A invasão da Ucrânia e a crise entre imperialismos
A crise da Ucrânia – principal debate internacional sendo travada por todas potências mundiais nas últimas semanas – tomou novas proporções com a invasão russa ao país iniciada hoje pela manhã. Mas como se chegou a essa situação e o que pode-se se dizer sobre essa escala política internacional?
A crise da Ucrânia – principal debate internacional sendo travada por todas potências mundiais nas últimas semanas – tomou novas proporções com a invasão russa ao país iniciada hoje pela manhã. Uma operação por enquanto maior foco no leste da Ucrânia – região onde estão os principais movimentos separatistas do país -, mas que já conta com bombardeios em outras regiões, foi ordenada por Putin, com um desenvolvimento e expansão ainda desconhecidos. As potências ocidentais já ameaçam sanções e toda crise pode se desenvolver em repercussões econômicas de escala mundial. Mas como se chegou a essa situação e o que pode-se se dizer sobre essa escala política internacional?
A escala nas últimas semanas – tensões entre Rússia e OTAN marcam a política global
Nas últimas semanas já vinham se ampliando as tensões entre a Rússia e a OTAN a respeito da disputa de influência e territórios na Ucrânia. A possibilidade de entrada do país na própria OTAN foi seguida por uma reação do governo russo – temeroso tanto com a perda de hegemonia sobre a região, mas também preocupado com as condições militares dadas às potências ocidentais perto de seu território que uma esse ingresso acarretaria.
A situação vinha se tornando séria, com envio de tropas russas para a fronteira ucraniana e já tinha entrado em estado crítico quando, na última segunda-feira, Putin declarou territórios do leste da Ucrânia (região de Donbass) liderados por separatistas pró-Russia como territórios independentes, e deslocou tropas militares para defendê-los.
Porque a Ucrânia importa?
A Ucrânia é um país estratégico na geopolítica europeia. Além de estar localizada entre a Rússia e a Europa Central, possui um importante parque industrial, especialmente na região de Donbass, com grande desenvolvimento no ramo metalúrgico. Junto a isso, sob o solo ucraniano passam os gasodutos que ligam a Rússia ao restante da Europa. O governo russo tem buscado contornar essa situação construindo um novo gasoduto até a Alemanha sem passar pela Ucrânia, mas que ainda não teve autorização para funcionar.
A Rússia, desde o fim da União Soviética, em 1991, busca consolidar o Leste Europeu como uma de suas zonas de influência, sendo a Ucrânia um país fundamental nessa estratégia. Nesse sentido, em 2014, quando eclodiram grandes manifestações na Ucrânia que derrubaram o presidente pró-russo Yanukovich, a Rússia anexou militarmente a Península da Crimeia e a cidade de Sebastopol, estratégicas por garantir saída direta para o Mar Negro, e vem financiando grupos separatistas pró-Rússia que tem governado parte da região de Donbass.
Por outro lado, desde o fim da Guerra Fria, a OTAN e as potências do ocidente vêm buscando ampliar sua influência sobre os países do Leste Europeu, como a Ucrânia, inclusive permitindo o desenvolvimento de movimentos fascistas pró-ocidentais na região como forma de disputar uma posição mais regional mais hegemônica. Os laços com o ocidente vem crescendo desde a derrubada de Yanukovich. A Ucrânia votou, ainda em 2014, a integração à União Europeia. A orientação política pró-OTAN se ampliou após a eleição do atual presidente Volodymyr Zelensky em 2019, chegando a declarar o interesse por ingressar a ela em 2021. Ou seja, há um desenvolvimento histórico de uma disputa internacional que se dá a partir do território ucraniano e as decisões tomadas dentro do país foram se conectando com pressões internacionais que se desenvolveram até o ponto atual. Ambos blocos (ou campos) na disputa – os russos e a OTAN – querem maior influência na região porque sabem que a a Ucrânia ajuda a definir muito sobre a disputa de quem tem as melhores cartas – políticas mas também econômicas – no Leste Europeu. Por isso se trava uma disputa que é refletida, criada e desenvolvida a partir, principalmente, das elites de fora do país. A invasão ordenada por Putin foi o último – e até então mais grave – ato dessa guerra de impérios.
O que essa guerra significa e qual posição devemos tomar?
Nesse momento, é necessário repudiar fortemente a invasão militar russa sobre Ucrânia e lutar para que o direito à autodeterminação do povo ucraniano e de todos os outros povos afetados seja respeitado. O conflito entre a OTAN e a Rússia já deixou mais mortos no país e está criando uma situação geopolítica que, a partir da disputa entre as forças imperialistas que atuam na região, faz dos principais prejudicados os próprios ucranianos. Tanto a posição da OTAN, que busca aproveitar a crise para criar um clima de instabilidade que permite maior ampliação da sua influência, quanto essa invasão russa são reflexos de interesses imperialistas e de elites globais. É uma guerra entre dois diferentes imperialismos que, travada da forma que está, faz com que o povo só tenha a perder.
É necessária uma mobilização global anti-militarista e anti-nuclear, contra as movimentações imperialistas tanto russas quanto ocidentais. A situação ainda pode escalar de diversas formas nos próximos dias, mesmo que uma guerra na qual as potências ocidentais entrem diretamente por enquanto ainda não foi ameaçada. É papel das organizações políticas e sociais impulsionar uma solidariedade anti imperialista pela esquerda com o povo ucraniano nesse momento e debater as consequências dessa disputa entre impérios. Não é nosso papel defender o imperialismo menos pior, como faz parte de uma esquerda campista que acredita que as ações de Putin sejam de alguma forma justificáveis, nem ser ingênuos com o que significam as movimentações da OTAN em sua disputa por maior influência política e militar sobre a região. Nesse momento estamos com o povo ucraniano contra a guerra ou qualquer escalada militar sem justificativa a não ser o interesse das elites.
Toda solidariedade ao povo ucraniano! Nossa mobilização é pela paz, contra os blocos imperialistas e pela autodeterminação dos povos!