A INFLUÊNCIA DO SIONISMO NA AMÉRICA LATINA
Reprodução: O Globo | Jorge William/Agência O Globo

A INFLUÊNCIA DO SIONISMO NA AMÉRICA LATINA

A influência do sionismo na América Latina tem uma história complexa, influenciada por migrações judaicas, relações diplomáticas com Israel e o contexto político regional. Desse modo, o artigo pretende analisar como a influência do sionismo está presente na influência cultural, educacional e política na América Latina. Para tanto, a pesquisa foi feita no foco entre Brasil e Argentina, ambos os países com a maior comunidade judaica da América Latina. Verifica-se que nos governos Jair Bolsonaro no Brasil (2019-2022), Javier Milei na Argentina e Nayib Bukele em El Salvador adotaram uma postura explicitamente pró-Israel e pró-sionista, aprofundando laços diplomáticos, econômicos e simbólicos com o Estado judeu. Essa relação vai além da política e da diplomacia, refletindo a visão pessoal de Milei e Bolsonaro e suas bases de apoio

Resumo: A influência do sionismo na América Latina tem uma história complexa, influenciada por migrações judaicas, relações diplomáticas com israel e o contexto político regional. Desse modo, o artigo pretende analisar como a influência do sionismo está presente na influência cultural, educacional e política na América Latina. Para tanto, a pesquisa foi feita no foco entre Brasil e Argentina, ambos os países com a maior comunidade judaica da América Latina. Verifica-se que nos governos Jair Bolsonaro no Brasil (2019-2022), Javier Milei na Argentina e Nayib Bukele em El Salvador adotaram uma postura explicitamente pró-israel e pró-sionista, aprofundando laços diplomáticos, econômicos e simbólicos com o Estado judeu. Essa relação vai além da política e da diplomacia, refletindo a visão pessoal de Milei e Bolsonaro e suas bases de apoio.

Palavras-chave: sionismo, Brasil, Argentina, judaísmo, israel.

Abstract: The influence of Zionism in Latin America has a complex history, influenced by Jewish migrations, diplomatic relations with israel, and the regional political context. Thus, this article aims to analyze how Zionism influences cultural, educational, and political influence in Latin America. To this end, the research focused on Brazil and Argentina, both countries with the largest Jewish communities in Latin America. It appears that during the administrations of Jair Bolsonaro in Brazil (2019-2022), Javier Milei in Argentina, and Nayib Bukele in El Salvador, they adopted an explicitly proisrael and pro-Zionist stance, deepening diplomatic, economic, and symbolic ties with the Jewish state. This relationship goes beyond politics and diplomacy, reflecting the personal vision of Milei and Bolsonaro and their support bases.

Keywords: zionism, Brazil, Argentina, judaism, israel

1. Introdução

Para entender sobre o Sionismo, é preciso estudar Theodor Herzl e Zeev Jabotinsky e o que é o sionismo e o que eles defendiam? O sionismo é um movimento ideológico que defende o direito a criação de um Estado nacional judeu em sua terra histórica, a região da Palestina (identificada pelos sionistas com a antiga terra de israel, ou Eretz israel). Inicialmente o Estado judeu, sem local definido (chegou-se a considerar Uganda e Argentina), mas posteriormente consolidou a sua ocupação colonial na Palestina. O sionismo também se baseia na conexão histórica e cultural dos judeus com a região (Jerusalém, Judeia, Samaria etc.), remontando aos tempos bíblicos e argumenta que, após séculos de diáspora e perseguições (como o Holocausto), os judeus merecem um lar nacional seguro, e defendem que os judeus devem ter um Estado próprio para garantir sua segurança e continuidade cultural. Em seu livro The Charismatic leader, Theodor Herzl, considerado o pai do sionismo argumenta sobre a importância de um líder carismático para unir pessoas em torno de uma causa nacional, especialmente no contexto do movimento sionista. Seu próprio papel como figura pública e organizador do congresso sionista (1897) reflete essas ideias. Herzl via a política como um tipo de “teatro”, onde gestos simbólicos e discursos impactantes eram fundamentais para o apoio internacional e popular. No livro Jabotinsky: O Pensamento Revisionista do autor Yaakov Sharit analisa profundamente a ideologia e o impacto de Zeev Jabotinsky, fundador do sionismo revisionista, uma corrente mais militarista e revisionista do movimento sionista. Jabotinsky criticava o sionismo dominante de Theodor Herzl e David Ben Gurion por ser muito conciliador com os britânicos e pouco assertivo na luta por um Estado judeu na região. Jabotinsky também insistia num estado que incluísse toda a Palestina histórica, baseado no direito bíblico e estratégico. Sharit mostra como o revisionismo de Jabotinsky influenciou e moldou partidos de extrema-direita como o Herut e o Likud (atual partido e governo de Benjamin Netanyahu) defendendo a limpeza étnica em Gaza, assentamentos ilegais na Cisjordânia, menos concessões aos palestinos e a aliança com o Ocidente. Sharit apresenta Jabotinsky como um estrategista radical, cujas suas ideias se tornaram centrais na direita israelense pós-1967.

