AS LUTAS SOCIOAMBIENTAIS EM SÃO PAULO E NO BRASIL: APORTES PARA A MILITÂNCIA ECOSSOCIALISTA
As lutas ecossocialistas e pelo direito à cidade andam lado a lado na construção de uma outra São Paulo
As lutas socioambientais na cidade de São Paulo sempre se deram em oposição ao capital privado, cujos interesses foram constantemente defendidos e promovidos pelos poderes públicos municipal, estadual e federal, em prejuízo das demandas e necessidades das comunidades locais.
Em tempos de crise climática, defender a natureza e as comunidades locais, em cada canto do planeta, é uma das principais tarefas do militante ecossocialista. Mesmo que a revolução proletária não esteja na ordem do dia, é claro e palpável o acúmulo político formado por lutar ao lado das comunidades contra obras que não atendam os seus interesses, mas do setor privado e do estado burguês.
Existem setores da esquerda que acreditam que quanto maior o grau de contradições que o sistema capitalista for capaz de oferecer à classe trabalhadora, mais perto estaremos de uma revolução socialista. Acontece que, seja através do deslocamento forçado por desapropriação, seja pelo transporte entre pontos da cidade cada vez mais inviável pelo excesso de veículos individuais, seja pelo alto grau de poluição na cidade, com o ar cada vez mais difícil de respirar, estamos cada vez mais próximos da barbárie.
Existem duas saídas possíveis para uma crise social de ruptura sistêmica com a ordem vigente – a revolução socialista ou a barbárie. É notável a ascensão do movimento neofascista mundialmente, especialmente o brasileiro, onde através de Bolsonaro a cultura de ódio que se instaurou na sociedade. Isso ocorreu como uma resposta extremista às vacilações do governo do PT nas últimas duas décadas em atender as necessidades da classe trabalhadora.
O fascismo é uma resposta extrema à crise do sistema capitalista, e vêm se enraizando na sociedade brasileira na forma de xenofobia, racismo, misoginia, lgtbqiapn+fobia, aporofobia, entre outras opressões. Sempre à procura de encontrar um culpado pelo sofrimento coletivo, o fascismo emerge das chagas da sociedade capitalista.
Na evidente crise social e crescente ebulição ambiental de eventos climáticos extremos; na clara percepção de que o capitalismo não foi capaz de entregar o que prometeu, em estado de bem-estar social, mesmo na sua expressão mais socialdemocrata como o PT; na improbabilidade de um futuro próspero e comum de um mundo em ruínas, o individualismo fascista se torna facilmente uma resposta racional do problema.
Na ausência de perspectiva, se eu for capaz de salvar o meu, estou no lucro. Se for capaz de salvar meu grupo social, é mais lucro ainda. E esse sistema faz com que todos queiram fazer parte dessa patota: do seleto grupo que irá se salvar – mesmo que para isso seja necessário competir com outras pessoas e outros grupos.
O fascismo como resposta à falta de perspectiva, é justamente a resposta que o sistema capitalista gera nas pessoas, como resultado da imposição da lógica da competição e da acumulação.
Através de figuras autoritárias que demonstram ter “força” para “resolver o problema”, mesmo que para isso seja necessário passar por cima de tudo e todos, a população fascistizada vê resposta, e uma esperança. O mais trágico é que muitas vezes a resposta passa por cima dessas próprias pessoas, e ainda gera lucro privado.
“- Vamos criar uma nova via expressa para desafogar o trânsito, só vamos precisar desmatar um maciço arbóreo e desapropriar algumas dezenas de casas.”
E na verdade qualquer pretenso “progresso” construtivo ou tecnológico é motivo para produtivistas defenderem a expulsão de comunidades de seu território, e serem hostis com qualquer um que defenda essas comunidades.
A separação do ser humano de seu território de origem é uma ferramenta colonial utilizada para tornar o tecido social um organismo rasgado e disfuncional. A separação do indivíduo de seu território original é uma ferramenta, como outras, do processo de desidentificação do indivíduo com o lugar de onde veio: sendo lançado no mundo como um sujeito no meio da multidão, sozinho e isolado.
