Nota do Juntos! USP: O negacionismo de Ricardo Felício não pode ter lugar na universidade
Floresta queimando

Nota do Juntos! USP: O negacionismo de Ricardo Felício não pode ter lugar na universidade

Ricardo Felício, responsável por ministrar as disciplinas de Climatologia II e Mudanças Climáticas no curso de Geografia da USP, candidato a deputado pelo PSL em 2018, têm posicionamentos reconhecidamente negacionistas que se opõe a influência humana nas transformações da composição atmosférica.

Juntos USP 30 ago 2021, 19:32

Durante a última semana, o Departamento de Geografia da USP foi, uma vez mais, alvo de manchetes de jornais, como o Globo e o Uol. Infelizmente, as matérias tratavam de uma história que já está bem mais velha do que deveria. Os textos versavam sobre a  situação do atual professor Ricardo Felício, responsável por ministrar as disciplinas de Climatologia II e Mudanças Climáticas no curso de Geografia da Universidade de São Paulo.

O referido professor tem sido motivo de vergonha para todos os membros do Departamento de Geografia da USP há algum tempo. Com posicionamentos reconhecidamente negacionistas, amplamente divulgados em entrevistas e em suas redes sociais, contesta a influência humana nas transformações da composição atmosférica, fato que a comunidade científica já sabe estar intimamente relacionado com a revolução industrial e o desenvolvimento do capitalismo. Além disso, adota uma postura produtivista e retrógrada que busca descredibilizar qualquer debate de conservação ambiental. 

Não surpreende, portanto, que em 2018, o professor tenha se lançado candidato a deputado federal pelo PSL, assumindo a plataforma de Jair Bolsonaro. Importante lembrar que, nesse período, sem aviso ou preocupação com os alunos e os demais colegas de departamento, simplesmente “sumiu”, negligenciando suas obrigações docentes. Talvez, seu objetivo fosse justamente encontrar no cargo de deputado , um espaço mais adequado para destilar suas crenças incompatíveis com um ambiente científico sério. Felizmente, ele não se elegeu, mas por outro lado, continuou (e ainda continua) no quadro de docentes do Departamento de Geografia. 

Desde 2019, já se tornou frequente o desrespeito do professor com a função que ocupa. Não só se recusa a estabelecer diálogo com seus alunos, cancelando ou simplesmente não aparecendo nos horários de suas aulas, como também gasta boa parte de seu tempo “útil” no Twitter e demais redes sociais, atacando de maneira covarde a universidade pública. Ainda pior, nas redes sim é possível encontrar o professor, dando “aulas” e “cursos” para aqueles que buscam um olhar negacionista para a realidade. 

Com a pandemia do coronavírus, a situação que já era ruim conseguiu piorar. Em um primeiro momento, quando a Geografia foi o primeiro curso da USP a apresentar um aluno contaminado pela doença, Felício, passou a ignorar seus alunos e praticamente abandonou o curso, como se tratasse de um momento sabático. Ao longo da pandemia, se empenhou em acompanhar o discurso do presidente e reiteradamente espalhou mentiras e desinformação sobre vacinas, distanciamento social e sobre o próprio vírus. 

A recusa do professor em ministrar aulas em 2020, sem dar nenhuma satisfação para os alunos ou para o Departamento de Geografia e sem sequer responder às tentativas de contato levaram a abertura de uma sindicância, articulada pelos próprios estudantes e representantes discentes em conjunto com o Departamento, para apurar o caso. O processo inclusive já foi concluído e agora aguarda um parecer da Procuradoria Geral da universidade.

Em um momento em que a universidade pública é, ao mesmo tempo, alvo de ataques de uma política fascista e neoliberal e também uma instituição de grande importância na conscientização e superação da pandemia, esse caso emblemático e que muito envergonha um departamento com enormes contribuições para a sociedade precisa ser levado às últimas consequências. Por isso, nós do coletivo Juntos! achamos da maior importância a iniciativa que foi tirada pelo Centro de Estudos Geográficos Felipe Várea Leme, em conjunto com a direção do Departamento de Geografia, em implicar o professor em uma sindicância que pode resultar em um processo administrativo. Para além disso, acreditamos na mobilização dos estudantes da geografia como instrumento fundamental para levar o processo adiante. É através de uma luta organizada que poderemos impedir que a universidade se torne um palco para os fascistas e seu negacionismo.


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