2. O sionismo na Argentina

A Argentina abriga a maior comunidade judaica da América Latina (entre 180.000 e 250.000 pessoas) e tem uma relação histórica profunda com o movimento sionista. No final do século XIX, judeus askenazim (Europa Oriental) e sefarditas (Império Otomano e Norte da África) migraram para a Argentina fugindo de perseguições e pobreza. O governo argentino, sob a presidência de Domingo Faustino Sarmiento e Julio Argentino Roca, incentivaram a imigração europeia, incluindo judeus, através da Lei de Imigração e Colonização (1876). A Jewish Colonization Association (JCA), fundada pelo filantropo Maurice de Hirsch, estabeleceu colônias judaicas em províncias como Entre Ríos, Santa Fé e Buenos Aires. No início do século XX, organizações sionistas como a Poalei Zion (sionistas trabalhistas) e Mizrachi (sionistas religiosos) ganharam força e após o holocausto a criação de israel (1948), o sionismo se tornou um pilar identitário para muitos judeus argentinos. As principais organizações sionistas do país são a AMIA (Asociación Mutual Israelita Argentina) e a DAIA (Delegación de Asociaciones Israelitas Argentinas) representa politicamente boa parte da comunidade judaica e os interesses sionistas no país e veem o governo de Javier Milei como um aliado, por conta de sua política pró-Israel, após anos de anos de governos kirchneristas mais críticos a israel. A Argentina foi um dos 33 países que votaram a favor da criação de israel na ONU (1947), durante a Guerra das Malvinas (1982), israel apoiou indiretamente a Argentina, vendendo armas, apesar de ser aliado formal do Reino Unido. Nos Anos 1990, o governo neoliberal de Carlos Menem aprofundou laços com israel, incluindo visitas oficiais e acordos de cooperação militar. Suspeita-se que israel durante a ditadura militar Argentina tenha ajudado a localizar os Montoneros (grupo guerrilheiro), pois a SIDE (inteligência Argentina) treinou com a Mossad (serviço secreto israelense). Nos tempos atuais, o governo de Javier Milei se aproximou bastante de israel, pois o mesmo se declarou “sionista cristão”, frequentemente cita a bíblia para justificar seu apoio a israel, votou contra resoluções da ONU criticando israel, diferindo de governos anteriores como os de Kirchner e prometeu mover a embaixada argentina de Tel Aviv para Jerusalém (seguindo os passos de Trump e do Horácio Cartes(ex-presidente do Paraguai) em 2018), embora ainda não o tenha feito por conta de pressões diplomáticas.

