UFMG se posicione contra a extrema-direita: rompa relações com universidades de Israel e aprove as Cotas Trans na universidade
Comunicação Juntos!

UFMG se posicione contra a extrema-direita: rompa relações com universidades de Israel e aprove as Cotas Trans na universidade

Carta do Movimento Estudantil Independente à Comunidade Universitária da UFMG pelo rompimento de todas as relações com israel e pelas cotas trans

Correnteza, CST, Faísca, Juntos! UFMG, PCBR e Rebeldía 16 set 2025, 13:08

O mundo não está normal. Enquanto os bilionários se tornam cada vez mais bilionários, destruindo o meio ambiente e aprofundando uma crise climática sem precedentes, vemos o aumento da pobreza e a aplicação de táticas de genocídio contra povos inteiros. A extrema-direita se organiza em escala internacional: o Bolsonarismo no Brasil, Trump nos Estados Unidos, Milei na Argentina e Netanyahu em Israel. Gaza hoje é o epicentro desse projeto, transformada em um verdadeiro laboratório internacional de extermínio intensificado desde 2023.

Desde o início da ofensiva, mais de 62 mil palestinos foram assassinados e cerca de 157 mil ficaram feridos, em sua imensa maioria civis. Algumas pesquisas apontam que esse número pode ser até 10 vezes maior. A destruição é avassaladora: 65% dos edifícios públicos foram demolidos, incluindo universidades, escolas e hospitais. Cidades inteiras, como Khazu’a, com cerca de 11 mil habitantes, foram completamente dizimadas, em um cenário de massacres e devastação. Israel, um dos Estados mais militarizados do planeta, emprega tecnologias de guerra de ponta: drones armados, bombas de alta potência e até armas químicas e incendiárias proibidas desde a Segunda Guerra Mundial. E, como se não bastasse, impõe um bloqueio brutal que impede a entrada de alimentos, combustível, eletricidade e medicamentos, matando também pela fome e pela impossibilidade de reprodução cotidiana da vida.

Escolas, hospitais e abrigos de deslocados têm sido alvos constantes de explosões. Enquanto isso, em Israel, mais de 60 mil jovens foram convocados para o que Netanyahu chamou de “guerra final”. Muitos estudantes israelenses têm se recusado a atender à convocação, protestando contra a escalada da violência. O silêncio, contudo, permanece cúmplice: governantes e instituições em todo o mundo seguem permitindo essa sanha genocida avançar, enquanto a cada dia novos massacres são transmitidos em tempo real. O genocídio do povo palestino mostra como no capitalismo as diferenças são tratadas: com rebaixamento, violência e extermínio. Não por acaso, as mesma armas que se usam para matar um povo no Levante são usadas para matar o povo negro nas periferias do Brasil. O racismo contra o povo preto é o mesmo racismo alimentado mundo afora. E nossa universidade é parte dessa lógica perversa. Na FAFICH, esse projeto também se expressa quando vimos acontecer um ato de racismo por um segurança da instituição, que demonstra a urgência de criar na nossa universidade uma verdadeira barreira antifascista e antirracista: com posicionamento e mecanismos que permita combater todos os tipos de opressão e violência.

Mas há resistência. Nas ruas dos Estados Unidos, mais de 300 mil pessoas se mobilizaram. Na Austrália, 90 mil. Em Paris, 60 mil. Na Espanha, 100 mil. Mobilizações também tomaram conta da África do Sul, da Holanda, de vários países europeus e de todos os continentes. Essas ações se conectam com a Flotilha Sumud, a maior iniciativa internacional direta já organizada em defesa do povo palestino. São mais de 40 barcos, com 500 pessoas de todo o mundo, inclusive 15 brasileiros, entre ativistas, parlamentares e lideranças, com figuras como Greta Thunberg e Thiago Ávila, que enfrentam o bloqueio israelense levando solidariedade concreta a Gaza. Os barcos já sofreram ataques, numa tentativa de paralisar essa ação corajosa contra o genocídio. Ainda assim, seguem firmes, nos próximos dias prestes a romper os mares que cercam Gaza.

A UFMG não pode se omitir diante da barbárie racista. Assim como fomos trincheiras em momentos decisivos da história do país, precisamos estar na linha de frente da luta por uma sociedade justa com democracia real. Romper relações com universidades israelenses que legitimam o genocídio, enfrentar a extrema-direita que avança pelo mundo e aprovar as cotas trans em nossa universidade fazem parte de um mesmo compromisso: enfrentar a extrema-direita para defender a vida, os direitos humanos e a dignidade dos povos.

