Sem anistia: sem esquecer nem perdoar, justiça de transição já!
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Sem anistia: sem esquecer nem perdoar, justiça de transição já!

A palavra de ordem que tomou a praça dos três poderes durante o discurso do agora oficializado presidente Lula dá o tom dos desafios e tarefas que o povo brasileiro irá enfrentar no próximo período.

André Doz 3 jan 2023, 19:25

A palavra de ordem que tomou a praça dos três poderes durante o discurso do agora oficializado presidente Lula dá o tom dos desafios e tarefas que o povo brasileiro irá enfrentar no próximo período. Com a imensa vitória democrática que tivemos, era natural que a posse se transformasse numa grande festa pelo fim do pesadelo vivido sobre a administração Bolsonaro. Foi nesse clima, em meio às denúncias de desmonte do Estado apresentadas no discurso de Lula, que o povo que lotava a praça dos três poderes clamou contrariamente a qualquer anistia. O clima de festa – extremamente válido – não deu lugar ao marasmo nem a um clima de “espera que vai dar bom”. Pelo contrário, o próprio povo que derrotou Bolsonaro já começa a exigir que a pilha de crimes cometidos por Bolsonaro e seus aliados fascistas sejam de fato punidos.

É comum ouvir que o Brasil é o país da impunidade. Há anos a direita tenta usar desse mote para criminalizar a juventude preta e periférica, mesmo que metade da população carcerária hoje sequer tenha passado por um julgamento. Diferente da demagogia da direita, nós temos que refletir e não virar as costas para esse sentimento. O Brasil de fato é o país da impunidade para suas elites! Mais de 300 anos de escravidão; um verdadeiro genocídio das populações indigenas; milhares, senão milhões de assassinatos políticos; censura; tortura; pauperização; exclusão; opressão e exploração do povo: Essa é a marca da elite econômica e política deste país, que nunca teve de se haver com suas ações. Toda essa lama é simbolizada na Lei da Anistia aprovada ainda na ditadura militar brasileira, que deu a seus chefes, torturadores, assassinos e bandidos a possibilidade de saírem ilesos de seus atos.

Muito do bolsonarismo vem desse quadro. Apenas em um país que não julgou como deveriam os responsáveis pela ditadura e todos os seus crimes, uma parcela da sociedade consegue achar “normal” as declarações de ódio e apoio e incentivo ao crime que eram constantemente feitas pela boca do ex-presidente. Mas os crimes cometidos por Bolsonaro e seu governo não se encerram nas palavras. Os últimos 4 anos foram palco de um verdadeiro assalto e desmanche dos direitos do povo. Tivemos que conviver com a destruição quase que completa da educação (com sucateamento das universidades, um desmonte sistemático do ENEM, o desvio de dinheiro em escândalos de corrupção, os cortes na verba da merenda escolar, o desmonte das agências de fomento à ciência, a perda quase que completa do orçamento pra permanência estudantil, entre outros desmontes), o congelamento do salário mínimo, a subida absurda de preço dos alimentos, a volta da fome no país, o desemprego cada vez maior, a destruição da nossa biodiversidade (com crimes como a tentativa de legalizar o garimpo ilegal e o dia do fogo na Amazônia, sem falar do desastre no Pantanal), a criminalização e genocídio dos povos indígenas com o fim da demarcação e a sistemática violação de suas terras, a perseguição e assassinato de militantes e ativistas dos movimentos sociais, o aumento da violência nas periferias contra o povo preto, o corte de 99% dos recursos ao combate à violencia contra a mulher, o desmonte da cultura, o verdadeiro genocídio que levou mais de 700 mil vidas pela COVID-19 no brasil, entre outros tantos desastres feitos de propósito pelo governo que acabou no domingo. 

A derrota de Bolsonaro nas eleições trouxe grande alívio para todos. Abre-se um período novo onde estaremos em um cenário melhor para avançar e tocar as lutas sociais. O desespero de saber dessa possibilidade fez uma minoria inflamada de bolsonaristas praticarem atos intoleráveis de terrorismo, como na noite em que incendiaram diversos ônibus e carros em Brasília ou até mesmo a tentativa de explodir bombas perto do aeroporto. É inadmissível que ainda existam acampamentos de golpistas fascistas nas portas dos quartéis e que esses terroristas sigam impunes. 

A luta da juventude deve se orientar pelo antifascismo contrário à anistia. Com o amontoar de crimes cometidos, a juventude viu seu direito ao futuro ser roubado por aqueles que só se interessam por seus interesses individuais e capitalistas. Mais do que nunca, a juventude que organizou e combateu os cortes na educação nesses últimos anos deve saber que a centralidade na responsabilização de Bolsonaro e seus aliados é uma tarefa geracional decisiva. Ainda que tenhamos ganhado as eleições, o fascimo bolsonarista no Brasil está longe de estar enfraquecido. Pelo contrário, pode ganhar ainda mais força com o mercado e nos setores financeiros que já começam a atacar o avanço das pautas populares. Com apenas 2 dias de governo, os bilionários e especuladores já começam a jogar para baixo a bolsa de valores e subir o dólar, ao passo que a mídia tradicional burguesa encampa uma batalha contra as “gastanças”. Para esses setores, o aumento do salário mínimo e a continuação do Bolsa Família de 600 reais não interessa, mesmo que combatam a fome e a desigualdade. Para eles, o que importa é se o bolso está cheio, e sabem que com a saída de Bolsonaro, uma parcela, mesmo que pequena, da pilha imensa de dinheiro deles pode ser ameaçada. 

Não vamos descansar um dia sequer! Já no dia 2 de janeiro, por meio dos parlamentares do PSOL liderados por nossa deputada Sâmia Bomfim, o partido entrou com pedido de prisão preventiva de Bolsonaro no STF por tentar fugir do país, mesmo sendo alvo de investigação. Vamos seguir pressionando pela prisão imediata do agora ex-presidente e de todos os fascistas que ousaram tentar um golpe.

Para de fato enterrar a extrema direita golpista teremos que seguir lutando ao lado das lutas de nosso povo, ocupando as ruas com independência e combatividade. Cabe a nós seguir construindo lutas de maioria social e pressionando pelos avanços que a população escolheu, à revelia da direita e dos setores mais atrasados do capital. E a população, em primeiro de janeiro, gritou em alto e bom som: SEM ANISTIA!  Prisão para Bolsonaro e seus aliados fascistas. 

Sem esquecer e sem perdoar, jamais! Justiça! 

Bolsonaro preso, já! 


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