As inscrições do ENEM escancaram a esdrúxula desigualdade racial e social em um país cada vez mais marcado pela fome, miséria e pelo desemprego
FOTO DIVULGAÇÃO INEP

As inscrições do ENEM escancaram a esdrúxula desigualdade racial e social em um país cada vez mais marcado pela fome, miséria e pelo desemprego

Com a falta de inscrição de tantos candidatos negros, nossas universidades caminham para um horizonte em comum, a elitização e o embranquecimento.

Tarsila Amoras 4 set 2021, 16:54

O acesso ao ensino superior, antes muito sonhado, se torna mais distante pela dificuldade de estudo durante a pior pandemia que nossa geração já viveu. Os mais de 560mil mortos pela covid-19 em sua maioria tem endereço certo: as favelas e periferias brasileiras. A desestruturação de centenas de milhares de famílias também é refletida na corrida pela empregabilidade de uma juventude que nem sequer termina o ensino médio e a faculdade. Segundo a UNESCO e CONJUVE, em 2020 o número de estudantes que trancaram ou cancelaram a matrícula foi em sua maioria pela necessidade de buscar renda. De fato, não é uma escolha quando sobreviver é o mínimo.

Salas de aula e vídeo chamadas viram muitos estudantes abandonarem as escolas/faculdades, essa evazão tem cor e CEP: meninas e meninos pretos periféricos são os números não inscritos no ENEM 2021. A prova que em 2016 contou com 1,1 milhão de pessoas pretas inscritas, em 2021 tem apenas 362,3 mil candidatos. Um dos problemas mais corriqueiros por esse número baixo é a falta de inscrição gratuita pela comprovação de vulnerabilidade financeira e a isenção garantida para os concorrentes que realizaram a última prova ou justificaram ausência. Hoje o SFT teve maioria para aprovar a reabertura do prazo de pedido de isenção e para não rejeição da inscrição dos alunos que faltaram no último ano e não justificaram, pois, a questão é que se o país vive um colapso político-social-ambiental e de saúde pública e iniciou o ano com mais de 200 mil mortos, período do ENEM 2021, não há justificativa mais explícita que o genocídio governado por Bolsonaro. Por isso, a luta pelo ADIA ENEM tomou as redes sociais e ingressou no movimento pela educação de todo o país, é irreal acontecer uma prova que define o futuro de jovens quando o presente é de miséria.

Com a falta de inscrição de tantos candidatos negros, nossas universidades caminham para um horizonte em comum, a elitização e o embranquecimento. Meninos e meninas negras não querem somar nos mais de 15mil desempregados que o país carrega, queremos ser cientistas, professores, médicos, advogados e tudo o que quisermos sonhar para construir um futuro que não sejamos alvo da bala e da fome.


Últimas notícias