O que é fazer política revolucionária?
Foto: ROGGE/ ULLSTEIN BILD / GETTY IMAGES

O que é fazer política revolucionária?

Em um momento onde a rejeição ao Bolsonaro cresce e parte das direções da esquerda brasileira agem como freio na luta, saídas individuais ou esteticamente revolucionárias ganham ainda mais atração. Mas de que forma podemos de fato construir uma política de ruptura com esse sistema?

Theo Louzada Lobato 21 ago 2021, 10:31

Estamos em um momento de enfretamento à extrema-direita bolsonarista. Para nós, revolucionários, isso significa que temos dois grandes desafios. O primeiro é derrotar o governo Bolsonaro nas ruas, buscando sua saída imediata. O segundo é afirmar uma alternativa pela esquerda – entendendo que a política de conciliação e de reformismo que desiludiu milhões de pessoas que migraram do petismo ao bolsonarismo é insuficiente, como tem sido em todo mundo, para derrotar a extrema-direita enquanto projeto.

Nossa organização política não é a única que acredita nisso. Os setores anticapitalistas tem sido linha de frente nas manifestações contra Bolsonaro, ganhando espaço e crescendo a partir das lutas sociais e dos diferentes sentidos que essas organizações dão a elas. Esse é um processo muito rico e mostra a potencialidade do desenvolvimento de projetos de esquerda do país para além do petismo e da burocracia estudantil-sindical.

Essa expansão ocorre ao mesmo tempo e por conta da entrada de uma nova e jovem vanguarda na luta social. Essa nova geração política vem em busca de projetos e formas de fazer política que não se limitem aos vícios de uma esquerda reformista e institucionalizada.

Nesse momento, portanto, é necessário fazer um debate. O que é fazer política revolucionária? Em um processo de formação política de uma nova vanguarda isso é fundamental de ser debatido. Significa disputar uma nova geração para que construa uma política que de fato influencie a luta de classes e que não somente fale para si mesma.

Especialmente em um período onde a estética revolucionária e o se dizer radical as vezes tenta se impor como um diferencial (ou seja, onde as vezes vale mais o “parecer” ser revolucionário do que qualquer coisa). Entender os conceitos políticos básicos que o marxismo construiu por anos para fazer uma política verdadeiramente de ruptura significa não nos perdemos em projetos insuficientes e demasiadamente auto proclamatórios.

1) A tática e a estratégia na política revolucionária

Dois conceitos fundamentais, vindos da lógica militar, mas incorporada há mais de um século no marxismo, são o de tática e estratégia. São conceitos que buscam nos orientar e localizar o que queremos, onde estamos e, por consequência, para onde vamos.

Resumidamente, estratégia é um objetivo maior que precisa ser alcançado por meio de diferentes táticas. Nosso fim principal é buscar uma revolução socialista que rompa com as amarras do capitalismo. Para isso, os comunistas tem duas estratégias permanentes: a aposta na mobilização popular e a construção de uma organização revolucionária. Em relação a esses objetivos, todo resto é tático e adaptável à realidade concreta.

Esses são temos relativos, o que define é que a estratégia é sempre o objetivo principal que a tática busca alcançar. Fazer uma greve pode ser visto como uma estratégia para o momento. Para isso, panfletagens, trancaços e assembleias vão ser táticos. O essencial é que os objetivos que os revolucionários construam sempre busquem mobilizar o povo e construir uma alternativa.

Isso é importante colocar porque existem aqueles que vão insistir em estratégias sem táticas ou em táticas permanentes. Um exemplo do primeiro seria um militante propor em uma assembleia de trabalhadores ou estudantil a tomada dos meios de produção – o que de nada adiantaria a ninguém. No caso da tática permanente, tanto aqueles que apostam nas eleições como saída única, sem perspectiva de mobilização social, quanto aqueles que fazem ações diretas individualizadas, sem que isso signifique um avanço do movimento, cometem erros parecidos em lados opostos das moedas – não tem estratégia e por isso não são nocivos, não levam a lugar nenhum.

Portanto, tática e estratégia são conceitos bem concretos e utilizáveis – são instrumentos para atuarmos na realidade. Nossas ações precisam ter objetivos, a construção de uma política revolucionária significa uma atuação real na luta de classes, em todas suas contradições, buscando fortalecer uma estratégia revolucionária (mobilização popular e construção de uma alternativa) e utilizando dos meios necessários para isso.

2) Com quem estamos falando? Agitação e Propaganda

Entrar em novas realidades e disputar novos terrenos é um desafio constante dos revolucionários. Para isso, temos que saber diferenciar bem com quem e como queremos falar. Assim, surgem dois outros conceitos importantes: agitação e propaganda. Resumindo, agitação significa falar pouco para muitos e propaganda muito para poucos.

Porque isso é importante? Porque mesmo atualmente nas manifestações de ruas estamos vendo a confusão entre os dois conceitos. Movimentos querendo se colocar “mais à esquerda” puxando músicas e palavras de ordem em atos amplos falando sobre “serem comunistas” e sobre a revolução podem até criar uma estética interessante, mas não conseguem falar com ninguém além de si mesmos.

Nossa agitação (palavras de ordem, panfletos, falas em assembleias) precisam servir para falar com muitos buscando pensar tarefas concretas. Podemos chamar uma greve numa fala ou uma manifestação num panfleto – temos que usar a agitação como tática a uma estratégia que faça sentido no momento.

Enquanto isso, no diálogo com a vanguarda, com aqueles mais interessados ou avançados, podemos usar da propaganda para convencer da totalidade de nosso projeto, ir além e disputar a consciência revolucionária (por exemplo por meio de um texto de análise de conjuntura ou um curso de formação).

É importante saber usar e diferenciar os dois se queremos fazer uma alternativa ampla e dialogável com as diferentes realidades do Brasil. O propagandismo segue sendo um erro constante de parte da esquerda que tem dificuldade de sair da própria bolha. Tanto propaganda quanto agitação são necessárias como instrumentos dos revolucionários, mas também tem que servir para alcançar e convencer mais pessoas. Falar de forma vazia que somos revolucionários para nós mesmos (o que é diferente de nos formar em política revolucionária) de pouco vai servir para luta política no Brasil.

3) O que é afinal, então fazer política revolucionária?

Fazer política revolucionária é, portanto, construir um projeto independente e anticapitalista que busca romper com o modo de produção atual ao mesmo tempo que atua de forma real na luta de classes e se ampliar por meio dela. É ser aficionado nas mobilizações populares, participando delas e apontando um caminho, é estar do lado dos entregadores de aplicativos na luta contra a uberização e das famílias de jovens negros assassinados nas favelas quando elas se levantam. É fazer isso construindo um projeto político que apresente uma saída a esse sistema.

Construir um projeto revolucionário não é um debate de aparência ou do momento, mas é a construção da luta de classes a partir de uma estratégia e dos desafios que a realidade nos impõe. Aqueles que se dispõem a construir essa política se dispõem a se mobilizar pelo maior desafio posto para a humanidade atualmente – romper as correntes de um sistema secular. Por isso, é necessário construir uma alternativa que tenha um conteúdo e sentido capaz de avançar nesse enfrentamento. E essa alternativa temos que construir desde já.


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