No Brasil, em que pese a extrema-direita esteja em maior defensiva com a prisão do Bolsonaro, ainda busca apresentar seu projeto político para a maioria. Os discursos de “defesa da família” e a perseguição às pautas de gênero e sexualidade como ferramentas para mobilizar sua base e justificar ataques contra os direitos democráticos e os direitos humanos. O enfrentamento ao projeto da extrema-direita só pode vir da auotorganização do povo.. O ódio às pessoas trans e travestis não é um detalhe: é parte central de uma política de morte que busca dividir, criminalizar e exterminar. Aprovar as cotas trans é também combater esse projeto. É afirmar que a universidade não se dobra à lógica do ódio, da exclusão e da violência. É defender a vida da população trans, que é menos de 1% de acesso ao ensino superior, acesse o seu direito à universidade. É reconhecer que justiça social só existe quando todas e todos têm condições de viver, estudar e sonhar.

Nosso acampamento estudantil faz parte dessa rede de resistência global. Ele existe porque não aceitamos naturalizar o absurdo de um genocídio transmitido ao vivo pelas redes sociais e televisões, enquanto governos e instituições escolhem a omissão. É um espaço de denúncia, mas também de convocação dos estudantes à ação.

Chamamos todos os estudantes a se mobilizar. A apoiar a Flotilha Sumud, a denunciar o genocídio em curso, a pressionar por medidas concretas na UFMG que enfrentem o projeto da extrema-direita e cobrem do governo brasileiro um posicionamento firme na defesa do povo palestino. Nosso objetivo imediato é o rompimento das relações da UFMG com universidades israelenses que colaboram com a ofensiva sem sequer se posicionarem publicamente. Queremos que a nossa universidade, que se orgulha de sua história de luta, se coloque claramente em defesa do povo palestino, acolhendo estudantes palestinos, aprovando moções de solidariedade e assumindo compromisso público contra o genocídio, sendo parte de defender que o governo brasileiro se comprometa e garanta a proteção de todos os membros brasileiros da Flotilha.

Fazemos parte também da campanha “Nenhuma Gota de Petróleo a Israel”, construída pelos trabalhadores da Petrobrás e apoiada por movimentos sociais no Brasil e no mundo. Essa campanha é central porque atinge diretamente o financiamento do genocídio: sem combustível, a máquina de guerra israelense enfraquece. Ao lado da luta estudantil, a luta dos trabalhadores é fundamental para romper as bases materiais que sustentam o massacre. Apesar de afirmar corretamente de que se trata de um genocídio, Lula mantém todas as relações com o Estado assassino. Exigimos a ruptura concreta e econômica de todas as relações do Brasil, com bloqueios, boicotes e pressões reais contra o Estado genocida.

Não podemos assistir à barbárie com apatia. O silêncio fortalece o genocídio. Enquanto as instituições toleram projetos políticos de extermínio, a nossa auto-organização é a única saída. Queremos colocar as universidades brasileiras na rota das mobilizações internacionais que hoje acontecem em todo o mundo. Convocamos a todos os estudantes a serem parte do nosso calendário de mobilizações do acampamento, a ser parte das ações por Palestina livre, todo apoio a Flotilha Global Sumud e pelo fim da cumplicidade com o genocídio.

Reivindicamos:

  1. Que a UFMG repudie as práticas de violência contra o povo palestino e a escalada de ataques à população civil;
  2. Reafirma o compromisso da UFMG com os direitos humanos, a democracia e a autodeterminação dos povos;
  3. Manifesta solidariedade às universidades palestinas, estudantes, docentes e trabalhadores da educação, que sofrem diretamente os impactos da guerra e da destruição;
  4. Manifesta apoio e exige a proteção do governo brasileiro a todos os membros brasileiros na Global Sumud Flotilla.
  5. Recomenda que a UFMG estude formas de cooperação acadêmica com instituições palestinas, de acolhimento a estudantes e pesquisadores refugiados, e de apoio a iniciativas de reconstrução educacional e humanitária.
  6. Delibera pelo rompimento das relações institucionais da UFMG com universidades de Israel, considerando a participação estrutural dessas instituições no sistema de ocupação e apartheid contra o povo palestino, reafirmando o compromisso desta universidade com os direitos humanos.
  7. Queremos que a UFMG paute Cotas Trans no próximo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão, bem como no Conselho Universitário: Cotas Trans já

Calendário:

SEGUNDA

17h: Ato político de abertura

19h: Confecção de faixas e materiais

20h: Reunião do Comitê Mineiro de Solidariedade à Palestina

21h30: Cine Debate No Other Lands: filme indicado ao Oscar

TERÇA

9h: Roda de conversa com colagem: o genocídio como projeto racista de mundo

09h: Roda de conversa com colagem: Cotas trans é justiça social

14h: Ato político na recepção do Conselho Universitário

17h30: Plenária do Movimento Estudantil + convidados para organização dos próximos passos


Imagem O Futuro se Conquista

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