Agora é greve contra a precarização do trabalho!
Via Juntos! Unicamp

Agora é greve contra a precarização do trabalho!

Porque estudantes e trabalhadories devem lutar em unidade contra o ponto eletrônico na Unicamp.

Sarah Micoski 29 ago 2023, 09:20

Na quinta-feira (24/08), uma assembleia de trabalhadories, puxada pelo STU (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp), após um ato em frente à reitoria da Unicamp — que foi, como de costume, solenemente ignorado pelo reitor — decidiu, por quase unanimidade des votantes, pela greve da categoria. Essa greve é uma forma de lutar por diversas mudanças nas condições de trabalho, mas a principal pauta tratada no ato e na assembleia foi o projeto da reitoria de implementar o ponto eletrônico.

Nós, do movimento Juntos!, aplaudimos a greve e devemos nos somar à luta des trabalhadories contra o projeto de precarização do trabalho e do ensino.

O ponto eletrônico é parte de um projeto maior

A reitoria da Unicamp, atualmente nas mãos de Antônio José de Almeida Meirelles (Tom Zé), tem adotado uma postura antidemocrática no trato com as organizações des estudantes e des funcionáries, fechando as suas portas a todas as tentativas de diálogo. Hoje, existem processos de sindicância abertos pela reitoria contra estudantes que participaram do ato contra a realização da Feira de Universidades Israelenses, na qual estariam presentes universidades com campi em territórios invadidos e que produzem conhecimento a serviço do genocídio promovido pelo Estado de Israel. Além disso, taxou de antidemocráticas as manifestações de trabalhadories.

A Unicamp se orgulha de dizer que é uma universidade de ponta, com um dos mais avançados programas de permanência estudantil do Brasil. A imagem que a universidade quer passar de si para fora é a de uma instituição progressista, democrática e com a cara do povo.

No entanto a reitoria, a cada instante, desmente essa imagem com a terceirização do trabalho nos restaurantes universitários, a negligência frente à demanda urgente por reforma na moradia estudantil, a articulação, em conjunto com a prefeitura de Dário e com grandes empresas, do projeto do PIDS/HIDS, que visa a mudança do Plano Diretor do distrito de Barão Geraldo (onde se localiza o campus da Unicamp em Campinas) a fim de incentivar a especulação imobiliária, destruir a natureza e deteriorar ainda mais as condições de vida na região, que já tem uma sobrecarga de seu sistema de saúde e um dos custos de habitação mais altos do país.

É essa a reitoria que quer impor o ponto eletrônico aes trabalhadories que, por repetidas vezes, repudiaram a medida em seus espaços de deliberação. O ponto eletrônico não é um ataque isolado, mas parte de um projeto de precarização que vem sendo implementado pela reitoria de Tom Zé. Seu objetivo é estreitar o controle sobre es trabalhadories, com uma vigilância dos horários de entrada e saída, que se tornarão inflexíveis. Essa é a resposta da reitoria à falta de funcionáries: não a contratação, mas a sobrecarga de seus quadros atuais.

O significará na prática o ponto eletrônico?

Caso a reitoria consiga impor essa mudança, o ponto eletrônico se baseará no modelo existente na USP, como indicado pelos relatórios do GT que está pensando a sua implementação. Isso nos permite ter uma ideia da forma como ele funcionará, já que quase não há informações disponibilizadas sobre o modelo que existirá na Unicamp para além dessa — outro sinal da completa falta de diálogo da reitoria com a categoria que será impactada pela medida.

