UNIVERSIDADES CONTRA O FIM DO MUNDO: O PROTOCOLO DE EMERGÊNCIAS CLIMÁTICAS COMO FERRAMENTA DE LUTA
As universidades têm um papel decisivo: transformar o conhecimento que reproduz em uma ciência engajada e uma educação crítica para combater a barbárie climática. Não podemos apenas observar; precisamos agir!
A crise climática é uma crise do capitalismo
Vivemos um momento de encruzilhada. A Terra está em chamas, literalmente. As enchentes devastam comunidades inteiras, as queimadas destroem biomas, a poluição sufoca as cidades, e os desabamentos ceifam vidas. Esses não são mais avisos distantes sobre um futuro apocalíptico, são a realidade cotidiana de milhões de pessoas, especialmente das populações negras periféricas, dos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, que pagam com suas vidas e seus territórios a conta de um sistema que não foi feito para o bem-viver da maioria, mas para o lucro de poucos.
A sociedade capitalista em que vivemos está estruturada para a exploração do trabalho e a destruição da natureza. Os bilionários, donos das grandes empresas, externalizam os custos de seus processos produtivos, enquanto o povo arca com as consequências. A crise climática não é um acidente: é o resultado direto de um modelo econômico baseado no crescimento infinito e na acumulação desenfreada. Como nos alerta o Manifesto por uma Revolução Ecossocialista da IV Internacional, estamos diante da escolha histórica entre socialismo ou barbárie e a barbárie climática já está batendo à nossa porta.
O papel das universidades: reproduzir ou transformar?
Diante dessa crise civilizatória, a educação e a ciência não podem permanecer neutras. O conhecimento que reproduz o mundo tal como ele é, que colabora com o sistema de exploração, não só é insuficiente para resolver a crise atual, como também tem nos levado para um buraco cada vez mais fundo. Precisamos de uma educação crítica e de uma ciência engajada e comprometida com o combate à crise climática e com a construção de um mundo radicalmente diferente.
É por isso que lançamos a plataforma “Universidades Contra o Fim do Mundo“. Queremos engajar e conectar estudantes, entidades, centros e diretórios acadêmicos, grupos de estudo, coletivos, professores e funcionários técnico-administrativos das universidades de todo o país. Nosso objetivo é colocar a ciência que produzimos a serviço do enfrentamento da crise, não apenas de seus sintomas, mas de suas raízes estruturais.
Acreditamos que é necessário construir grandes mobilizações para cobrar os verdadeiros responsáveis pela devastação ambiental. Mas também precisamos debater e construir um programa alternativo que coloque os estudantes em movimento, transformando o ceticismo dos alertas em lutas concretas. Não queremos nem o capitalismo verde, que se maquia de sustentável a mesma lógica destrutiva, nem a destruição promovida pela extrema-direita. Queremos construir uma saída ecossocialista para a crise climática.
O Protocolo de Emergências Climáticas: uma ferramenta para a ação concreta
Dentro dessa perspectiva, apresentamos o Protocolo Institucional de Prevenção e Enfrentamento às Emergências Climáticas (PPEEC) como uma ferramenta prática e estratégica para que as universidades se adequem de fato a uma Universidades Contra o Fim do Mundo. Este protocolo não é apenas um documento técnico ou burocrático, ele é um instrumento político que pode orientar as ações concretas das instituições de ensino superior no enfrentamento da crise.
O protocolo visa proteger a comunidade universitária, a infraestrutura e o patrimônio institucional através de medidas de precaução, prevenção, mitigação, adaptação e resposta. Seus princípios são fundamentais: justiça climática e equidade, sustentabilidade socioambiental, participação democrática e resiliência institucional. Ele propõe a integração da dimensão climática no ensino, pesquisa, extensão e gestão, promovendo a educação climática, a capacitação continuada e a inovação em tecnologias socioambientais sustentáveis.
