Porque estamos com Lula para derrotar Bolsonaro
As candidaturas de Vera Lúcia, Leo Péricles e Sofia Manzano têm seu valor, mas não acumulam para nossa tarefa histórica
Em 2018, Bolsonaro que já havia apoiado a tortura e a ditadura militar foi eleito presidente do Brasil. Desde então, sua defesa de uma guerra civil no país que matasse uns 30 mil ficou ultrapassada com os mais de 600 mil mortos pelo genocídio na pandemia. Seus ataques à democracia, por sua vez, continuam. As manifestações no 7 de Setembro foram marcadas por dizeres anticomunistas, pela destituição dos ministros do STF, fechamento do Congresso e uma intervenção militar. Seu projeto autoritário de fechamento do regime, as mobilizações nas ruas que o sustentam e a crescente violência política do bolsonarismo que vem se forjando como um braço estendido da polícia explicitam a política fascista levada adiante por Bolsonaro, mesmo que ainda não tenha tido correlação de forças para implantar um regime fascista.
Derrotar Bolsonaro e a extrema-direita é fundamental na luta de classes internacional como as derrotas de Trump nos EUA, de Fujimori no Peru, de Rodolfo Hernández na Colombia, de José Antonio Kast no Chile e de Marine Le Pen na França. Cada processo tem suas especificidades, alguns com elementos mais progressivos como lutas populares e outros menos com aspectos mais institucionais, mas confluem na derrota do que há de mais autoritário em seus países. Enfrentar o fascismo nas ruas é essencial para diminuir seu espaço físico e parte de nossa batalha foi para que a eleição não ocorresse sem lutas populares que pudessem desmoralizar o bolsonarismo e que a própria campanha eleitoral estimulasse o ascenso popular. No entanto, mesmo com os atos pelo Impeachment em 2021 e os atos do 11 de Agosto, 7 e 10 de Setembro, a eleição está ocorrendo à frio.
Ainda assim, a possibilidade de Bolsonaro ser derrotado no primeiro turno está colocada diante das pesquisas indicando Lula com próximo dos 50% dos votos válidos. Uma vitória de Lula logo no primeiro turno desmoralizaria todo o bolsonarismo e colocaria a extrema direita em condições muito piores para seguir em ofensiva, e para questionar o resultado eleitoral seria preciso questionar a eleição de diversos deputados da própria direita que serão eleitos e não devem entrar nessa aventura. Mais ainda, a violência política bolsonarista já é vista nas ruas com a morte de Genivaldo na câmara de gás policial, de Marcelo Arruda em seu aniversário, de Dom e Bruno e durante a campanha com uma militante do PSOL hospitalizada no Rio de Janeiro devido a uma agressão bolsonarista. A existência de um segundo turno dará mais tempo para o bolsonarismo se recompor e se radicalizar para coesionar sua base, avançando com a violência política. Derrotar Bolsonaro no primeiro turno votando em Lula é uma tarefa histórica da classe trabalhadora.
Por outro lado, outros partidos de esquerda lançam suas próprias candidataturas à presidência, como Vera Lúcia, Leo Pericles e Sofia Manzano, para além de Ciro Gomes que está cumprindo um papel reacionário na conjuntura. Há uma razão justa para que se coloquem, o projeto da esquerda anticapitalista é distinto da conciliação de classes de Lula. Não à toa nós defendemos que o PSOL tivesse Glauber Braga como candidato à presidência para apresentar ao povo uma alternativa que enfrentasse o sistema de exploração assalariada, mas com a análise de que havendo a chance de Lula vencer no primeiro turno ou que corresse o risco de não ir ao segundo turno, poderíamos retirar nossa candidatura para apoiá-lo. Felizmente, é a primeira opção que está colocada e todos os nossos esforços devem ser girados para concretizá-la.
Evidentemente que as propostas de estatização dos 100 maiores grupos de empresariais brasileiros da Vera Lúcia, da taxação das grandes fortunas do Leo Pericles e da redução da jornada de trabalho para 30 horas da Sofia Manzano, fazem parte de nosso programa, basta ver o Projeto de Lei Complementar 277/2008 de autoria da Luciana Genro que regulamenta a taxação das grandes fortunas, seu programa quando foi candidata à presidência da república pelo PSOL e a campanha “A Fome e os Bilionários Não Deveriam Existir” escancarando as contradições da concentração de riqueza no capitalismo.
Outro tema recorrente no debate da esquerda é que o Estado seguirá sendo burguês independente do governo, não importando se Lula ou Bolsonaro é o presidente. De fato isso está correto, a classe dominante domina o Estado por meio de instituições e ideologias, o Regime é a forma com que a burguesia organiza as instituições para dominar e o Governo é quem está à frente do Executivo do Estado. Mudanças de governo e de regime mantém o caráter de classe do Estado: uma ditadura da burguesia. No entanto isso não torna menos importante a forma de dominação burguesa. Há uma diferença gritante entre um governo que sequer vacina a população e deixa mais de meio milhão morrerem de covid, de outros governos também burgueses. Mais ainda entre um regime democrático e um ditatorial em que a burguesia deixa de fazer mediações com o povo para dominar diretamente, e é justamente uma mudança no Regime que Bolsonaro aspira e o diferencia dos demais candidatos da burguesia. Regimes e Governos importam inclusive na determinação das condições em que a classe trabalhadora travará suas batalhas na luta de classes. As liberdades democrática não são suficientes para emancipação do nosso povo, mas são uma condição necessária para tal.
Por todos esses motivos, por mais que apontem um programa reivindicado por nós revolucionários, as demais candidaturas da esquerda não acumulam para uma derrota imediata de Bolsonaro e muitas vezes equiparam erroneamente Lula e Bolsonaro. Para enfrentar a crise é necessária a Taxação das Grandes Fortunas, Reforma Agrária e Urbana, a Auditoria da Dívida Pública, Estatização do Sistema Financeiro, um projeto antirracista, feminista e das LGBTQIA+. Essas lutas necessariamente passam por derrotar Bolsonaro e disputamos o PSOL para um projeto independente e anticapitalista com influência de massas, conectando o partido e os mandatos com as lutas do povo. Carregando este programa que afirmamos que não há tempo para sermos vacilantes numa eleição que pode ser definida por 1% dos votos, vamos votar em Lula para Derrotar Bolsonaro e Esmagar o Fascismo!