Resistência palestina ao genocídio e crise em Israel são destaques entre pré-indicados ao Oscar 2025
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Resistência palestina ao genocídio e crise em Israel são destaques entre pré-indicados ao Oscar 2025

“Não dá para saber se No Other Land de fato vencerá o Oscar ou no fim o sionismo da indústria cinematográfica falará mais alto, mas hoje, sem dúvida alguma, o documentário palestino é o grande favorito e com larga vantagem aos adversários.”

Lucas Giordano 27 dez 2024, 17:29

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos divulgou suas listas montadas por comitês de fase inicial de finalistas para indicações em algumas categorias do Oscar 2025. Na categoria de Melhor Documentário, a presença de dois filmes que abordam questões israelenses e palestinas de forma crítica ao governo sionista de Israel chamam a atenção: No Other Land, produção palestina dirigida por Basel Adra e Yuval Abraham com apoio de Rachel Szor e Hamdan Ballal; e The Bibi Files, produção estadunidense dirigida por Alexis Bloom.  

No Other Land, o documentário palestino, não é surpresa. É o filme do ano e talvez não apenas entre os documentários. A obra acompanha Basel Adra, militante na Cisjordânia, que passa a filmar diariamente a investida do Governo de Israel contra seu vilarejo, expulsando uma a uma famílias de suas casas para derrubá-las com o objetivo final de transformar a área em um campo de treinamento para o exército israelense. Quando Basel conhece Yuval, um jornalista judeu, ambos passam 5 anos (de 2019 até 2023) expondo a brutalidade e repressão sionista no deslocamento forçado. Desde sua estreia no Festival de Berlim em fevereiro de 2024 vem sendo o documentário fenômeno do ano. Ali venceu o prêmio de Melhor Documentário e o Prêmio do Público dentro da Sessão Panorama, prêmios esses que levaram à época o prefeito de Berlim criticar o filme e os responsáveis pelo festival. Mas não parou por aí, No Other Land saiu premiado em festivais importantes como o IndieLisboa em Portugal e o CPH: DOX na Dinamarca. No Brasil, venceu como Melhor Documentário na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde eu assisti. Agora, na temporada de premiação da crítica estadunidense, muito usada para alavancar filmes nas campanhas para o Oscar, No Other Land também vem vencendo inúmeros prêmios mesmo com pouco dinheiro para divulgação, sendo o documentário mais premiado nos EUA. Não dá para saber se No Other Land de fato vencerá o Oscar ou no fim o sionismo da indústria cinematográfica falará mais alto, mas hoje, sem dúvida alguma, o documentário palestino é o grande favorito e com larga vantagem aos adversários.  

Mas se No Other Land tinha lugar certo entre os 15 finalistas do comitê de documentário para buscar uma das 5 indicações ao Oscar, The Bibi Files é uma grande surpresa. Primeiro pois enquanto ele entrou, documentários de bem mais repercussão e dinheiro ficaram de fora. Segundo pelo motivo de que o documentário de Alexis Bloom teve pouquíssimas exibições até aqui. A obra acompanha o processo de investigação contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre acusações de suborno e fraude, utilizando de gravações vazadas feitas pela polícia israelense de interrogatórios que ocorreram entre 2016 e 2018. O produtor de The Bibi Files, o prestigiado cineasta Alex Gibney, afirma que as gravações inéditas de Benjamin Netanyahu reveladas pelo filme “são evidências poderosas de seu caráter vil e corrupto e de como isso nos levou aonde estamos agora”.  

A lembrança dos comitês do Oscar para as questões de ambos os países no Oriente Médio não ficou apenas na categoria de Melhor Documentário. O filme enviado pela Palestina para disputar o Oscar de Melhor Filme Internacional, From Ground Zero, também ficou entre os 15 finalistas de sua categoria. O Oscar de Melhor Filme Internacional é feito para filmes de países além dos EUA, onde cada país tem seu método e envia um filme por ano para representá-lo na busca por indicação na categoria. A grande surpresa aqui foi justamente a Palestina não ter escolhido No Other Land como seu representante no Oscar, podendo conseguir até duas indicações, em documentário e em filme internacional, para enviar um filme que até o momento do envio havia sido pouco apresentado no mercado internacional. Não há nada oficial sobre as motivações do comitê palestino, mas a teoria mais realista é de que já esperavam a força de No Other Land na categoria de Melhor Documentário e então decidiram apresentar um outro filme para Melhor Filme Internacional, podendo, de forma otimista, ter dois filmes palestinos no Oscar. Pois bem, se essa foi a estratégia, até aqui deu certo. From Ground Zero é um filme em antologia, contando pequenas histórias com começo, meio e fim uma atrás da outra, como se fosse uma coletânea de curta-metragem. Ao todo são 22 histórias, cada uma dirigida por um cineasta diferente, todos palestinos. O filme foi filmado após Outubro de 2023, quando Israel avançou de forma mais radical no genocídio contra o povo palestino usando os atentados do Hamas como justificativa. Foi naquele momento, em Gaza, que o reconhecido cineasta Rashid Masharawi, diretor de importantes filmes do cinema palestino como Haifa e O Aniversário de Laila, criou um fundo de formação e apoio a jovens então futuro cineastas que passaram a explorar sua criatividade e filmaram as histórias que vemos em From Ground Zero. Entre as 22 histórias do longa, alguns dos jovens escolheram fazer documentários, outros ficção de diferentes gêneros e teve até quem optou em utilizar animação. Apesar de ser uma categoria difícil, com muito filme competitivo, não vejo From Ground Zero sem chances de ser indicado e seria uma grata surpresa.  

O prestígio dos comitês dessa fase inicial do Oscar a filmes que expõe a realidade do genocídio que ocorre contra os palestinos, ao mesmo tempo que o governo sionista de Israel, representado pela inescrupulosa pessoa de Benjamin Netanyahu, busca ocultar seus escândalos de corrupção, fica mais interessante de ser analisado, quando na temporada de prêmios do fim de 2023 culminando no Oscar 2024 a indústria cinematográfica estadunidense estava de joelhos ao sionismo tal qual o governo do Partido Democrata. Por mais que haviam astros e estrelas de Hollywood se posicionando contra o genocídio palestino, a indústria em sua maioria estava com Israel. Quando o britânico Jonathan Glazer, cineasta judeu, vence o Oscar de Melhor Filme Internacional por Zona de Interesse, filme que acompanha uma família nazista vivendo normalmente durante o holocausto, e no seu discurso faz críticas indiretas ao que está ocorrendo em Gaza, no dia seguinte inúmeros artistas e associações judaicas em Hollywood fizeram uma carta de repúdio a ele o que culminou em uma onda de ódio ao diretor premiado. Agora, temos 3 filmes sobre a situação entre Israel e Palestina, um crítico a Netanyahu e os outros dois dando voz ao povo palestino e isso é mais um sentimento de que a opinião popular vem mudando e as pessoas estão mais dispostas a ouvir e até entender o lado dos palestinos. A divulgação, a apreciação e reconhecimento de filmes principalmente como No Other Land e From Ground Zero são uma marca para a história, uma fonte que vai além das denúncias ao presente, mas um registro à posteridade.  

No Other Land, graças ao seu enorme reconhecimento, provavelmente estreará nos cinemas brasileiros até Março de 2025. From Ground Zero, mesmo se não for indicado ao Oscar, tem potencial para estrear em algum momento nos cinemas, mas até agora não tem nada. The Bibi Files estreou nos EUA diretamente em plataforma para aluguel e deve seguir o mesmo caminho no Brasil. A lista de indicados ao Oscar será divulgada no dia 17 de Janeiro.


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