Por que eu sou favorável às manifestações de rua dia 29 de maio?
Manifestação em Junho de 2020 em Porto Alegre - Foto de Cristiano Dalcin

Por que eu sou favorável às manifestações de rua dia 29 de maio?

Com razão, muitas pessoas se preocupam com manifestações de rua no período delicado da pandemia em que vivemos, mas vou apresentar alguns argumentos pelos quais eu sou favorável, respondendo aos questionamentos que já me fizeram.

Rodrigo Rosa 24 maio 2021, 19:19

Com razão, muitas pessoas se preocupam com manifestações de rua no período delicado da pandemia em que vivemos, mas vou apresentar alguns argumentos pelos quais eu sou favorável, respondendo aos questionamentos que já me fizeram.

 1. Favorável à manifestação x Contrário ao Retorno da Aulas (Incoerência?)

Questiona-se a saída às ruas com o argumento de ser contrário ao retorno das aulas, apresentando uma possível incoerência. 

Pra mim não há incoerência alguma. 

O retorno às aulas expõe crianças, professores e demais profissionais da educação de maneira bastante diferente de uma manifestação de rua.

Em uma manifestação de rua é plenamente possível manter os protocolos de segurança sanitária. Como exemplo, cito a manifestação antirracista organizada pelo movimento negro de Pelotas lá no início da pandemia, mesmo em um período onde não se tinha tanto conhecimento, todos os protocolos de segurança sanitária foram seguidos e nenhum caso de conversão positiva para COVID-19 foi notificado.

Já no caso das escolas, dadas as condições precárias em que muitas se encontram e mesmo pela faixa etária das crianças que demandam um esforço enorme das profissionais da educação para que sejam seguidos os protocolos de segurança sanitária. Por isso não concordo com a volta às aulas sem antes haver a vacinação em massa. 

 2. Manifestações respeitando protocolos de segurança sanitária x Manifestações sem o respeito dos protocolos de segurança sanitária

Outro argumento que surge é com relação à incoerência por defender uma manifestação no dia 29 de maio e repudiar manifestações pró-governo.

Não vejo incoerência alguma e vou explicar porquê.

Como argumentei no ponto anterior, é plenamente viável organizar uma manifestação que siga à risca todos os protocolos de segurança e já tivemos exemplos de como pode dar certo se bem organizada. 

As manifestações pró-governo são absolutamente contrárias aos protocolos de segurança sanitária, trata-se da defesa do negacionismo. Os manifestantes, cúmplices do genocídio, não estão preocupados com distanciamento, uso de máscaras e álcool em gel, estão se manifestando pelo direito de não adotarem tais protocolos, inclusive.

3. É momento de sair às ruas? Não temos vacinas!

Enquanto outros grandes países vacinam em massa, é bem verdade que nós estamos a passos lentos.

Acontece que a política de Bolsonaro é justamente essa, trata-se da expressão máxima da necropolítica. Já estamos sendo obrigados a sair às ruas para trabalhar e salvar a economia. 

O #fiqueemcasa nunca foi uma possibilidade para quem mora na vila porque o governo não garantiu segurança alimentar, pagamento de uma renda básica decente que tornasse o #fiqueemcasa uma realidade para todos e não apenas um privilégio de alguns ou ainda, um jargão elitizado para muitos. É importante ressaltar que sou a favor sim das pessoas ficarem em casa, mas para isso é preciso garantir a segurança alimentar das famílias pobres, garantir que tenham, pelo menos, o que comer e como pagar as contas. 

Sair às ruas dia 29 serve para isso, para denunciar as políticas genocidas de Bolsonaro, denunciar a sua necropolítica e combater os cortes na educação. Do contrário, continuaremos inertes, lamentando as mortes de pessoas próximas, assistindo ao desmonte das políticas públicas pelo governo, o sucateamento e até inviabilização da universidade pública, culpando os outros por terem votado em A ou B, postura com a qual não compactuo! 

4. Derrotar Bolsonaro nas ruas!

Muitos têm manifestado esperança nas eleições de 2022 como método para derrotar Bolsonaro. Depositam em Lula a tarefa de derrotá-lo nas urnas. Eu não sou tão otimista a tal ponto de acreditar convictamente que isso dará certo pura e simplesmente assim. Apesar de saber que eleição é um processo burguês de se fazer política, acredito que ela expresse em alguma medida o que a população anseia.

Mas onde pretendo chegar é no seguinte: para que seja possível uma derrota de Bolsonaro nas urnas é preciso que sua derrota esteja expressa em parcela significativa da população antes mesmo da eleição.  A exemplo disso trago o caso dos EUA, que derrotou Trump muito pelo fato das mobilizações de massa que denunciaram o racismo e também o caso do Chile, que após muita mobilização de rua derrotou o projeto liberal que estava em curso desde a era Pinochet, dentre outros exemplos internacionais. 

O que digo com isso é que não adianta a eleição ter Lula ou qualquer outro se não tiver condições que sejam favoráveis à derrota de Bolsonaro expressa nas ruas e no conjunto da população. 

São estes alguns dos argumentos pelos quais sou favorável à manifestação de rua no dia 29 de maio. 

Por fim, política não se faz só em momento de eleição. Política se faz nas ruas.


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