O que a aliança Lula-Alckmin nos aponta?
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O que a aliança Lula-Alckmin nos aponta?

Lula lidera as pesquisas com larga vantagem sob Bolsonaro, que até então, não possui nenhuma possibilidade de vencer as eleições no primeiro turno. Mas diante da desfiliação de Alckmin do PSDB, para concorrer ao lado de Lula numa chapa presidencial, qual deve ser nosso papel nesse momento? Se engana quem pensa que apenas tirando Bolsonaro da presidência nossos problemas irão magicamente desaparecer.

Fabiana Amorim 16 dez 2021, 18:28

Quem viveu Junho de 2013 ao lado das ruas que incendiaram o Brasil, deve recordar que Alckmin, então governador de São Paulo, e Haddad, que era prefeito da capital, estavam juntos em Paris quando explodiram as manifestações. Foram juntos também dar a coletiva de imprensa. Defender a ordem (leia-se, repressão) e dizer que não haveria revogação do aumento das passagens. PT e PSDB representavam até então a principal polarização política do país nas eleições. Mas como se nota, com muito mais pontos em comum do que parecia. 

O processo de transformação do PT em um partido do regime apodrecido se acelerou ainda mais naquele momento. Ao invés de aproveitar as mobilizações para apresentar uma reforma política e um programa de enfrentamento aos poderosos que conquistasse mais direitos para a população,  o PT defendeu o projeto dos Megaeventos e suas alianças espúrias. 

Hoje, sob o Brasil de Bolsonaro, nada parece mais urgente do que derrotar o governo genocida e de intenções protofascistas. Não há dúvidas de que nossa condição de vida piorou e que demos largos passos para trás nestes últimos anos. Já está evidente, porém, a possibilidade de derrotar Bolsonaro nas eleições de 2022. Ainda que nossa batalha tenha sido desde o início para que fosse derrotado pelas ruas, essa constatação nos dá um fio de esperança de que será possível sair desse mar de retrocessos.

Lula lidera as pesquisas com larga vantagem sob Bolsonaro, que até então, não possui nenhuma possibilidade de vencer as eleições no primeiro turno. Mas diante da desfiliação de Alckmin do PSDB, para concorrer ao lado de Lula numa chapa presidencial, qual deve ser nosso papel nesse momento? 

Se engana quem pensa que apenas tirando Bolsonaro da presidência nossos problemas irão magicamente desaparecer. Temos aqui dois problemas que não podem ser ignorados: 

1. A crise é mundial, profunda, multidimensional e ainda não foi superada. Os projetos de conciliação de classe não vacilam em momentos de crise: aplicam o mesmo programa de austeridade dos governos liberais. Sem uma política de enfrentamento à burguesia, seguiremos reféns de uma agenda de ataque aos trabalhadores e aos serviços públicos. 

2. O Bolsonarismo não desaparecerá com a derrota de Bolsonaro. Muito pelo contrário. É possível que esse setor cresça em oposição a um governo desse tipo, onde os problemas sociais seguirão se desenvolvendo. Apenas uma esquerda Anticapitalista e anti-regime possui condições de dar organizar os anseios da maioria do povo.

Diante desse cenário, cabe aos lutadores refletirem se assinaremos embaixo dos mesmos erros já cometidos no passado e que nos trouxeram até aqui. Ainda que as pesquisas possam nos dar euforia, cabe lembrar Mano Brown, que em pleno segundo turno de 2018 no palanque de Haddad disse “não gosto do clima de festa”. Há de ser estratégico. É claro que queremos derrotar Bolsonaro. Mas sob qual programa e alianças? Como confiar aos nossos algozes de que são eles que nos tirarão dessa situação de calamidade?

É por isso que defendo que o PSOL, partido  que nasceu daqueles que não aceitaram as traições do PT e que cresce cada vez mais como referência das lutas, tenha candidatura e programa próprio no primeiro turno. Fortalecer uma saída dessa crise que verdadeiramente seja de enfrentamento aos que são responsáveis por ela, taxando os ricaços, construindo as reformas estruturais nunca levadas à frente pelos governos petistas, mas sempre calcada na organização e mobilização popular. 

Não há atalhos ou caminhos fáceis. Mas nossa principal bússola deve seguir sendo a luta de classes. E nessa luta não haverá empate. Ou seguirão ganhando eles, ou construimos as condições para que vençamos nós.


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