses caminhos a serem seguidos que temos o dever de fortalecer ainda mais.
Perto da marca dos 200 anos da América Latina é necessário como nunca que a juventude refundá-la a partir da mobilização dos 99%. Precisamos reinventar as lutas, temos um imenso desafio no Brasil e em todo continente, de conectar indignações e criar uma nova alternativa feita pelos de baixo. América Latina das mobilizações e das lutas sociais afirma um novo programa, antiautoritário, antirracista, anti-imperialista e ecossocialista. Fortalecer esse movimento, de forma ativa construindo e conectando nossas mobilizações com o resto do continente é nosso grande desafio nesse bicentenário por uma refundação da América Latina!