Juventude é Revolução!
Ato em defesa da UFRJ em maio

Juventude é Revolução!

Tese do Coletivo Juntos! ao Congresso Extraordinário da UNE

Juntos! 10 jul 2021, 19:17

Estamos vivendo um dos momentos mais duros da nossa história recente. A crise que já existia no Brasil antes da pandemia, se soma com a situação que enfrentamos desde março de 2020. Familiares e amigos que se foram pela COVID-19, planos que ficaram pelo meio do caminho e quase 20 milhões de brasileiros vivendo sob insegurança alimentar. Não é à toa que quase metade dos jovens brasileiros, caso tivessem oportunidade, gostariam de sair do país: mais de 56% estão sem emprego e mesmo aqueles que estão dentro da universidade têm suas perspectivas de vida marcadas pela incerteza e pela desesperança. 

Jair Bolsonaro, um dos maiores responsáveis por esse cenário catastrófico, é um verdadeiro criminoso que está à frente da presidência do país. A cada dia que passa, com os escândalos de corrupção e da CPI da COVID, fica mais comprovado que o projeto autoritário e negacionista do governo é um projeto de morte da população brasileira, sobretudo daqueles que tiveram que seguir todos os dias enfrentando os trens e ônibus lotados para garantir a sua sobrevivência. Mas não é um negacionismo qualquer, sua política genocida, de atrapalhar o combate à pandemia, foi para garantir o lucro de sua corja de aliados e sua familícia corrupta. 

Sabemos também que a crise que se aprofundou com a COVID-19 não é exclusividade do Brasil. Ela também levou às ruas a juventude e demais setores oprimidos de diversos países. Como foi no Paraguai e tem sido até hoje na Colômbia, país que vive uma rebelião contra um dos poucos aliados de Bolsonaro que ainda permanecem no poder, Ivan Duque, e que mesmo sob forte repressão e sob a revogação da reforma trabalhista, a luta continua. No final do ano passado, mesmo sendo o país com mais mortos proporcionalmente na América Latina, a juventude peruana parou o país e conseguiu impedir um golpe do Congresso que tentava impor um presidente ilegítimo. Tivemos também a derrota de Trump nos EUA, que sem dúvida só foi possível pelo fortalecimento dos movimentos que pautaram o país no Black Lives Matter. Além do próprio Chile que, em 2019, viveu um amplo processo de lutas e colocou de uma vez por todas a constituição pinochetista na lata do lixo.

Todos esses processos nos mostram como a luta nas ruas pode mudar o rumos da história em nossos territórios e no mundo. A juventude, por mais que esteja sendo duramente atacada pelo governo, é também um dos atores mais dinâmicos e expressivos para colocar a indignação na rua e ecoar o grito por um outro futuro. Por isso, nossa organização é essencial para impor derrotas ao bolsonarismo e construir um novo projeto de sociedade.

E é neste cenário de mobilizações contra Bolsonaro que acontece o Congresso Extraordinário da UNE. Com uma crise do governo que se aprofunda a cada dia. A cada novo fato, fica explícito que o governo não só foi displicente com a pandemia ao não garantir isolamento social, negar a compra de vacinas, mas sobretudo fazer das vacinas um negócio. Segundo o ex-reitor da UFPEL, Pedro Halau, pelo menos 400 mil mortes poderiam ter sido evitadas caso não vivêssemos sob o governo genocida. Hoje o que ainda dá sustentação ao governo, é sua relação com o chamado “centrão”, com o orçamento paralelo e a agenda privatista que já vendeu e a Eletrobrás e quer também vender os Correios. Mas Bolsonaro tem perdido mais e mais espaço, com alto índice de rejeição e com o deslocamento de setores que antes o apoiavam.

Isso só tem sido possível porque as ruas voltaram a ordem do dia. Inicialmente a partir de uma fagulha acesa pelo movimento negro que foi às ruas no dia 13 de maio em resposta à chacina do Jacarezinho e a situação de violência que vive a negritude do Brasil, se combinando com o protesto contra os cortes na educação convocado pelo DCE da UFRJ no dia 14 de maio, grandes mobilizações nacionais voltaram à cena política, colocando as ruas como um espaço não mais apenas hegemonizadas pelo bolsonarismo. O impeachment está ganhando apoio e a equivocada aposta de desgastar Bolsonaro até 2022 significa ser conivente com as mortes causadas por este governo.

Das ruas nossa resistência e esperança!