Nos baseando nas informações que temos, é seguro assumir alguns dos principais retrocessos que o Ponto Eletrônico significará. São eles: 

  1. A lógica produtivista trazida para a universidade. O ponto eletrônico existe como projeto de assédio aes servidories da Unicamp. A universidade pública não é uma empresa, e o conhecimento nela produzido não deve ser tratado como uma mercadoria. A implementação do ponto eletrônico busca trazer para a universidade a lógica produtivista existente em empresas privadas, onde prevalece o assédio moral no trabalho. Educação não é mercadoria, e a dinâmica na universidade é (e precisa ser) diferente.
  2. A reposição dos feriados. Sempre que houver um feriado facultativo ou que algum feriado for emendado, es trabalhadories serão, sob o ponto eletrônico, forçades a repor as horas que deixaram de trabalhar. Isso, por si só, significa um aumento estimado em 80h no total de horas trabalhadas em um ano. Porém, soma-se a isso a questão de que essas horas não podem ser compensadas em dias de feriado, mas somente em dias de expediente, e em no máximo 2 horas por dia. Isso aumenta o expediente de trabalho sem o pagamento de hora extra, e ainda ameaça es funcionáries com desconto salarial em caso de não reposição dessas horas;
  3. Degradação da saúde mental des funcionáries. Pessoas não são máquinas, e querer forçá-las a trabalhar de acordo com um relógio, levando advertências caso exerçam menos (ou mais!) trabalho do que o estipulado em um determinado dia, inevitavelmente agravará o quadro já crítico de saúde mental des trabalhadories da Unicamp. A reitoria tem interesse nas consequências disso: uma maior dificuldade da categoria de se auto-organizar;
  4. A piora na qualidade de ensino. Além do maior desgaste físico e psicológico des funcionáries, que por si só já desencadearia uma piora na qualidade também do trabalho exercido, existe a inflexibilidade dos horários, que pode levar à sobrecarga ainda maior, por exemplo, des servidories que precisam atender estudantes no SAE (Serviço de Apoio ao Estudante) ou na DAC (Diretoria Acadêmica);

Ou seja, o ponto eletrônico que Tom Zé quer impor servirá somente a quem se tranca no prédio da reitoria, isolando-se de toda a comunidade acadêmica. Aes trabalhadories e aes estudantes, sua implementação será uma derrota.

Os projetos de precarização nos atacam em conjunto — devemos lutar unides contra ele

No estado de São Paulo, enfrentamos o governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas. O projeto desse governo é privatista, de sucateamento da educação, de exploração acentuada do trabalho e de chacina do povo preto, pobre e periférico. A reitoria de Tom Zé não adere a esse mesmo projeto, porém também sinaliza no caminho privatista, pois promove a entrada de empresas privadas no campus e se cala sobre as repetidas ocasiões em que viaturas da polícia entraram na universidade.

Esse projeto não se reduz a atacar uma categoria ou uma localidade, mas busca uma mudança de caráter das relações entre o poder público e o privado. O governo Tarcísio sucateia para privatizar. Assim, seja com um serviço público sucateado ou com um serviço privado que visa o lucro, a classe trabalhadora fica sem acesso à saúde de qualidade, à educação de qualidade, ou mesmo à água (uma vez que Tarcísio busca privatizar a SABESP).

Quais os interesses de Tom Zé em sucatear também a Unicamp? Com uma funcionária falecida enquanto sobrecarregada de trabalho; caramujos, moedas e pedras encontradas na comida dos restaurantes; a tentativa de sobrecarregar docentes adotando o ensino remoto como uma medida duradoura e não só emergencial da pandemia; e agora a tentativa de impor o ponto eletrônico, a reitoria de Tom Zé vem se colocando como inimiga da permanência estudantil e da dignidade do trabalho na universidade.

Servidories e estudantes são atacades pelo mesmo projeto de sucateamento, e por isso devem lutar contra ele em unidade. A decisão des trabalhadories de entrar em greve é uma vitória por si só, mas é imprescindível que essa greve seja vitoriosa. Isso significará uma vitória histórica contra a reitoria de Tom Zé, que vem se aproveitando da relativa desarticulação dos movimentos da universidade no pós-pandemia para impor seu projeto.

Essa vitória não será só des funcionáries, mas de todes que são atacades pela reitoria e sua articulação com os projetos de precarização, privatistas e de especulação de Tarcísio e de Dário (prefeito de Campinas pelo Republicanos, partido de Tarcísio). Por isso, para alcançá-la, é de enorme importância que es estudantes estejam ao lado des trabalhadories.

Agora é greve contra o ponto eletrônico!


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