Quantos funcionários negros tem na USP?
Reprodução: Universidade de São Paulo

Quantos funcionários negros tem na USP?

Se foram as pessoas negras que construíram os prédios da USP, porque não podem elas construir e disputar o conhecimento produzido na USP?

A USP é uma universidade branca. A maioria de seus alunos é branca. A maioria de seus professores também, afinal, menos de 5% dos docentes são negros. Uma ida ao Conselho Universitário da USP é se deparar com dezenas de diretores homens e brancos, um retrato bastante distinto da sociedade brasileira, que é predominantemente feminina e negra. 

Essa realidade na USP é histórica. Em sua tese “Cores da tradição: uma história do debate racial na Universidade de São Paulo (USP) e a configuração racial do seu corpo docente”, Viviane Silva aponta que a Universidade foi criada pela e para a elite paulista, num projeto de universidade branca e europeizante. Não à toa, a USP relutou em aprovar a política de cotas étnico-raciais em seu vestibular e, agora, simplesmente ignora uma outra pauta essencial para o enegrecimento da instituição: as cotas étnico-raciais em seus concursos públicos. 

Há alguns anos, diversos setores da administração pública vem aprovando políticas de reserva de vagas para a população negra. A primeira lei nesse sentido foi a Lei n. 14.274/2003, do estado do Paraná, que reservava 10% das vagas oferecidas a concursos públicos estaduais a candidatos negros. Em 2014, foi aprovada a Lei Federal n. 12.990/2014, que reserva 20% das vagas em concursos da administração federal a candidatos negros e, portanto, é válida também a universidades federais. Até o município de São Paulo reserva cotas para negros no serviço público municipal, com base na Lei n. 15.939/2014. Mas a USP – sempre ela – se faz de sonsa.

Nos últimos dias, a USP vem abrindo editais para concursos, à exemplo do concurso para analista administração e para procurador da USP, ambas carreiras com remuneração em torno de R$9.000 mensais. Todavia, nenhum desses concursos previa a reserva de vagas para negros e indígenas. 

Desde o ano passado, a reitoria vem divulgando que diversos concursos públicos serão abertos nos próximos meses, diante do déficit de funcionários na universidade. Esse cenário foi, inclusive, apresentado em sessão do Conselho Universitário. Na ocasião, representantes discentes denunciaram a necessidade de que esses concursos tivessem cotas étnico-raciais, mas foram ignorados pela gestão da universidade.

Se por um lado a USP é uma universidade branca, por outro, suas faculdades e institutos foram erguidos pelo trabalho de pessoas negras. A favela São Remo, vizinha ao campus Butantã, é testemunha disso. Repetimos: a USP foi historicamente construída por trabalhadores negros; e ainda o é, basta olhar para aqueles que prestam os serviços básicos que mantém o seu funcionamento: quem serve a comida nos bandejões, quem faz a segurança dos prédios, quem realiza a limpeza, que, não à toa, são os trabalhadores mais precarizados.

Se foram as pessoas negras que construíram os prédios da USP, porque não podem elas construir e disputar o conhecimento produzido na USP? Aumentar o número de PPI’s nos quadros de funcionários da universidade é enriquecer a ciência por ela produzida e os serviços por ela prestados com outras perspectivas e experiências que destoam da experiência branca européia colonizadora.

Por isso, comemoramos a decisão da Justiça de São Paulo, do dia 10/03, de suspender três concursos da USP que não tinham cotas PPI, mas para além disso, é necessário que a comunidade USP como um todo se envolva nessa discussão. Já está mais do que na hora de enegrecer a Universidade de São Paulo. É inadmissível que essa instituição permaneça sendo parte da elite do atraso e não garanta ações afirmativas em concursos públicos. Queremos negros em todos os setores da universidade, não só na limpeza. 


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