No fim, a individualização das multidões serve de combustível ao fascismo, como mais uma consequência do esfacelamento do tecido social.
Para que a desesperança não se transforme em fascismo, é justamente na ferida social o lugar mais urgente onde o militante ecossocialista deve trabalhar para disputar a consciência da classe trabalhadora para uma consciência revolucionária. Não existe resistência possível sem a defesa concreta dos territórios.
Rodoviarismo
Desde o governo Collor a concessão e a privatização de rodovias vêm acontecendo no Brasil. Processo intensificado com o projeto neoliberal do governo FHC, que dá cabo à gestão e à construção de novas rodovias pelo país pela iniciativa privada, muitas das vezes por financiamento público das obras, e contrato de gestão das rodovias por duas a três décadas, na média dos contratos de concessão ou privatização, onde a empresa que assume a gestão lucra com a cobrança de tarifas dos veículos individuais que ali passarem.
O projeto da entrega de bens como rodovias nacionais para a iniciativa privada foi bem-sucedido: projeto guiado pela lógica neoliberal de que o estado é ineficiente na gestão dos bens públicos em geral, e fundamentado na ideologia neoliberal da austeridade fiscal, que aplica princípios de diminuição da atuação do estado e imprime cortes de gastos em bens e serviços públicos no geral. Essa lógica ainda hoje é paradigmática na sociedade brasileira no geral, e fortemente estabelecida nos governos federal, estaduais e municipais nos mais amplos setores, além do rodoviário.
Na cidade de São Paulo e arredores não é diferente, projetos e obras faraônicas vêm tomando espaço:
- A duplicação da Rodovia Dutra, que vêm sendo implantado com orçamento federal, ampliando a concessão da Dutra para o Grupo CCR, uma das maiores gestoras de bens e serviços públicos no Brasil, sob os dizeres do presidente Lula:
- “Quando a gente vê uma empresa aceitar fazer o investimento, como a CCR está fazendo na Dutra, é obrigado a dizer que, cada vez menos, quem sabe, a gente vai precisar de dinheiro do orçamento público para fazer as obras de infraestrutura no país e, muito mais, a gente conquistar confiança” (AGÊNCIA BRASIL, 2024);
- A construção do trecho norte do Rodoanel Mario Covas, que cumpre todos os ritos da devastação ambiental e desapropriação de centenas de famílias, através do governo do estado em concessão para Via Appia FIP Infraestrutura por 31 anos para exploração deste sistema rodoviário (SEMIL, 2023);
- A duplicação da Rodovia Raposo Tavares, com desapropriação de inúmeras famílias e destruição de áreas verdes importantes, com a presença de rios e nascentes;
- O projeto de construção da terceira via da Rodovia dos Imigrantes, que conecta o porto de Santos à capital paulista. Gerando enorme impacto ecológico na Serra do Mar, com parte do traçado inserida em área de proteção ambiental, com previsão de impactos na fauna, flora, recursos hídricos e comunidades locais (FREITAS, 2025);
- O projeto de extensão da marginal Pinheiros, que visa acabar com a última área verde de um dos rios mais importantes cidade, impermeabilizando um total de 1,3 hectares, colocando em risco inclusive a qualidade da água do maior reservatório da cidade, a represa Billings (SAFT, et. al., 2025);
- O projeto de construção do túnel da Sena Madureira, com a desapropriação de 210 famílias da comunidade Souza Ramos, a destruição de um corredor ecológico através do corte de árvores de 50 anos ou mais e a concretagem da nascente do Córrego Embuaçu.
Tabela 1: Valor estimado das obras rodoviárias na cidade de São Paulo e arredores

Fonte: Agência Brasil (2024), SEMIL (2023), Agência de Parcerias em Investimentos do Estado de São Paulo (2025), Sindaport (2024), Prefeitura de São Paulo (2024), CET (2024)
O objetivo da prefeitura de São Paulo, do governo Estadual e do governo Federal com estas obras rodoviárias é a ampliação do acesso aos carros, apresentando-as como soluções para o trânsito. Os impactos negativos mais visíveis e irreversíveis são os socioambientais, com as desapropriações forçadas de centenas de famílias de seus territórios originários, e a destruição ambiental da fauna e flora, impactando inclusive no microclima dos locais afetados.
