Por um Movimento Estudantil à altura dos desafios do nosso tempo
Comunicação Juntos!

Por um Movimento Estudantil à altura dos desafios do nosso tempo

Nossa força está na construção de um campo de luta independente, que incorpore a pluralidade de pautas e setores para avançar nas demandas des estudantes

A maior universidade do Brasil passará nos próximos meses pelas eleições do Conune 2025 e pelas eleições do DCE da USP, processos eleitorais importantes, que vão além da disputa dos delegados da USP para o próximo congresso da UNE ou de quem serão os próximos diretores do maior DCE do país. Se trata de uma disputa de concepção de movimento, e qual Movimento Estudantil a Universidade de São Paulo precisa para avançar nas demandas internas e externas à universidade hoje.

2025 chegou demonstrando a complexidade da conjuntura que vivemos. Por um lado, a extrema-direita se fortalece e se reorganiza no cenário global avançando no seu projeto de ataque à classe trabalhadora e aos mais vulneráveis, ao mesmo tempo que vemos levantes ocorrendo ao redor do mundo. Enquanto Trump persegue às universidades, estudantes e todos que ousam apoiar a resistência palestina, persegue a vida das pessoas trans e impõe uma guerra tarifária com outros países do mundo, vimos as ruas do EUA sendo ocupadas por diversas manifestações que expressaram a indignação do povo contra o seu governo de extrema direita. No Brasil, a greve das federais que ocorreu no ano passado expressou a insatisfação e a luta contra as políticas neoliberais do governo federal. Vemos diariamente os setores mais marginalizados da classe trabalhadora indo para ofensiva contra o status quo, como as paralisações nacionais dos entregadores de aplicativo por melhores condições de trabalho e as mobilizações pelo fim da escala 6×1. Em São Paulo, Tarcisio e Nunes realizam um verdadeiro desmonte da educação, com sua política de militarização, privatização e sucateamento das escolas, mas vemos também a resistência do Movimento Secundarista e dos professores, que realizaram uma histórica greve no município de São Paulo.

Na Universidade de São Paulo, a calourada de 2025 foi marcada pelo corte de 50% das bolsas PAPFE antes mesmo das aulas começarem, fazendo com que muitos estudantes não conseguissem efetivar suas matrículas dado a incerteza de conseguir se manter na universidade sem o apoio da mesma, pelas filas quilométricas, além do normal nos circulares e nos bandejões, com quedas de energias e uma grande instabilidade dos sistemas USP, com alunos não conseguindo acessar nem o Moodle ou o Jupiterweb. Tudo sem nenhuma resposta ou posição concreta da Reitoria da universidade. Esse cenário é só a ponta do iceberg dos diversos problemas que ainda vivenciamos na universidade de São Paulo. As dificuldades que encontramos na USP vão além de problemas pontuais, são consequências diretas de uma lógica neoliberal, privatista e meritocrática de uma instituição que se nega a repensar efetivamente uma mudança na sua estrutura, que carrega em sua história a vergonha de ser a última universidade do país a aprovar a implementação das cotas raciais, e que mesmo diante da grande movimentação das universidades públicas do país adotando a política de cotas trans, ainda se nega a sequer debater essa política nas suas instâncias de decisão.

É de conhecimento geral que a universidade tem diversos problemas para além desses que ocorreram no começo do ano; uma política de permanência estudantil insuficiente, com uma bolsa auxílio aquém do que necessário para os estudantes viveram no estado de SP e com a falta de vagas nas moradias, ataques constantes aos espaços estudantis, falta de democracia nas tomadas de decisão da universidade e tantos outros. Essa lógica neoliberal é reforçada pelo laboratório que Tarcísio tenta impor em São Paulo, com uma agenda de retrocessos históricos pra educação, como o leilão e a militarização das escolas, além da expansão da face autoritária com a PM ampliando a violencia e o assassinato da juventude negra no estado. A responsabilidade do movimento estudantil da USP é também de impor derrotas àquele que tenta ser o próximo nome da extrema direita no país.

