Orçamento cortado, interventor empossado: o que é o projeto de reordenamento dos institutos federais?
A tentativa de criação de 10 novas redes federais carrega consigo uma jogada oportunista de utilizar a influência dos IFs nas comunidades como cabo eleitoral de Bolsonaro para 2022, pois, não só os campis envolvidos no reordenamento serão escolhidos a dedo, como também as reitorias das novas redes serão baseadas na indicação direta de Bolsonaro, e não passaram por um processo democrático de eleição entre os campis.
Nos últimos anos, as instituições federais de ensino têm se tornado cada vez mais protagonistas nos espaços em que ocupam: na sua proposta pedagógica de ensino público, gratuito e de qualidade, nas pontuações do Enem, em premiações de eventos internacionais e no combate à pandemia aqui no Brasil, bem como, o exemplo de luta dado nas ruas com o enfrentamento aos retrocessos impostos nos últimos anos.
No dia 30 de agosto, o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, se reuniu com alguns reitores onde defendeu a “criação” de 10 novos Institutos Federais. No entanto, o decorrer do planejamento não envolve a criação de novos campi, cursos e matrículas, mas apenas a reorganização territorial dos campi já existentes.
O projeto de reordenamento dos IFs não é uma proposta recente, sendo inclusive cogitada no passado. Porém, o que faz a ideia do reordenamento, hoje, ser encarada com maus olhos é que, além de ser uma proposta dada pela gestão de Bolsonaro (gestão essa que logo após sua posse já cortava e ameaçava privatizar as Universidades e Institutos Federais, que em 2020 desdenhou da ciência que produzimos diariamente no combate a Covid-19, e que, de forma autoritária nomeou interventores nos nossos campus), desde 2015 o orçamento dos IFs tem sido reduzido, e hoje, estamos vivendo o maior déficit orçamentário das nossas instituições.
Apesar do reordenamento ser um plano que poderia, e muito, ajudar algumas redes federais com a gestão de seus campis, redimensionando os traços geográficos, econômicos, sociais e culturais, como por exemplo é o caso do IFSP, que se responsabiliza por 37 campis através apenas de uma reitoria. O projeto nos moldes apresentados por Milton Ribeiro não contempla a fundação de novos campis, não revoga os cortes no orçamento da rede, não propõe novos cursos, não contrata novos funcionários, técnicos e administrativos, ou se quer amplia vagas para o processo seletivo dos estudantes.
Além da clara falta de recursos para o cumprimento de um reordenamento qualitativo para os campis, existe mais um elemento central no debate que coloca mais uma vez em risco a democracia e a soberania dos Institutos Federais. A tentativa de criação de 10 novas redes federais carrega consigo uma jogada oportunista de utilizar a influência dos IFs nas comunidades como cabo eleitoral de Bolsonaro para 2022, pois, não só os campis envolvidos no reordenamento serão escolhidos a dedo, como também as reitorias das novas redes serão baseadas na indicação direta de Bolsonaro, e não passaram por um processo democrático de eleição entre os campis.
Nós, estudantes da rede federal, que em 2020 articulamos uma jornada de lutas vitoriosas e incansáveis em defesa da democracia interna dos campis e na derrubada dos interventores do IFRN e IFSC. Diante dessa nova ameaça, devemos estar atentos e vigilantes com o andar deste projeto (que tende a ser votado no dia 15 de outubro de 2021), e com os espaços de debate sobre o tema, ocupando nossos lugares nos Conselhos Superiores, organizando plenárias nos nossos campus, pela derrubada desse reordenamento antidemocrático e oportunista!
No dia 2 de outubro, vamos às ruas de todo o Brasil para gritar “Fora Bolsonaro” e afirmar que: REORDENAMENTO, SEM INVESTIMENTO, É SUCATEAMENTO!!