Construir um encontro dos Estudantes Ecossocialistas
Manifesto do Movimento Juntos! por um Encontro Nacional dos Estudantes Ecossocialistas no 60º Congresso Nacional da UNE
Nossa geração, desde cedo, sente na pele as consequências da crise que vivemos. Seja a juventude indígena brasileira sofrendo pelas queimadas e destruição ambiental até os estudantes imigrantes dos Estados Unidos sendo deportados por lutar contra o genocídio: somos os primeiros a ser afetados por um sistema que em nada nos beneficia. Somente no ano passado, os três mil bilionários que existem no mundo tiveram sua riqueza aumentada em dois trilhões de dólares, enquanto isso mais de 700 milhões de pessoas no mundo passam fome.
Ao mesmo tempo, por meio da Inteligência Artificial e da super-concentração de tecnologia, as Big Techs aumentam a poluição – só o Google, por exemplo, consumiu mais energia que países como a Islândia ou a Gana. Eles dizem criar um mundo novo, mas é um mundo somente para eles. Os encontros de Trump e Elon Musk na Casa Branca, mostram a cara desse futuro que querem construir: um para poucos, os dispostos a destruir o planeta e a humanidade para manterem seus privilégios.
Eles sabem bem quem são seus inimigos. Estudantes como Mahmoud Kalhil, liderança estudantil e palestino, que foi preso e deportado porque no ano passado liderou manifestações nos Estados Unidos contra o genocídio em Gaza. Eles nos vêem como inimigos porque têm medo de acontecer em outros países o que aconteceu em Bangladesh, onde o próprio movimento estudantil conseguiu derrubar uma presidente pela luta nas ruas.
Por isso nós precisamos também tomar lado e compreender que é possível derrotar nossos adversários. A juventude não pode ser aquela que abaixa as suas bandeiras, com medo daqueles que querem nos dominar. Não pode ser aquela que espera salvadores ou acredita que se pode encontrar uma saída dando as mãos aos que querem nos destruir. Como fez a juventude de 1968, precisamos, nós, construir o nosso próprio caminho.
Isso não significa não saber olhar para os exemplos de quem veio antes. Precisamos aprender, por exemplo, com a luta milenar dos povos indígenas e nos conectar com a experiência e renovação expressa pela IV Internacional no seu “manifesto por uma revolução ecossocialista”. É nosso desafio derrotar os bilionários, enfrentando eles no centro de contradição de seu sistema: na exploração do homem e na destruição da terra.
Mas, para isso, o movimento estudantil brasileiro precisa mudar os seus rumos. Nós, que fomos protagonistas na luta contra os cortes na educação e pela saída de Bolsonaro no poder. Precisamos agora entender que é necessário expandir nosso horizonte: está na hora de fazer o que nos dizem ser impossível, se tornar inevitável. Para isso, temos três desafios principais: a construção de um programa ecossocialista, a internacionalização da nossa luta e a construção de um movimento estudantil que, de fato, disputa os rumos da nossa sociedade.
O movimento estudantil precisa de um programa ecossocialista que dê nome aos bois, levando às últimas consequências nossa luta contra os bilionários. Isso significa que além de defender que se mantenha o que já nos é direito, como a manutenção do piso da educação, temos que lutar por medidas anticapitalistas de mudança dessa sociedade. Pelo fim da escala 6×1, reforma agrária e soberania alimentar, reforma urbana popular, passe-livre universal, fim do desmatamento, desprivatização dos serviços básicos, determinação dos povos e demarcação indígena. Combater a extrema-direita não se dá somente aceitando o mínimo possível, como em muitos momentos faz o atual governo Lula: é preciso defender uma sociedade radicalmente diferente e dialogar com aqueles que se indignam com sua exploração, mesmo que não saibam de onde ela vem.
Além disso, precisamos nos conectar com as lutas de todo mundo: sejam os palestinos que se mobilizam contra o genocídio, os sarauís que se organizam contra a ocupação de seu território, os argentinos e norte-americanos que enfrentam a extrema-direita ou os sul-coreanos que impediram um golpe de Estado. O internacionalismo precisa ser construído na prática, a luta contra uma casta global de poderosos não pode ser feito de forma isolada. Aqueles que medem nossa força só pelo momento nacional estão fadados a se surpreender pela força que pode ter a juventude.
Por fim, o movimento estudantil precisa ser protagonista e ativo em disputar toda sociedade. Fizemos assim em Junho de 2013 e no Tsunami da Educação, precisamos acender o espírito da rebeldia e luta social. A direção da União Nacional dos Estudantes, hoje se abstém de debater temas centrais como o arcabouço fiscal ou a perfuração do foz da amazônia e, ao mesmo tempo, faz um congresso que restringe a livre disputa de ideais, impedindo eleições e o debate aberto de ideias. Mostram um limite não só de método, mas de política. Nosso caminho tem que ser radicalmente oposto, em método e na prática: ampliar o debate e convencer os estudantes da necessidade de lutar por revolução ecossocialista.
É nesse sentido que os estudantes precisam de espaços para se organizar. Refletir um calendário, construir ações unitária e buscar uma saída que permita que aqueles que estão dispostos tenham como se organizar. Temos que debater como conquistar aqueles que podem ser convencidos: os milhões de estudantes brasileiros que de alguma forma veem que tem algo errado na vida que estão vivendo. O Congresso da UNE, ao ser o maior encontro de estudantes do Brasil, vai ser importante para essa disputa, mas sabemos que, por conta da sua direção, também terá seus limites.
Por isso, esse encontro que reúne dezenas de milhares de estudantes em todo Brasil precisa de um espaço próprio, daqueles dispostos a construir uma saída. Fazer no CONUNE também um encontro entre os estudantes ecossocialistas reunindo todos que acreditam em uma saída radical para esse sistema. Utilizar desse espaço para construir um momento onde qualquer estudante, centro acadêmico, coletivo, DCE, associação indígena ou quilombola possa se organizar para construir o ecossocialismo em cada canto do Brasil. Que possa reunir experiências nacionais e internacionais com aqueles que querem dar o próximo passo e tire um calendário que possa disputar o todo do movimento estudantil.
Mas esse processo só pode ser feito se for iniciado desde já, em cada universidade. Disputar nosso programa, demonstrar que não estamos sozinhos nessa luta e apontar um caminho para o movimento estudantil é o desafio de todo estudante que acredita em uma saída radical para esse sistema. Em cada eleição, tiragem de delegados ou cada atividade que possamos construir com a plataforma Universidades Contra o Fim do Mundo, o Juntos vai construir pontes entre os que defendem a classe trabalhadora e nosso planeta e ser protagonista nesse desafio: é hora do movimento estudantil brasileiro se conectar com o mundo e construir uma saída revolucionário e ecossocialista!