Não ao retorno do vestibular na Universidade Federal de Santa Maria
A volta do vestibular coloca a universidade sob interesse dos cursinhos e escolas privadas e excluem ainda mais a classe trabalhadora da possibilidade de acesso ao ensino superior.
No dia 23 de janeiro foi divulgado pelo Jornal Diário de Santa Maria que entrará em discussão no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), no dia 26 de janeiro, a proposta de retorno do vestibular na Universidade Federal de Santa Maria. Apresentar esta proposta atravessando sobre o debate do conjunto da categoria estudantil é uma forma de atropelar qualquer mobilização que reflita o interesse dos estudantes sobre as formas de ingresso.
No final do mês de novembro a reitoria da UFSM retomou publicamente a discussão sobre o retorno do vestibular. Contra a ampla maioria dos estudantes, professores e comunidade acadêmica que consideram essa atitude um retrocesso no que diz respeito a almpa democratização do acesso à educação. Este é um interesse comum da atual gestão com o empresariado local e inclusive com representantes da extrema-direita na cidade, como a vereadora Roberta Leitão, inimiga dos estudantes e que vem se dedicando a ataques constantes à UFSM. A proposta de retorno do vestibular foi apresentada em uma reunião pública, que ocorreu no dia 30 de novembro, organizada pela PROGRAD.
A proposta busca se apoiar em três eixos: a identificação da UFSM com os setores locais, as taxas de evasão e o não preenchimento da totalidade de vagas pelo ingresso através do ENEM. Porém, é ignorado em todo o momento a profunda crise que a juventude e a classe trabalhadora vêm sofrendo sob efeito do desgoverno de Bolsonaro, apoiado por setores empresariais que lucrariam com o retorno do vestibular.
O retorno do vestibular coloca a universidade sob interesse dos cursinhos pré-vestibulares e escolas privadas, que operam com altas mensalidades e excluem da classe trabalhadora a possibilidade de acesso ao ensino superior. Esses são, na prática, os setores da sociedade que se “identificariam” com o retorno do vestibular que exclui as escolas públicas da região que ainda passam pela Reforma do Ensino Médio e convivem com as sequelas da pandemia e da precarização da educação pública. Ainda é mais visível a falácia da justificativa pela identificação da comunidade santamariense com a UFSM, quando os Cursos Populares como o Práxis e o Alternativa estão precarizados, sendo estes um importante meio de trazer os estudantes das escolas públicas para a universidade
A principal contradição em que a reitoria tenta justificar o retorno do vestibular, é sobre a crescente taxa de evasão nas universidades. Para além de se ausentar de um debate público sobre as políticas de assistência estudantil na UFSM. A crise financeira provocada pela política econômica anti-povo de Bolsonaro tem se apresentado como principal motivo para a evasão de estudantes na universidade, elemento que é ausente na proposta da reitoria para as novas formas de ingresso na UFSM.
A alta no preço dos alimentos, baixos salários, insuficiência de bolsas de formação, precariedade no transporte público e a dupla jornada da maioria dos estudantes dos cursos noturnos (trabalham durante o dia e estudam à noite) são hoje o peso na balança de quem abandona a universidade para trabalhar em três turnos muitas vezes. A prioridade hoje deve ser a mobilização pelo avanço das lutas em defesa de um programa de assistência estudantil amplo e de qualidade que coloque em prioridade a entrada e a permanência dos estudantes trabalhadores e cotistas na universidade e, não um projeto de elitização do ensino público superior.
Enfatizamos que muitas famílias foram afetadas pela pandemia, muitos estudantes foram excluídos do processo educacional devido a falta de materiais, como computador e Internet, e ressaltamos que esse período pós pandemia nossa prioridade enquanto universidade deve ser garantir o retorno e permanência dos estudantes na universidade, a possível volta do vestibular só afasta ainda mais os estudantes de entrarem e permanecer na universidade.
A volta do vestibular está na contramão das necessidades dos estudantes das escolas públicas e do papel que a UFSM tem cumprido e deve seguir no próximo período: ser a porta de entrada para jovens e trabalhadores de todo o país para o ensino superior. O ingresso 100% SISU, ampliou a democratização do acesso à universidade e possibilitou que estudantes das regiões próximas à Santa Maria e de todo o país possam ingressar na UFSM.
Retomando nosso acúmulo enquanto organização na luta pela democratização do acesso à universidade, trazemos a nota que publicamos em 25 de junho de 2014:
No dia 22 de maio ocorreu a reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFSM em que uma das pautas era os desdobramentos do vestibular. O fim da reunião se deu com votação pelo fim do vestibular e a adoção de 100% ENEM/Sisu como única forma de ingresso na universidade.
Entidades representantes do empresariado local e ditos representantes dos estudantes que se apresenta na União Santa-mariense de Estudantes (USE) comandada pela juventude do PCdoB (UJS), se postularam contra essa decisão e através da via judicial entraram com uma representação pela volta do vestibular. No dia 24 de junho vem a público a decisão do juiz Loraci Flores de Lima, o qual atendeu ao pedido dos empresários e sentencia a volta do vestibular.
A instituição já afirmou que irá recorrer dessa decisão e nós, do coletivo Juntos!, nos colocamos contrário ao vestibular por acreditarmos que o mesmo é excludente e vemos no Sisu uma possibilidade de melhorar a democratização do acesso ao ensino superior. Por isso, repudiamos a decisão do juiz, que se coloca em favor do poderio econômico dos empresários santa-marienses.
Caberá ao Movimento Estudantil combativo dar o enfrentamento nas ruas contra esse verdadeiro ataque à autonomia universitária.
O empresariado local de Santa Maria foi e será capaz de intervir na autonomia universitária e neste momento contará com o apoio da extrema- direita caso o retorno do vestibular seja derrotado no CEPE futuramente.
Apesar da reitoria apresentar essa proposta no final do semestre letivo, movimento tático para empurrar goela abaixo o vestibular, precisamos organizar a categoria estudantil, da universidade e das escolas públicas, para defender o ingresso 100% SISU e lutar contra o entreguismo da universidade às mãos dos interesses privados e do lucro dos cursinhos pré-vestibulares!
Nesse sentido, é preciso a construção de um amplo espaço de debate e mobilização os estudantes secundaristas das escolas públicas e o conjunto da comunidade acadêmica contra esse ataque à educação e a democratização do acesso. É de suma urgência que o debate sobre o retorno do vestibular seja levado para todas as instâncias da universidade, e não atropelado pela reitoria da UFSM!