Nova gestão da reitoria da USP: o movimento deve seguir em luta, com independência
Nós, do Coletivo Juntos, Correnteza, Afronte e RUA reafirmamos nossa independência e compromisso com a defesa de uma USP efetivamente popular: uma universidade que garanta o acesso e a permanência da juventude negra e periférica, que promova a inserção de novos saberes à academia – combatendo o eurocentrismo que historicamente caracterizou este espaço – , que garanta os direitos de seus estudantes e trabalhadores e promova a defesa radical do caráter público da universidade.
Ontem, dia 26 de janeiro de 2022, tomou posse a nova reitoria da USP, que tem o prof. Carlos Gilberto Carlotti Júnior como novo reitor e a profa. Maria Arminda do Nascimento Arruda como vice-reitora. Nós, do Coletivo Juntos, Correnteza, Afronte e RUA reafirmamos nossa independência e compromisso com a defesa de uma USP efetivamente popular: uma universidade que garanta o acesso e a permanência da juventude negra e periférica, que promova a inserção de novos saberes à academia – combatendo o eurocentrismo que historicamente caracterizou este espaço – , que garanta os direitos de seus estudantes e trabalhadores e promova a defesa radical do caráter público da universidade.
Todavia, sabemos que o cenário atual da USP está muito distante disso e a nova administração tomará posse em um momento difícil para a universidade. Durante a pandemia, o papel das universidades públicas brasileiras foi de suma importância, promovendo a defesa da ciência e pesquisas que colaboraram para o enfrentamento à COVID-19, entre muitos outros feitos. Ao mesmo tempo, as universidades atuaram frente a um presidente da república negacionista e genocida, que promoveu cortes em bolsas de pesquisa, realizou reiterados discursos anti-ciência e desarticulou as medidas de combate ao vírus, provocando a morte de milhares de brasileiros.
No Estado de São Paulo, o cenário não foi muito diferente: embora João Dória tenha se colocado como oposição a Jair Bolsonaro, sabemos que na prática suas ações também atentaram contra a universidade pública. Não podemos nos esquecer do PL 529, em que, num ano de pandemia, o governador propôs o confisco de verbas das universidades públicas paulistas e da FAPESP, principal fundação de fomento à pesquisa no Estado. Foi a luta dos estudantes, servidores e docentes que impediu que tamanho retrocesso acontecesse.
No âmbito da USP, a antiga gestão da universidade, que teve o prof. Vahan Agopyan como reitor, também promoveu profundos ataques. Vahan levou à frente uma política universitária com pouco diálogo com os estudantes, o que foi especialmente nocivo ao longo da pandemia. No segundo semestre de 2021, Vahan tentou realizar uma política de retorno ao presencial dos funcionários da USP, sem ter qualquer diálogo com estes ou com os estudantes, tampouco garantindo mudanças estruturais nas unidades que permitissem melhores condições sanitárias para o retorno. Não à toa, atualmente funcionários do bandejão central, na Cidade Universitária, se encontram em greve após um surto de COVID-19 com a reabertura dos restaurantes. Para além da exigência de vacinação, não há qualquer política de testagem aos funcionários, fechamento de unidades em casos de surtos da doença ou distribuição massiva de EPI’s a toda comunidade universitária.
Vahan também atuou na contramão da garantia do caráter público da USP. No Conselho Universitário de dezembro, aprovou, em meio a contestações de conselheiras/os e abaixo assinado para retirada de pauta, o “Projeto de Inovação e Empreendedorismo”, que na prática regulariza que o setor privado se aproprie de espaços, equipamentos e pesquisadores da USP, pagos com dinheiro público, para seus próprios lucros e interesses. Também foi imposto a política de repressão na Universidade, a partir da instalação de bases da PM no campus do Butantã e Ribeirão Preto.
Foi durante a gestão Vahan que também vimos aprofundar o descaso com as moradias estudantis, em especial o CRUSP. Apesar da reivindicação da reforma na moradia ser uma demanda estudantil histórica, a forma autoritária como está sendo realizada é inaceitável. Dezenas de estudantes foram despejados em meio a pandemia sem qualquer diálogo entre a USP, a SAS e os moradores. As políticas de permanência também foram muito insuficientes frente a rápida popularização da USP. Os 400, e agora 500 reais do auxílio moradia estão muito aquém do necessário para viver e sobreviver com qualidade em meio a uma brutal crise no nosso país.
Nesse sentido, em 2022, acreditamos ser essencial também que a atual reitoria se comprometa a realizar, em diálogo com os estudantes e funcionários, políticas concretas de permanência para garantir um retorno presencial com segurança, passando pelos seguintes pontos: 1) Democrático (como formação de comissões paritárias para realização do retorno em cada unidade); 2) Sanitário (como monitoramento dos índices de transmissão da covid-19, taxa de ocupação dos leitos de hospitais e adaptações na infraestrutura da universidade); 3) Acadêmico (como contratação de mais professores e abertura de mais bolsas de monitoria); 4) Assistência estudantil (como aumento no valor das bolsas e melhorias na política de moradia estudantil).
Ao ser escolhido, o novo reitor Carlotti disse que não era uma chapa de oposição ao Vahan, mas de alternância. Isso demanda a atenção do movimento estudantil em diversos aspectos: 1) Carlotti-Maria Arminda ainda não se comprometeram a revogar a PEC do Fim da USP – aprovada pela gestão Zago e responsável pela terceirização em massa e déficit de docentes e funcionários – e ao que tudo indica pretendem seguir suas políticas, ao invés de exigir o necessário aumento de repasse ao Governo do Estado (como demandado pelo movimento estudantil, ADUSP e SINTUSP); 2) Em seu programa, USP Viva reafirma que a USP deve buscar financiamento privado e fazer pesquisas em parceria (e para) esse setor, descaracterizando o papel público da USP e enfraquecendo sua autonomia; 3) Iniciado pela gestão Vahan no Conselho de Graduação, a tentativa de impor aulas remotas após a pandemia é tida como inevitável por Carlotti-Arminda, que reafirmaram, em seu programa e no debate eleitoral, que docentes poderão flexibilizar o modelo de ensino após a pandemia, projeto declarado sem debate amplo com o corpo universitário e sem se ater aos prejuízos ao ensino, permanência e vivência universitária ao longo destes 2 anos de ensino remoto emergencial, que precarizou o ensino na Universidade; e 4) É preciso cobrar também que a nova reitoria cumpra o que prometeu de direcionar o orçamento universitário para a reposição do quadro docente, atualmente carente de centenas de quadros. A falta de docentes, cenário administrado e agravado na gestão Vahan e seus antecessores, contribui para o fechamento de inúmeros cursos, hibridização do ensino e na lotação de turmas, desgastando toda a comunidade universitária.
Apesar de ontem ter-se iniciado uma nova gestão da reitoria, que publicamente se respalda em mais diálogo com o conjunto da comunidade universitária, sabemos que para enfrentar os problemas da USP é preciso ir a fundo nas discussões sobre projeto de universidade e democracia real nas instâncias decisórias. Em 2022, não nos faltarão motivos para lutar por uma universidade popular, pública, autônoma, social e de qualidade.
Assinam:
Movimento Juntos, Afronte, RUA Juventude Anticapitalista, Movimento Correnteza