3. O apoio de israel a ditaduras Latino-Americanas

Após a Guerra dos seis dias (1967) e a Guerra do Yom Kippur (1973), israel enfrentou boicotes árabes e precisou de novos mercados para sua indústria bélica. Os EUA apoiaram e financiaram ditaduras anticomunistas na América Latina, e israel seguiu uma linha semelhante. A Argentina (1976-1983) foi a ditadura mais próxima de israel, com a venda de armas e treinamento militar, israel forneceu aviões, fuzis Galil, equipamentos de repressão e táticas de tortura usados contra opositores. Cerca de 1.500 a 2.000 judeus foram vítimas da ditadura argentina (12% dos desaparecidos, apesar de que os judeus serem apenas 1% da população). Organizações judaicas como a DAIA e a AMIA foram acusadas de não denunciar suficientemente o regime, temendo represálias. No Chile (1973-1990), israel reconheceu rapidamente a ditadura de Pinochet, após o golpe de 1973. israel vendeu armas e treinamento de forças especiais, incluindo técnicas de interrogatório (usadas na DINA, a polícia secreta chilena). Alguns judeus-chilenos apoiaram Pinochet (como o economista Sergio Melnick) e outros como o Partido Comunista Judaico foram perseguidos. No Brasil (1964-1985) houve menos envolvimento direto, mas houve cooperação em tecnologia militar, como a venda de armas israelenses como ocorre até os dias atuais com a compra de 36 obuseiros da Elbit Systems e a venda de submetralhadoras Uzi usadas por forças de segurança. israel também obteve influência na América Central (Guatemala, El Salvador, Nicarágua). Na Guatemala, israel treinou forças de segurança nos anos 1980, ajudando combater guerrilhas de esquerda. Em El Salvador teve o apoio israelense ao governo salvadorenho na guerra civil (1979-1992) para combater o grupo guerrilheiro FMLN. Na Nicarágua, israel vendeu armas para a ditadura de Somoza antes da Revolução Sandinista (1979). Por que israel se aliou a regimes violentos? israel via esses regimes como aliados contra o terrorismo e a influência soviética. No âmbito econômico, a indústria bélica israelense (como a IAI-Indústria Aeroespacial Israelense) dependia de exportações e no âmbito diplomático, muitos países latino-americanos cortaram relações com israel após a Guerra do Yom Kippur (1973), então israel buscou parcerias com quem ainda o apoiasse. Segundo o advogado israelense Eitay Mack, um dos especialistas que analisa a influência de israel durante as ditaduras e guerras civis na América Latina, disse que ao contrário dos Estados Unidos, israel não estava envolvido diretamente nos golpes militares citados, mas ajudou na sobrevivência desses regimes.

4. O sionismo no Brasil

O sionismo no Brasil tem uma história significativa, influenciando tanto a comunidade judaica local quanto as relações entre Brasil e israel. No Brasil, a imigração judaica começou no século XIX, mas cresceu no século XX, especialmente com judeus askhenazim e os sefarditas. A comunidade judaica brasileira, hoje é estimada em cerca de 120.000 pessoas, segunda maior comunidade judaica da América Latina, atrás somente da Argentina, concentrando-se principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Desde o início do século XX, surgiram no Brasil as duas principais entidades sionistas como a Federação Sionista do Brasil (FSB) fundada em 1919 e a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) fundada em 1948, que representa a comunidade judaica brasileira e os interesses do Estado de israel no país. Partidos e movimentos sionistas como a WIZO, Keren Hayesod e o KKL tem forte atuação, promovendo arrecadação para israel e a educação judaico-sionista. O Brasil reconheceu israel em 1949 e mantém relações diplomáticas, embora com altos e baixos (especialmente durante os governos de Lula e Dilma Rousseff). O atual governo Lula tem tido atritos com israel, especialmente após críticas ao genocídio em Gaza, o que gerou reações da comunidade judaica brasileira. Figuras abjetas como André Lajst, presidente da StandWithUs no Brasil e Alexandre Schwartsman são grandes porta-vozes dos interesses sionistas no país, como o André Lajst recebendo espaço em podcasts como Flow e Inteligência Ltda e na grande mídia como a Rede Globo para propagar a ideologia ocidental pró-israel. Apesar das críticas do governo Lula, o Brasil ainda mantém relações com israel e a Petrobrás continua fornecendo combustível para a continuação do genocídio em Gaza. Com a exploração da Foz do Rio Amazonas que está prestes a sair do papel, dois dos blocos de lotes de exploração foram adquiridos pela empresa israelense NewMed Energy em um leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 2019. A Newmed, por sua vez formou um consórcio com a Enauta Energia, uma empresa brasileira, para operar nesses blocos. Durante o governo Jair Bolsonaro (2019-2022), Brasil e israel mantêm um acordo de cooperação em segurança pública, assinado em 2019, que inclui o intercâmbio de informações, tecnologias, experiências e capacitação técnica e a relação entre os dois países foi intensificada, com visitas oficiais e abertura do de um escritório da Embradef(Empresa Brasileira de Defesa) em israel. israel vende armas e equipamentos não letais como pistolas, fuzis, tasers e granadas de efeito moral para as polícias estaduais (especialmente a Polícia Militar do Rio de Janeiro) e federais. Empresas israelenses como ELTA Systems e Magen David Security Systems foram contratadas para fornecer sistemas de monitoramento por câmeras, reconhecimento facial e análise de dados para cidades como Rio de Janeiro e Brasília, no Rio de Janeiro o CEPISP (Centro de Polícia Inteligente) localizado na Maré, foi idealizado com inspiração israelense e no Distrito Federal, o governo Ibaneis Rocha firmou um grande contrato para um sistema integrado de vigilância com a empresa Israelense Elta.

