Lutar pelo passe livre é lutar contra a crise climática
Lutar pelo passe livre significa dar o primeiro passo para tornar os carros individuais obsoletos, para assim podermos ter cidades pensadas para pessoas e com transporte coletivo de qualidade e gratuito
Nos grandes centros urbanos, carros e motocicletas preenchem a paisagem ocupando cada vez mais o espaço que idealmente deveria ser preenchido por pessoas. No capitalismo, o automóvel individual cumpre um papel fundamental na organização desse modo de vida individualista e destrutivo, de modo que cidades são pensadas não para pessoas, mas sim para carros, enquanto que o sistema de transporte coletivo é constantemente precarizado.
Após o final da 2º guerra mundial, os EUA se consolidam como uma das superpotências globais. Dessa forma, como estratégia para combater a alternativa socialista, começa-se a construir o “american way of life” (modo de vida americano): um estilo de vida baseado, em linhas gerais, no consumismo, na alimentação padronizada e farta em derivados de animais e na posse do carro individual, tudo isso baseado em fortes programas estatais de valorização do salário, da padronização da agricultura (com o uso de transgênicos e agrotóxicos) e uma dura política imperialista para garantir matéria-prima e mão de obra barata nos países do Sul Global.
Esse modo de vida imperial foi exportado e imposto ao redor do mundo como símbolo de progresso quando na verdade é uma exclusividade dos centros do capitalismo mundial. Além disso, é um modo de vida que está rapidamente destruindo o mundo: queima de combustíveis fósseis, produção de enormes quantidades de lixo, destruição de territórios para a mega-mineração e agropecuária são apenas algumas de suas consequências. No centro desta destruição está o povo do Sul Global, que têm seus territórios transformados em zonas de sacrifício para sustentar o modo de vida imperial.
No Brasil, focando no carro individual, essa política pode ser vista no governo de Juscelino Kubitschek e durante a ditadura empresarial-militar. Vastas pistas e empreendimentos milionários foram feitos focando no transporte individual em um país de proporções continentais, onde a malha ferroviária era o modelo mais adequado, tudo para seguir as demandas do capital externo.
Brasília, cidade-modelo e símbolo dessa tal modernidade que o país passava na metade do séc. XX é um belo exemplo dessa imposição do modelo do carro individual. Uma cidade pensada única e exclusivamente para carros, com complexas curvas e pistas que alcançam até 6 faixas condenam o trabalhador pobre a se embrenhar por entre os carros e passarelas tentando não ser atropelado enquanto improvisa caminhos para continuar até o destino, foi o que mostrou uma série de fotografias que mostram a dificuldade de ser pedestre em uma cidade pensada para carros.
Como fica o transporte coletivo nessa situação? Sucateado e precarizado aos montes para que a única alternativa de se locomover confortavelmente pela cidade seja por meio do carro individual. Não é algo natural que as pessoas prefiram um carro à pegar um ônibus, é uma demanda artificialmente criada pelo capitalismo. Brasília, de novo, é exemplar nessa situação. Tarifas altíssimas, linhas sem horário definido, falta de comunicação e veículos lotados que sempre quebram são a marca registrada dos ônibus da capital, enquanto o governo faz constantemente repasses milionários às empresas que os administram. Somado a isso, há o sistema metroviário que cobre uma parte ínfima da cidade e que sofre precarização constante com vias à privatização. Os deputados distritais eleitos pelo PSOL Fábio Félix e Max Maciel já alertam que, nessas condições, o sistema de transporte coletivo vai implodir e um caos será instaurado.
Lutar pelo passe livre é uma luta fundamental que se conecta com várias tarefas que temos para o séc. XXI. Lutar pelo passe livre significa dar o primeiro passo para tornar os carros individuais obsoletos, para assim podermos ter cidades pensadas para pessoas e com transporte coletivo de qualidade e gratuito. Significa lutar contra o modo de vida imperial imposto pelo Capital, responsável pelo colapso climático em curso e que transforma nossos territórios em zonas de sacrifício.
Passe livre pra geral já!