Nenhum passo atrás: só a luta muda a vida!
Reflexões do juntos! UnB sobre o que está em jogo nas eleições para a reitoria da UnB e qual caminho devemos trilhar.
Escolher em qual chapa votar nesta consulta para quem assumirá a reitoria da UnB para os próximos 4 anos, definitivamente, não está sendo uma escolha agradável para os estudantes. Ainda no primeiro turno da consulta pública, o Juntos! escolheu manter uma postura independente em relação às três chapas que disputavam o pleito, justamente por possuírem fortes limitações programáticas e movimentos e alianças políticas que fogem completamente do que acreditamos ser correto no campo progressista. Agora, diante do segundo turno, queremos expressar de forma mais clara nosso posicionamento.
Balanço do primeiro turno
Na consulta para escolha de reitora e vice-reitor da UnB se apresentaram, nesse pleito, três candidatas com seus respectivos vices. Havia duas chapas de oposição, uma encabeçada por Rozana (93) e outra por Fátima (99), e uma de situação, encabeçada por Olgamir (90). Os elementos, programaticamente falando, que diferem o pensamento político das cabeças de chapa variam muito pouco. Sem exceção, todas as chapas são encabeçadas por mulheres vinculadas ao campo progressista, de centro-esquerda que estão há anos atuando politicamente no ambiente da burocracia universitária e, não menos importante, têm vices que são homens brancos que ocupam tais posições para mobilizar o voto da direita na universidade. É nesse último aspecto que as diferenças mais acentuadas entre as chapas aparecem.
Antes, é importante ressaltar que, embora façam parte de um campo progressista, da centro-esquerda, nenhuma candidatura apresentou um programa para a universidade que se diferencie significativamente das práticas usuais da atual gestão da UnB. Com variações pontuais nas propostas e nas leituras de conjuntura, nenhuma chapa se posiciona firmemente contra o arcabouço fiscal e a meta de déficit zero do Governo Lula, e quando comentam, fazem floreios pouco afirmativos contra “políticas de ajuste”. Nenhuma comenta a importância das greves da educação (principal fato político na educação pública neste ano), não fazem críticas contundentes à estrutura universitária e parece reinar um aspecto de apresentação pública quase que de imparcialidade para gestão, uma velha máxima liberal de que um bom gestor é aquele que é ilibado de opiniões mais fortes. As propostas, assim, giram em torno de melhorias (e muitos retrocessos também, como as propostas de segurança de Fátima, que reproduzem o racismo estrutural) pontuais, que não questionam a estrutura da política universitária e pouco ou nada comentam sobre a crise nacional da educação.
Em suma, todas as chapas presentes nesse processo não irão romper com a política atual da reitoria da UnB que é a postura de gerenciamento da crise. Não assumirão uma postura combativa de atacar o principal motivo de quase todos os problemas mais latentes nas Universidades hoje: a escassez de recursos originada em cortes que começam em 2015 e seguem ocorrendo no atual Governo. O descompromisso com uma agenda de maior enfrentamento é tão nítido que chega ao cúmulo de os nomes “Temer” e “Bolsonaro”, os maiores inimigos mais recentes da educação pública, sequer aparecerem nos debates e, quando perguntadas pelo DCE se iam lutar contra o arcabouço fiscal (política que já acumulou cortes de 1,5 bi na educação) todas deram respostas genéricas dignas de debates de político que topa tudo pra se eleger. Assim, a UnB, independente de quem ganhe, seguirá fazendo uma agenda política de busca de recursos via emendas parlamentares e de espaço na PLOA, quando não de recursos privados, e de aplicação dos cortes e contingenciamentos, em especial nas áreas de atenção estudantil, como a Assistência Estudantil de forma direta, sem assumir uma postura de linha de frente no combate à razão da crise da educação: a política neoliberal de Estado de desmonte e privatização de todos os investimentos sociais, simbolizada no aceno do atual governo com a desvinculação dos pisos constitucionais da Educação e da Saúde.
Nesse cenário, de pouca diferenciação das cabeças de chapa, diante da avaliação da diluição de votos do campo progressista entre as três, todas “escolheram o seu Alckmin” para mobilizar o voto da direita. Imitando a velha política que enxerga nas massas de votantes apenas currais eleitorais guiados por lideranças localizadas, as chapas apostaram que ter homens de direita ou centro-direita como vices seria uma excelente ideia no “topa tudo por voto”, mesmo sabendo da traição que isso simboliza para o campo, com o loteamento futuro da adminstração para esses setores e as claras consequencias nefastas para a comunidade que essas manobras proporcionarão. Assim, como a direita da UnB (tanto seus sectos liberais, quanto os que fazem sinal de arminha saudando o mito) não conseguiu organizar sua própria chapa, agora estão de abutres disfarçados nas candidaturas à vice, pintando-se como antifascistas ou como companheiros da luta.