O amplo investimento em obras rodoviárias sugere a forte influência na política brasileira de lobistas dos setores automobilístico, petroleiro e das empresas gestoras da concessão e privatização de bens públicos. Mesmo com evidências comprovadas de que o transporte ferroviário pode ser mais eficiente no transporte de pessoas e cargas pesadas, economizar energia, causar menos impacto ambiental em termos de operação – emitindo menos CO² e economizando em consumo de pneus e gasolina, e por fim gerar menos acidentes fatais.
O que se vende é a solução para o trânsito, mas o que não se leva em consideração são os inúmeros estudos feitos na área da engenharia de tráfego, sobre como a construção de novas rodovias para desafogar o trânsito acabam por fim gerando o aumento no tráfego – fenômeno denominado tráfego induzido. Cidades sustentáveis investem mais em transporte público, ciclovias e vias para pedestres do que em rodovias para carros.
O investimento em obras rodoviárias visa unicamente atender interesses privados de construtoras e gestoras de concessões e privatizações de bens públicos no curto prazo. No longo prazo, esse tipo de infraestrutura logística é ineficaz e insustentável – com a influência do tráfego induzido, este tipo de transporte trará necessidade de abertura de mais rodovias no futuro.
Obras para (in)gerir resíduos sólidos
Entre outras obras com grande impacto socioambiental na cidade, se destacam a ampliação do aterro sanitário com construção de um incinerador de lixo em São Mateus, através do corte de 62 mil árvores de um maciço remanescente da mata atlântica, ameaçando 5 nascentes do Córrego Aricanduva, e a construção de um incinerador de lixo em Perus.
Como justificativa do investimento na queima de combustíveis fósseis, numa lógica completamente inversa à da sustentabilidade, a prefeitura de São Paulo se apoia em casos “bem-sucedidos” do Japão, da retirada de energia térmica e elétrica da queima de resíduos sólidos – é basicamente uma termoelétrica da pior qualidade.
Através da utilização de rejeitos como combustível de uma usina de energia, a prefeitura estimula a produção destes rejeitos na cidade. Numa lógica inversamente proporcional à da reciclagem, a prefeitura pretende fazer do lixo produzido na cidade em mais um negócio lucrativo para iniciativa privada, e danoso para as populações.
Em 2024 a prefeitura de São Paulo renovou o contrato de concessão das duas empresas responsáveis por fazer a coleta, Ecourbis e Loga, por mais vinte anos no valor de 80 bilhões. Estas empresas fazem a gestão dos resíduos na cidade desde 2004. Numa renovação abrupta e sem consulta pública, a prefeitura contrata ainda a construção de 3 incineradores de lixo no valor de 11 bilhões.
O racismo ambiental se mostra presente quando a localidade escolhida para estes incineradores é justamente nas áreas periféricas mais afastadas da cidade, populadas em sua maioria por população preta e de menor renda: uma no extremo noroeste, e outra no extremo leste, e mais uma terceira unidade ainda sem local definido.
Levando em conta os riscos eminentes de contaminação do ar, do solo e das águas com dioxinas e furanos, compostos altamente cancerígenos denominados ‘POPs’, Poluentes Orgânicos Persistentes. POPs são substâncias tóxicas que dificilmente se degradam no meio ambiente, capazes de viajar a grandes distâncias pelo ar e pelas águas, e bioacumulativas, acumulando-se no organismo dos seres vivos que entram em contato.
Mesmo o Japão, antiga potência imperialista e com uma influente potência capitalista, apresentando altos índices de investimento em saneamento básico, o mesmo apresenta dados temerários em relação à utilização de incineradores de lixo. Artigos acadêmicos locais, traduzidos para o português, apresentam alta concentração de dioxinas em trabalhadores da incineração, durante a fase de manutenção dos equipamentos da usina (KAKIMOTO, 2003).
Um segundo estudo japonês avaliou a incidência de mortes infantis e mortes infantis por má formação em uma distância de até 10 km do incinerador de lixo. Sem estabelecer conexão causal, por insuficiência de dados, pode-se constatar que houve um pico-queda de mortes infantis e mortes infantis por má formação, sendo o pico de casos na distância de 1 a 2 km da usina e a queda de casos a 10 km da usina (MIYAKE, 2005).
