A luta da educação precisa se unificar!
As greves, o dia 9 de maio e a mobilização contra o desmonte da educação
As greves federais da educação já são um fato consolidado. O mais de um mês e meio de greve dos servidores se somou com uma ampliação da paralisação docente, que alcançou universidades que tinham inicialmente não aderido à greve, muitas vezes com assembleias de base garantindo a aprovação contra a vontade política de seus próprios sindicatos. As mesas de negociação – que estão, a princípio, sendo feitas separadas para as categorias – iniciaram com propostas governamentais que, mesmo já obtendo vitórias parciais por conta da luta, ainda mantém uma proposta de reajuste zero de salário para esse ano e pior, nem tocam no tema da recomposição orçamentária.
Portanto, sendo um processo real e em andamento, é necessário elencar os principais desafios dessa luta e quais disputas ainda são necessárias. Por ser o primeiro movimento nacional a questionar, a partir da mobilização, a lógica política neoliberal de gastos do governo, reivindicando mais investimento para educação, a atual mobilização tem um mérito enorme e a possibilidade de vitórias pode influenciar positivamente diversas categorias de trabalhadores e estudantes pelo país, como um exemplo de que a luta ainda é nosso principal instrumento para conquistas.
Isso não significa, porém, que não tenhamos que refletir as raízes dos problemas atuais e os desafios ainda existentes no movimento. A greve é resultado de quase 10 anos de cortes e falta de investimentos na educação, um problema estrutural já existente no governo Dilma e fortalecido por Temer e Bolsonaro. Porém, os cortes mais de 4 bilhões feitos ainda esse mês por Lula na educação e saúde, atingindo as bolsas da CNPq, materiais didáticos e a Farmácia Popular demonstram que existe um embate importante ainda a ser feito: a reversão da agenda do governo, a prioridade na educação e portanto, a recomposição orçamentária.
A universidade federal e o instituto federal brasileiros estão em amplo processo de desmonte. Com falta de estrutura, de bolsas e poucas condições de ensino, o momento da luta dos trabalhadores precisa se combinar com um questionamento geral contra a precarização do ensino brasileiro e a necessidade de que haja investimento, também nos salários, mas na educação como um todo. Para isso, em suas demandas particulares, os sindicatos e o movimento estudantil precisam encontrar uma síntese de mobilização que reforce a necessidade de luta contra os cortes e pela recomposição orçamentária.
Esse processo não é feito por decreto, mas em movimento. A partir de uma proposta da FASUBRA, o Comando Nacional de Greves colocou o dia 9 de maio como um dia nacional de mobilização da educação. Esse dia pode ser o exemplo da unidade dos setores que tenha como centralidade a luta por recomposição e mais verbas para a educação, além da reversão dos cortes recentes e da própria pauta salarial. Por isso, nossa construção na prática dessa data é fundamental.
Somado a isso, o movimento estudantil agora precisa definir o seu papel. Com a aprovação de greves estudantis em universidades importantes como a UFPR, UFMG ou UFF, além de paralisações, greves de bolsistas, estados de greve, entre tantas outras iniciativas, é central que os estudantes construam suas próprias pautas e lutem por agendas unitárias. No cenário local, é fundamental a construção de programas com pautas mínimas para que essa luta também tenha um sentido para os estudantes que já estão com suas aulas paradas.Nacionalmente, porém, o desafio vai além. Hoje a União Nacional dos Estudantes faz o máximo para evitar se posicionar ou atuar sobre a greve – os representantes da sua direção majoritária atuaram em diversas partes do país para fortalecer o movimento anti-grevista. Portanto, construir uma mobilização autônoma e independente em busca de fortalecer a luta contra o desmonte das universidades é necessário, tendo em vista que a maior parte das entidades gerais já coloca uma posição de fortalecer as pautas e lutas estudantis.
É hora, portanto, de unificar, incorporando com mais peso também as pautas dos estudantes, como a defesa da permanência estudantil, e dando um sentido comum à mobilização por meio da unidade contra o desmonte generalizado da educação, como pode ser o exemplo do dia 9. Esse processo só pode ser construído na luta para massificar nossa mobilização, mas também na consciência de que há uma necessidade de alterar o projeto educacional que hoje é proposto para nós.