Nós do Juntos! Compreendemos que só é possível reverter a realidade destes problemas a partir da construção de mobilizações de forma ampla, que envolva os mais diversos setores da universidade, assim como foi na greve de 2023, na Caravana pelas Cotas Trans ou na paralisação do último dia 08 de maio, que construiu o maior ato estudantil desde a greve de 2023 e envolveu mais de 60 cursos da universidade paralisados para arrancar as cotas trans e o vestibular indígena de uma universidade que expressa na sua institucionalidade um conservadorismo e autoritarismo enorme.

É com os acúmulos adquiridos a partir desses processos de mobilização que nos propomos a disputar as eleições do Conune e do DCE da USP como uma forma de expandir esses debates com toda a base dos estudantes. Se a conjuntura nacional é de crescimento da extrema direita e sucateamento da educação, entendemos que a resposta do movimento estudantil deve ser a partir da mobilização e da ofensiva em busca de uma educação pública de qualidade. Embora muito importante, a principal disputa das eleições não pode ser o número de delegados ou a direção da entidade, mas sim a consciência dos estudantes para um projeto de mundo que rompa com a dinâmica de exploração e de uma universidade que esteja a serviço da população. Entendemos a importância de estar à frente e de dirigir entidades, afinal, os últimos grandes processos de mobilização da USP – a greve de 2023 e a paralisação do dia 08 de maio – só foram possíveis porque a frente da maior entidade estudantil da universidade temos uma gestão que aposta no envolvimento de todos os estudantes nas mobilizações, não apenas daqueles que estão à frente de D.As e CAs.

O Movimento Estudantil da USP tem uma grande responsabilidade perante a sociedade. Diante da crise climática sem precedentes que vivemos hoje, precisamos refletir qual é o papel da nossa universidade, para quem servirá o conhecimento que produzimos aqui dentro: para a população mais impactada pelas catástrofes climáticas ou para aqueles poucos que exploram a natureza e produzem estas catástrofes. Diante do aumento do custo para se viver e da piora da qualidade de vida, não podemos aceitar tetos de gastos, seja o da USP, que impede um valor do PAPFE digno para os estudantes, ou do governo federal que impede investimentos para áreas essenciais como saúde e educação. Diante da precarização do trabalho, por conta da escala 6×1, da uberização e pejotização que a juventude vive, precisamos compreender que a nossa vitória não virá das instituições ou parlamentos, e sim da nossa mobilização nas ruas. O Movimento Estudantil precisa estar conectado com as urgências da nossa juventude e cumprir o papel de impulsionador de lutas, papel esse que infelizmente a União Nacional dos Estudantes – Entidade que representa os estudantes de graduação do país – não cumpre hoje. A UNE já foi uma entidade de luta, cumpriu um importante papel de resistência à Ditadura Militar e na sua história mais recente organizou os estudantes contra os ataques do ex-presidente Bolsonaro à educação e às universidades públicas. Hoje, porém, a UNE que deveria cumprir o papel de aglutinador das lutas estudantis mal é conhecida na base dos estudantes. Ela tem na sua direção um grupo que ativamente atua para desmobilizar os estudantes, que durante a greve das universidades federais de 2024 desincentivou os estudantes a lutarem por melhores condições diante da falta de orçamento nessas universidades e que tem secundarizado as lutas do nosso tempo.

Diante desse panorama, insistimos que nossa força está na construção de um campo de luta independente, que incorpore a pluralidade de pautas e setores para avançar nas demandas des estudantes. Nesse sentido, nós do Coletivo Juntos! convocamos a todes estudantes a 1. construir um processo permanente de mobilização na universidade, que se iniciou no dia 08/05 com a paralisação da USP para arrancar da reitoria as cotas trans e o vestibular indígena, conquistar bolsas automáticas e sem teto para cotistas, retorno do gatilho automático, fim do edital de mérito, ampliação imediata da frota dos circulares e ampliação das vagas nas moradias estudantis. 2. a construir conosco uma alternativa no movimento estudantil, com aqueles que acreditam que não podemos ser rendidos ao imobilismo e nem acham que sozinhos conseguimos conquistar mudanças.

Vem com o Juntos! construir uma alternativa pra USP e pro país, que faça do CONUNE um espaço de debate e mobilização para enterrarmos de vez a extrema direita e a conciliação de classes e construir uma revolução ecossocialista que defenda o nosso futuro!


Imagem O Futuro se Conquista

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