Percebendo o enorme desgaste do governo Bolsonaro, causado pelo trauma que as mais de 500 mil mortes no Brasil nos está deixando, com uma situação de grave crise econômica (para os pobres, porque os bilionários no Brasil ainda assim cresceram), a instauração da CPI da COVID, Bolsonaro perdendo apoio e setores sociais que já estavam se movimentando (como o movimento negro e estudantil), o Juntos! apostou todas suas fichas no dia 29 de maio, acreditando que poderiam ser grandes mobilizações. E não apenas foi um grande dia, convocado de forma unitária por movimentos sociais e partidos políticos, como depois com a jornada do 19J e 3J ampliou sua adesão e apoio na sociedade. 

Foram centenas de cidades, das grandes às médias e pequenas, que se mobilizaram pela consigna clara pelo impeachment imediato de Bolsonaro. Os povos indígenas que resistem há mais de 500 anos, também protagonizaram uma mobilização nacional contra o governo ecocida. A luta em defesa do território, contra o PL 490 é fundamental, e o conjunto do movimento estudantil deve estar presente na construção dessas mobilizações. Os estudantes indígenas também enfrentam uma luta pela assistência e permanência estudantil, com suas bolsas atrasadas que fazem com que esses estudantes não consigam permanecer no espaço acadêmico. A nossa luta deve ser em defesa da Amazônia, do território e da ocupação de todos os espaços.

Nós não temos dúvida que as ruas precisam ditar a dinâmica do futuro desse governo. Mais do que um fato de “pressão” à CPI e ao Congresso, são as ruas e o movimento de massas que precisam dizer qual o futuro de Bolsonaro. Nessa tarefa, a juventude e o movimento estudantil cumprem papel central, porque temos sido a maioria daqueles e daquelas que têm ido às ruas. É progressivo que mais setores estejam se somando aos atos (inclusive alguns que já estiveram com Bolsonaro) porque nosso principal desafio neste momento é construir maioria social que tenha forças para derrubar o governo. Que deve sair da presidência direto para a cadeia por ter sido responsável pelo assassinato de centenas de milhares de brasileiros.

Para isso devemos estar em mobilização permanente, fazendo do movimento estudantil um movimento social, que chama para si a responsabilidade não só de mobilizar nossas universidades, convocando reuniões, assembléias e incorporando cada vez mais setores, mas também em unidade com a juventude trabalhadora e precarizada que tem sido diretamente atingida pela falta de perspectiva de vida. 

Nem um de nós a menos nas universidades!

A educação no Brasil vive uma crise sem precedentes! Desde o início de seu governo, Jair Bolsonaro elencou a educação, as universidades e os estudantes como seus inimigos. Não à toa o presidente, ao falar que nas universidades só se fazia balbúrdia, buscou abrir caminho para ataques e cortes no orçamento da educação pública superior, mas também desmoralizar quem hoje é linha de frente no enfrentamento a esse governo: o movimento estudantil. Mas nós estudantes por todo o país respondemos em alto e bom tom que não íamos aceitar ataques de Bolsonaro às nossas universidades e construímos o gigante Tsunami da Educação, que derrotou o governo e Weintraub. Porém, as investidas de Bolsonaro contra a educação continuaram. Em 2020, o MEC foi responsável por realizar em meio a pandemia o ENEM mais desigual da história, com uma taxa de evasão maior a 50%. Neste ano, corremos o risco de o ENEM não acontecer, por falta de verbas, ao mesmo tempo em que o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, quer censurar as provas do ENEM, impondo um verdadeiro controle ideológico do bolsonarismo sobre o exame. 

Hoje, o cenário para as universidades públicas é devastador. Em maio deste ano, a  sociedade foi sensibilizada com a possibilidade de inúmeras universidades federais terem que fechar suas portas até o fim do ano por falta de verbas. O movimento estudantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro foi pioneiro ao ocupar as ruas para resistir a mais esse ataque e também foi parte do exemplo para que os estudantes de todo o país voltassem para as ruas em defesa das universidades e pelo Impeachment de Bolsonaro. 