5. Conclusão

Apesar de boa parte da comunidade judaica latino-americana estar ligada aos interesses sionistas, há judeus críticos ao sionismo, onde alguns intelectuais e ativistas como o grupo JAG (Judíos Argentinos por una paz justa), que defendem direitos palestinos e criticam a ocupação israelense. Nem todos os judeus são sionistas, há figuras que são importantes como o Breno Altman e os judeus antissionistas na América Latina geralmente se organizam em grupos e se alinham as correntes judaica humanista, alguns setores do judaísmo reformista, judeus marxistas e os judeus que priorizam a diáspora judaica fora de israel. Em países como Brasil, México e Argentina, existem coletivos menores de judeus antissionistas ou não-sionistas que publicam artigos, organizam eventos e participam de protestos em solidariedade ao povo palestino e que rejeitaram a educação sionista e não devemos confundir antissionismo com antissemitismo, são duas coisas diferentes. As mesmas armas israelenses que matam os palestinos, são as mesmas armas que contribuem para o genocídio das forças de segurança nas favelas no Brasil e caem nas mãos do narcotráfico na América Latina. O México é o caso mais emblemático, armas israelenses, particularmente rifles de assalto Galil e pistolas Jericho 941 haviam sido apreendidas em grandes quantidades em operações contra o Cartel de Sinaloa e Jalisco Nueva Generación (CJNG). Investigações jornalísticas (como a de Ayala Ambroso para o projeto “Trafficking Inc” de OCCRP e Insydde) rastrearam como estas armas, vendidas legalmente as polícias estaduais do México, terminaram nas mãos dos cartéis há poucos meses através da corrupção e do desvio. No Brasil, as milícias no Rio de Janeiro haviam sido encontradas com fuzis israelenses IMI Galil, que muito provavelmente foram desviados das forças de segurança. Na Colômbia, durante o apogeu dos Cartéis de Medellín e Cali, assim como grupos paramilitares de extremadireita como a AUC (Autodefensas Unidas de Colombia), foi reportado uso de sub fuzis Uzi e outras armas de origem israelense. Ou seja, devemos combater os interesses sionistas na América Latina, pois israel junto com os EUA atacam a soberania LatinoAmericana e detém grande influência e um grande Lobby principalmente no governo atual de Javier Milei na Argentina, onde a ministra da Segurança Pública do país, Patrícia Bullrich negociou compra de armamentos israelenses para reprimir os protestos contra o corte dos direitos dos aposentados e dos deficientes no país. No Brasil, Lula deve romper as relações com o Estado de israel, pois não adianta somente criticar, precisa agir e fazer que nem a Colômbia de Gustavo Petro fez em 2024 e a Venezuela de Hugo Chavez em 2009.


Referências Bibliográficas:

DEREK JONATHAN PENSLAR. Theodor Herzl : the charismatic leader. New Haven: Yale University Press, 2020.

YAACOV SHAVIT. Jabotinsky and the revisionist movement 1925-1948. London: Case, 1988.

Bokser Liwerant, J., et al. (Eds.). (2019). El sionismo em América Latina: Dimensiones y perspectivas múltiples. Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) / Centro de Investigaciones sobre América Latina y el Caribe (CIALC).

Rein, R. (1993). Argentina, Israel y los judíos: Encuentros y desencuentros, mitos y realidades. AMIA / Editorial Milá.

Lesser, J. (1995). Welcoming the Undesirables: Brazil and the Jewish Question. University of California Press. (Trad. Al portugués: Judeus e indesejáveis: Os imigrantes judeus no Brasil).


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