Mas o protocolo só faz sentido se for compreendido dentro de uma visão política mais ampla. Sem uma análise crítica das raízes sistêmicas da crise, ele corre o risco de se tornar apenas mais uma resposta paliativa. As universidades não podem se limitar a gerenciar os sintomas da crise; devem também questionar e combater as estruturas que a perpetuam. O protocolo, portanto, deve ser um instrumento para a transformação, não para a manutenção do status quo.
O que o protocolo propõe?
O protocolo estabelece uma série de instrumentos e ações concretas, entre elas:
Plano Institucional de Prevenção e Enfrentamento (PIPEEC): Um instrumento de operacionalização que orienta as ações estratégicas, preventivas, de mitigação, adaptação, resposta e recuperação. Ele deve incluir diagnósticos de vulnerabilidades, planos de mitigação de emissões, protocolos de resposta a eventos extremos (enchentes, secas, incêndios, contaminações), planos de comunicação e mobilização comunitária, e mecanismos de cooperação com órgãos externos.
Comitê de Prevenção e Enfrentamento (CPEEC): Uma instância colegiada, consultiva e deliberativa, com participação plural da comunidade universitária (reitoria, diretores, docentes, técnicos-administrativos, estudantes e representantes da sociedade civil), responsável pela elaboração, revisão e monitoramento do plano.
Educação e Formação: Integração da temática climática nos currículos de graduação e pós-graduação, promoção de cursos e grupos de estudos temáticos, e capacitação continuada de toda a comunidade universitária.
Pesquisa e Extensão: Fomento a pesquisas sobre tecnologias socioambientais, modelos econômicos alternativos e sistemas de governança participativa. Estabelecimento de parcerias com movimentos sociais, comunidades tradicionais e organizações da sociedade civil para co-construir soluções que promovam a justiça socioambiental.
Infraestrutura Sustentável e Resiliente: Reorientação dos investimentos institucionais para a redução da pegada ecológica e o aumento da resiliência, priorizando o uso de matérias-primas locais, tecnologias sociais de baixo custo e conhecimento tradicional. Diagnóstico de vulnerabilidade climática do campus e elaboração de um plano diretor de infraestrutura resiliente e sustentável.
Memorial Climático e Apoio Psicoambiental: Criação de um memorial para registrar e aprender com os eventos extremos, e desenvolvimento de programas de apoio psicológico para acolher e oferecer suporte à comunidade acadêmica que vivencia eco-ansiedade, estresse e luto relacionados à crise climática.
Atenção aos Mais Vulneráveis: Garantia de atenção especial e medidas prioritárias para as populações mais vulneráveis, assegurando a inclusão e proteção prioritária desses grupos.
Para além da técnica: a universidade como pólo de resistência
O protocolo oferece um arcabouço institucional para a ação concreta. Mas sua verdadeira força está em ser apropriado pela comunidade universitária como um instrumento de luta política. A universidade, ao adotar práticas de baixo carbono e uso sustentável de recursos, deve servir como um modelo de transição ecossocialista. Ao promover a educação crítica e a pesquisa engajada, deve formar cidadãos capazes de questionar o sistema e construir alternativas. Ao estabelecer parcerias com os movimentos sociais e as comunidades tradicionais, deve ser um polo de resistência e de construção de poder popular.
A plataforma “Universidades Contra o Fim do Mundo” é o espaço de articulação e mobilização para que isso aconteça. É onde podemos conectar as lutas locais, compartilhar experiências, construir um programa coletivo, transformando as universidades não apenas em um espaço passivo das mudanças nos que cercam, mas sim em um espaço ativo e de transformação local.
Junte-se a nós!
Romper com a barbárie climática exige não apenas a gestão de suas consequências, mas a revolução de suas causas. As universidades têm um papel insubstituível nesse processo. O protocolo de emergências climáticas é uma ferramenta para começarmos essa transformação, mas ele só terá sentido se for parte de um movimento maior, de uma luta coletiva por um mundo radicalmente diferente.
Seja parte da construção de uma saída ecossocialista para a crise climática. Junte-se à plataforma “Universidades Contra o Fim do Mundo” e faça da sua universidade um espaço de resistência, de crítica e de transformação!