Não havia, para qualquer movimento de juventude que tem por princípio a combatividade na pauta estudantil e a independência política do Movimento Estudantil, qualquer espaço para entrar na campanha em apoio a tais candidaturas. Por isso, atuamos no DCE para a concretização do programa “A UnB Pode Mais”, que foi construído em conjunto com os CAs/DAs elencando as diversas pautas do Movimento Estudantil de forma independente e buscando a assinatura das candidatas, dando munição para o ME cobrá-las posteriormente.
O que está em jogo no segundo turno
O 2° turno se consolidou com as candidaturas da Olgamir (90), apoiada pela UJS, pela maioria dos setores do PT e pelo Levante, e da Rozana (93), apoiada pela JRdoPT, pelo PDT e pelo PCO. Depois de um primeiro turno marcado por ataques de todos os lados, a oposição à atual administração parece ser a favorita para o segundo turno, tendo acumulado, entre as duas chapas, cerca de 70% dos votos proporcionais a cada setor. Entre os estudantes, o peso do discurso de oposição se sobressai em muito, tendo a Olgamir acumulado apenas cerca de 1.300 dos quase 5.300 totais. Tais números não surpreendem, a avaliação da atual gestão é péssima entre os discentes, não sem motivos. Com figuras como Ileno e Valdeci em postos chaves, a política de gerenciamento da crise caiu com peso nos estudantes, com uma cada vez maior burocratização da assistência estudantil e uma política higienista da prefeitura. Sem mencionar pontos fundamentais, como o aumento do preço do RU e o corte do Intercampi, entre outros tantos problemas, como o dos pagamentos das bolsas de extensão, que jogam luz diretamente sobre a candidata. A questão fundamental, aqui, é a de prioridades, onde se viu um crescimento de 300% nos orçamentos das Unidades Acadêmicas ao passo que a administração bancava a abertura de PADs contra os CAs por fazerem HHs e aprovava medidas para não pagar assistência à quem trancou de forma justificada. Motivos não faltam, os problemas são inúmeros e as respostas, quando vem, subestimam a inteligência dos estudantes.
Com tudo isso, é compreensível quem opta pela oposição por rejeição à atual administração. Ainda assim, é necessário saber quem tem se pleiteado como oposição nesse pleito. Rozana possui uma carreira política típica daqueles que estão/estiveram nos conselhos e câmaras superiores e eventualmente assumem decanatos por mobilizarem apoio em suas unidades. Após ser diretora do IL, foi decana do DAF (Decanato de Administração) por dois anos na gestão da Marcia. No geral, Rozana parece ser parte do mesmo campo político de centro-esquerda burocrática com ideias de gestão afastada dos campos da luta mais direta que caracteriza a maioria dos quadros da atual gestão da professora Márcia. Dizemos parece pois o fato dela não apresentar claras filiações políticas e se utilizar disso como um argumento de pseudo independência via imparcialidade dificulta qualquer confiabilidade na categorização de seu pensamento político.
Para além disso, o problema maior da chapa está nos apoios de grupos políticos que se materializam no candidato à Vice. O vice de Rozana representa o que o Juntos! sempre lutou contra na Universidade, um projeto liberal excludente, privatista e elitista. Márcio Muniz é legado da gestão do Ivan Camargo, gestão que perseguiu o Movimento Estudantil e operou verdadeiras derrotas para o campo progressista na Universidade, além de fazer parte do setor que foi essencial no fortalecimento da Aliança Pela Liberdade, grupo da direita que esteve à frente do DCE por 5 anos e paralisou o Movimento Estudantil na Universidade, as consequências disso enfrentamos até hoje. Na gestão da Aliança, não havia reuniões regulares do Conselho de Entidades de Base (CEBs) nem assembleias, o DCE atuava ativamente pela desarticulação dos CAs e, acima de tudo, não fazia uma luta combativa contra Temer e Bolsonaro. Nos atos do Tsunami da Educação a gestão da Aliança foi para a rua obrigada por Assembleia de mais de 1.200 pessoas convocada pelos CAs e mesmo assim se retirou do ato, alegando ser de cunho ideológico, ou seja, se retiraram das principais mobilizações em defesa da educação e do orçamento das universidades. Seu projeto era o de privatização, elitização da UnB, e seus últimos atos políticos nos espaços da UnB foram a aproximação com as defesas negacionistas de Bolsonaro durante a pandemia.