O projeto que Bolsonaro e os governos estaduais têm para as universidades é o sucateamento completo, que não afeta somente o ensino e a produção de pesquisa no país, mas por não garantir permanência estudantil para todos pode expulsar os estudantes que depois de anos de luta agora são maioria em nossas universidades: pobres, periféricos, negros, negras e indígenas. E o Ensino Remoto precário e improvisado que estamos tendo que enfrentar ao longo dessa pandemia também aprofunda a crise nas universidades. São milhões de estudantes que não têm acesso digno a internet ou a equipamentos digitais, e que por esse motivo e também por falta de apoio durante a pandemia, cortes em bolsas e auxílios, acabam tendo que abandonar o sonho da universidade, como mostram os crescentes números de evasão. Por outro lado, a solidão do EAD e a falta da sociabilidade presencial, somada à crise econômica e a falta de perspectivas de futuro para juventude, está aprofundando quadros de adoecimento mental entre alunas e alunos. É urgente lutar para que o Ensino Remoto não seja mantido mesmo após o fim da pandemia como mais uma ferramenta dos governos e das reitorias de precarizar o ensino e as universidades.
  Com a efetivação de mais cortes na educação (que estamos vivendo desde 2015!!), a educação tem o pior orçamento para a assistência estudantil da década, cortando bolsas, auxílios e deixando inclusive estudantes sem alimento nos alojamentos estudantis. O orçamento de 2021 para a educação é o pior desde 2007. Há dez anos atrás, quando a Lei de Cotas ainda não estava efetivada e o número de estudantes era significativamente menor, o orçamento era de 38,84 bilhões. Hoje, é de apenas 33,35 bilhões, possuindo ainda uma parte dependendo da aprovação de crédito suplementar. 

Ainda que esse ataque não tenha iniciado no governo Bolsonaro, ele se aprofunda porque sabemos muito bem quais os interesses por detrás da destruição das universidades públicas: excluir os setores populares, filhos da classe trabalhadora, negros e negras e indígenas do banco das universidades. Nossa permanência na universidade está ameaçada, visto que também somos a maioria dos que não conseguiram permanecer acompanhando as aulas remotas. Temos uma tarefa central desde já que é defender a renovação da Lei de Cotas que será debatida no ano que vem. Precisamos defender esse direito tão fundamental que transformou as universidades. A UNE também precisa impulsionar em cada base e disputar apoio da sociedade a reversão imediata dos cortes e a disputa pela ampliação do orçamento da educação (com o fim da PEC do Teto de Gastos e a Taxação das Grandes Fortunas, prevista na Constituição de 1988, para financiar a educação). 

É necessário dizer que por detrás deste projeto de desmonte, que é também autoritário, visto que mais de 20 instituições federais estão sob intervenção do governo Bolsonaro, tendo suas eleições desrespeitadas, visa favorecer os grandes conglomerados da educação, como foi a tentativa de implementação do Future-se. As universidades privadas, que possuem ainda a ampla maioria dos estudantes brasileiros, assistiram a ampliação da precarização da educação no período da pandemia. A mecanização das aulas chegou ao ponto de fazer com que os estudantes tivessem aulas com robôs e não mais professores. E é este modelo que se quer implementar também nas universidades públicas, que foram tão fundamentais neste período da pandemia, com seus Hospitais Universitários, produção de EPI’s, respiradores e inclusive vacinas.

 Estudantes na linha de frente da construção de uma alternativa!

O preço que se paga hoje pela vida do povo é a permanência de Bolsonaro no poder. Por isso, estamos convictos de que não há outra forma de barrar a curto prazo todos os retrocessos que mencionamos acima que não passe pela queda de seu governo criminoso ainda em 2021. Os 120 pedidos de impeachment que se acumulam na mesa de Arthur Lira (PP), à frente da Câmara dos Deputados, são parte de movimentações democráticas importantes (e tão amplas que reúnem até as frações da burguesia preocupadas em se descolar de um presidente à deriva e salvar a pele para as próximas eleições), porém são precisamente inócuas sem que se combinem ao melhor e realmente decisivo remédio para os governos antipovo: a força da classe trabalhadora nas ruas. 

Foi essa força que se refletiu na construção das manifestações que amedrontam o bolsonarismo nos últimos meses, as mais massivas desde que a pandemia se instaurou no país, com forte protagonismo da juventude. A unidade na diversidade – de lutas e organizações políticas – foi também combustível para que chegássemos até aqui, mas mesmo entre os setores da esquerda há os que depositam esforços na continuidade dos atos como alavanca fundamental na derrota imediata do genocida e os que apenas parecem ensaiar uma campanha de oposição que lhe seja útil para a disputa presidencial de 2022, tática do campo petista que forja a candidatura de Lula na esteira da desmobilização do movimento de massas.  