Com uma governança débil, com órgãos fiscalizadores ambientais entregues à iniciativa privada, principal operadora da indústria nacional, fundamentada no lucro e não na qualidade de seus serviços, temos o histórico de desastres socioambientais como o rompimento das barragens de Brumadinho e Mariana, com a Vale, Samarco e BHP como gestoras, e o colapso do solo na cidade de Maceió por exploração mineral pela empresa Braskem. O rompimento da barragem de Mariana fez 10 anos na última quarta-feira, 05/10/2025, ainda sem responsabilização de ninguém pela justiça brasileira
Com este histórico mortífero da (dis)gestão de componentes sensíveis da indústria nacional, está definitivamente fora de questão construir um incinerador de lixo na cidade de São Paulo, que com a menor falha técnica pode colocar em risco a vida de milhares de pessoas nos arredores, e contaminar solos, ares e águas do entorno.
O Japão é um país onde o manejo dos resíduos já está introjetado na população através de uma rígida educação, e altos índices de investimento público em educação básica e saneamento. O Brasil por outro lado possui baixo investimento em público em educação básica, oferecendo pouca educação ambiental para a população, e dificultando a introjeção de uma cultura da gestão dos resíduos. O investimento em saneamento básico no Brasil também é baixo, em comparação à média dos países da OCDE, e bem inferior ao do Japão, o que dificulta, entre outras coisas, uma gestão efetiva e eficiente dos nossos resíduos.
Mas aproveitando a má gestão geral dos resíduos pelo poder público, a prefeitura da cidade de São Paulo busca aprofundar essas questões estruturais do problema do lixo, ao invés de buscar saná-las. Aproveitando a produção e o descarte indiscriminado de mercadorias de ciclo de vida curto, a prefeitura pretende usá-las como combustível para usinas termoelétricas de lixo.
Por isso, Aliança Resíduo Zero (2025) desenvolveu um documento técnico sobre 14 mitos e fatos sobre incineradores, capaz de responder diversas dúvidas sobre o tema.
Um dos argumentos da prefeitura é que a queima reduz em 90% do volume dos resíduos, facilitando a disposição final. Mas se o problema é o volume, por que não reutilizar mais, reciclar mais, e principalmente reduzir a produção e o consumo? Simplesmente essa não é a lógica do capital.
A expropriação das empresas produtoras de mercadoria e a autogestão da classe trabalhadora das indústrias e fábricas em escala internacional deve trazer soluções eficazes, eficientes e duradouras sobre a produção excedente de mercadorias, com base na justa medida da necessidade real do que as pessoas precisam para viver, nada além disso.
Mas enquanto a revolução ecossocialista não está na ordem do dia, a geração desnecessária de mercadorias pode ser inicialmente mitigada responsabilizando as empresas produtoras pela cadeia de coleta, reciclagem e descarte e do que elas produziram para consumo, com multas progressivas em caso de descumprimento.
Como programa social, são práticas válidas no âmbito municipal oferecer uma maior atenção dos serviços de coleta e limpeza de vias e espaços públicos, principalmente nas periferias, investir em cooperativas de catadores, implementar uma educação ambiental efetiva nas escolas e nos bairros, propagando a prática da separação e destinação correta dos resíduos pela população e fortalecer grandemente renovação do ciclo de vida de todos os materiais: orgânicos através da compostagem e da biodigestão e inorgânicos através do reuso e da reciclagem.
Empreendimentos imobiliários e a gentrificação
Na ótica dos empreendimentos imobiliários, alguns projetos estão sendo tocados pelo governo estadual e iniciativas privadas, com ampla leniência dos órgãos ambientais e do planejamento urbano:
- O projeto da nova sede administrativa do governo estadual implica a remoção da Favela do Moinho no centro da capital paulista, bem como a retirada da Cracolândia na região da Júlio Prestes e arredores. A gentrificação destes processos é gritante. Ao invés de oferecer assistência social, oferta de emprego, saúde, moradia e educação de qualidade, o governo estadual e a prefeitura preferem afastar essas pessoas para onde não possam mais ser vistas.