O problema não está apenas na figura de vice, Márcio Muniz mobiliza aqueles que estiveram na reitoria nos anos em que os conselhos e câmaras não se reuniam, que os recursos eram destinados à suas preferências políticas sem edital público e que as representações dos segmentos eram tratados com enorme truculência, simbolizada no episódio em que o próprio Ivan Camargo jogou uma cadeira nos servidores enquanto se reuniam com ele. Como não se organizaram para lançar chapa própria, se escondem como lobos em pele de cordeiro por trás da figura da Rozana, pagando de antifascistas e de esquerda, coisa que nunca foram. É claro, é importante não negar, que a direita, especialmente na figura de Valdeci e Ileno estiveram na gestão de Márcia e são justamente os epicentros dos problemas que apontamos. Mas, é importante ressaltar, que há um salto de qualidade com Rozana, onde a direita não só estará presente na gestão, mas faz parte integral da formulação e articulação da chapa como um todo, ou seja, assumirá um posto de comando das políticas muito mais amplo e capaz de impor sua agenda, diferente da atual situação que, embora com fortíssimas contradições, ainda são centralizados eventualmente por um programa progressista. Não à toa, a chapa 93 recebeu apoio desta base na UnB que se expressa no voto dos docentes.
A extrema direita e a direita seguem se organizando no Brasil e no mundo, como mostram os exemplos recentes nos Estados Unidos e Argentina, e, na UnB, não faremos parte do setor que vai colocar a direita institucional da UnB, que está não só presente mas construindo ativamente a chapa da professora Rozana, na gestão e na máquina da universidade.
A luta continuará sendo indispensável!
Diante disso, desde o início da campanha, o Juntos! tem trabalhado na construção de um programa do Movimento Estudantil que verdadeiramente reflita nossos interesses. Realizamos longas reuniões com os CAs, passamos nas salas de aula e divulgamos o programa para que todos os estudantes pudessem compreender o tamanho dos nossos desafios.
Para nós, jovens socialistas, estudantes e trabalhadores, é inconcebível que a gestão da Universidade não tenha como prioridade a luta contra o Arcabouço Fiscal e o estrangulamento do orçamento das universidades. Precisamos de uma reitoria independente, que não hesite em enfrentar questões críticas e defender a recomposição orçamentária da Universidade. Com a aprovação do Arcabouço Fiscal e a redução de 300 bilhões no orçamento das universidades, é essencial que a reitoria se oponha a essa política e à meta de déficit zero, que restringe ainda mais os investimentos sociais. A Permanência Estudantil deve ser uma prioridade, com um aumento de 100% nas bolsas pecuniárias e a ampliação das bolsas de auxílio transporte, alimentação e saúde mental. Além disso, é fundamental reduzir o preço do Restaurante Universitário, que subiu de R$2,10 para R$6,10 em 8 anos, e expandir o número de unidades, pois um único RU no Campus Darcy Ribeiro não atende à demanda dos estudantes. Todos esses temas fazem parte do acúmulo, ao longo dessas semanas, e expressos no programa do M.E. divulgado nas redes do DCE. Apresentamos o programa às candidatas que assinaram, como compromisso da gestão caso eleitas, que sabemos que só será cumprido pela luta organizada dos estudantes para cobrar a aplicação dele.
Fato é que, independentemente de quem ganhe, a luta continuará sendo necessária como motor de uma universidade verdadeiramente nossa, nosso programa não será cumprido por ninguém que não nós mesmos, o programa de aprofundamento radical da democracia universitária, da universalização do ensino, da valorização da assistência que garanta que possamos permanecer com qualidade na UnB e que o conhecimento que produzimos possa estar a serviço da construção de um mundo radicalmente novo. Os desafios do próximo período são grandes, e, assim como eles, também são grandes a força e a coragem de uma juventude que ousa sonhar com um mundo diferente e com uma educação libertadora, que sirva à sociedade e à ruptura da lógica que nos é imposta.
Por isso, é mais que compreensível aqueles que optam por votar contra a situação. A dita “esquerda” da universidade foi incapaz de resolver nossos principais anseios e acumulou como resultado uma desconfiança e sentimento de traição típico da esquerda institucional em todo o mundo, que frente a tal sentimento de frustração culpa a indignação popular pela sua derrota. Não seremos jamais parte daqueles que culpam as justas indignações populares, pelo contrário, queremos ajuda-lá a se organizar para conquistar nossas vitórias pautadas nas lutas populares. Justamente por isso, também é nosso papel denunciar que o voto na direita não resolverá nossos problemas, pelo contrário. O legado da direita na Universidade de Brasília é o de perseguição do ME e dos estudantes. Se utilizam da justa indignação nossa para nos enganar e depois nos golpear, como faz a direita e extrema-direita em todo o mundo. Por isso, o Coletivo Juntos! na UnB não se somará a nenhuma campanha, mas afirmamos, sabendo o papel nefasto que uma direita, não so presente na chapa mas partícipe de toda sua construção, terá caso eleita: nenhum voto na direita! Nenhum voto na 93! Seguiremos atuando para incentivar as lutas pelos nossos direitos e em defesa da educação!