Existem pelo menos dois problemas no segundo caso. Um é que há um longo caminho até as próximas eleições e muito espaço para que mais tragédias derivem da gestão de Bolsonaro. Se trata de um cálculo diretamente proporcional: quanto antes o tirarmos, mais vidas poderão ser poupadas. Há que se ter responsabilidade e justiça com as mais de 500 mil famílias que perderam seus entes queridos. Outro é que o cenário eleitoral será profundamente afetado pelo o que acontece também agora. Sustentar efetivamente os protestos, não unicamente ancorados no caráter espontâneo deles, mas inflando seu alcance via convocação das entidades estudantis, sindicatos e movimentos sociais, nos ajuda a cavar em 2022 com uma nova consciência política – a de que o povo não se permite dobrar à quaisquer governos que massacrem nossa classe. Portanto, impulsionamos toda unidade de ação contra Bolsonaro, uma vez que o que nos une está fundamentado em uma defesa civilizatória, mas tão somente uma saída anticapitalista e gestada pelas manifestações populares será capaz de superar o seu projeto. 

À juventude não interessa uma dita esquerda que não bata de frente com as contradições que têm origem no próprio mecanismo de funcionamento do sistema. A crise tende a se agravar e não será suficiente uma agenda reformista para assegurar as condições mínimas para as nossas vidas. Precisamos de um programa que exija a taxação das grandes fortunas dos ricaços que seguiram lucrando durante a crise sanitária; que paute uma política de segurança alternativa ao extermínio da população negra; que respeite os povos tradicionais; que denuncie a política capitalista ecocída; que defenda de maneira intransigente o SUS, a educação pública e os nossos patrimônios estatais; que enfim tenha a coragem de tocar no âmago dos nossos problemas. 

10 anos de Juntos!: a unidade na diversidade da juventude que não aceita a miséria do possível 

O  Juntos! faz 10 anos em meio ao auge da luta contra Bolsonaro, fazemos parte da geração que acredita que a luta pode ser feita por muitas mãos, com o sentido coletivo do que significa sobreviver em um governo genocida e a esperança de construir um mundo que nem um de nós conheceu, mas que muito vale o que será construído. O incansável está na certeza de que a unidade existe quando enxergamos as muitas formas de resistir e enfrentar, com cada Centro Acadêmico e Diretório Central dos Estudantes pelo país, com os cursinhos populares, cada batalha de hip hop pelas periferias brasileiras e escolas de samba que não fizeram carnaval esse ano, nosso ponto de encontro é a solidariedade coletiva para sobreviver ao caos bolsonarista e a fúria a cada indignação consequente do governo federal.

A unidade para nós é para além dos marcos eleitorais de 2022, ela é o presente que assegura um futuro diferente. A juventude é o ponto mais dinâmico e diverso da sociedade, somos mulheres, LGBTs, negros e negras, indígenas e todos aqueles que se desafiam a construir uma sociedade anticapitalista, antirracista, feminista e ecossocialista, em que nem um sangue inocente seja derramado e seja livre de qualquer tipo de opressão e exploração. A juventude que derrubou a ditadura militar no Brasil, hoje é a juventude que se faz linha de frente de todos os gigantes atos contra Bolsonaro que ocuparam as ruas desde o início do seu governo e que decretarão o seu fim.

.No próximo período, devemos seguir construindo agendas de mobilização. Na nossa avaliação foi um erro, depois do 19J, ter chamado o próximo ato apenas para 24 de julho. Felizmente a própria dinâmica acelerada da conjuntura demonstrou que seria um erro não aproveitar a fragilidade deste governo e seguir indo de forma mais frequente às ruas. Nesse mês de julho, já temos o dia 13, que está sendo convocado por categorias como a FASUBRA, os Correios e a Frente Nacional de Luta no campo e na cidade e o dia 24, para ser mais um dia nacional de grandes mobilizações contra Bolsonaro. 

A UNE precisa ser parte disso, mas entendendo que precisamos de novos métodos de construção. A juventude não quer mais só assistir, quer ser protagonista. Precisamos expandir as convocatórias desde as bases que estamos, construindo assembleias participativas e chamando aqueles que estão indo às ruas para debater os rumos da luta. A luta à quente que o Brasil vive, precisa acumular para a auto organização dos estudantes, entendendo que nossos desafios também não terminam com a saída de Bolsonaro da presidência. Como sempre cantamos e pulamos nas ruas: juventude é revolução! 


Últimas notícias