Segundo reportagem de Gustavo Oliveira (2025), Marcel Segalla, integrante do movimento social Craco Resiste, as ações na Cracolândia contaram com alta pressão da Polícia Militar e da GCM para dispersão dos usuários.
Conforme reportagem de Paulo Batistella (2025), jornalista independente da Ponte Jornalismo, a realocação dos moradores da favela do moinho, feita com cerca de 70% dos recursos do governo federal, e 30% do governo estadual, ainda passa por dificuldades na finalização dos processos. Muitos moradores não ainda receberam ainda seus novos imóveis.
Obras ferroviárias e concessões hidroviárias Brasil afora para exportação de bens primários
Os projetos recentes de obras ferroviárias no Brasil não visam a integração das mais diversas regiões, mas sim a exportação de bens primários das indústrias do agronegócio e mineração. As recentes concessões hidroviárias do governo federal possuem o mesmo fim.
É inegável que o transporte ferroviário possui maiores benefícios em relação ao rodoviário, seja para o transporte de pessoas, seja para o de carga, mas a grande maioria das intervenções que estão sendo projetadas em escala nacional é para beneficiar pequenos setores da sociedade, do agro e da mineração, que não cumprem sequer a sua função social de uma democracia liberal: pagar impostos justos e gerar de empregos em larga escala e de alta qualidade. Com alto financiamento público e lucro privado estes setores possuem forte influência nas esferas de poder executivo, legislativo e judiciário para tocarem seus projetos mais audaciosos e destrutivos do ponto de vista socioambiental:
- O projeto do Ferrogrão, ferrovia que visa cortar uma faixa de 933 km da floresta amazônica e cerrado, passando por cima de 17 unidades de conservação e seis terras indígenas, incluindo 3 povos isolados: Pu’rô, Iriri Novo e Mengra Mrari. Com início do traçado no berço da soja do país, em Sinop (MT) e finalizado nas margens do Rio Tapajós, em Itaituba no Pará, onde o escoamento da soja seguirá pelo rio (ISA, 2025).
- A mais nova concessão, agora em forma de hidrovias, consiste na entrega de 3 mil quilômetros de rios amazônicos para a iniciativa privada. Em agosto deste ano, o presidente Lula assinou o decreto que inclui os rios Tapajós e Tocantins, no Pará, e Madeira, no Amazonas e Rondônia, no Programa Nacional de Desestatização (PND) (AMAZÔNIA REAL, 2025).
- A nova rota da seda, projeto ferroviário de investimento chinês que visa cortar o Brasil de leste a oeste, saindo provavelmente do porto do Rio de Janeiro, passando pelos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Roraima e Acre, com saída para o porto de Chancay, recém-construído no Peru. Esta obra é uma megalomania do imperialismo chinês, que o Brasil só não aceitou por medo de retaliação do imperialismo norte americano. Esta obra novamente não se baseia em projeto de integração nacional, e latino-americano, mas uma rota para ampliar a exportação de commodities.
O balcão de negócios da COP 30
Apesar das reivindicações dos povos indígenas, contra as intervenções em seus territórios, os mais antigos habitantes deste território sequer puderam entrar na ala de negociação da maior conferência de meio ambiente de mudanças climáticas do mundo. Apesar disso, fortes manifestações envolveram os povos indígenas, movimentos sociais e ambientalistas, com presença do coletivo Juntos, em uma ocupação na Bluezone, ala restrita apenas a chefes de estado dos países que estiveram presentes.
Esta ocupação, e outras manifestações terrestres e aquáticas pelos rios da Amazônia em flotilhas compostas pelos mais diversos povos indígenas da América Latina, ativistas e ambientalistas, vieram reivindicar a mudança na forma que está sendo levada a política ambiental.
A ideia da extração de mais uma jazida de petróleo, agora na foz do Rio Amazonas, sob a perspectiva de financiar a transição de nossa matriz energética, é contradição em si mesma. Hoje não temos capacidade instalada de indústria de refino do petróleo bruto já produzido hoje no país, ainda com algumas refinarias privatizadas, para produzir o diesel, a gasolina e o gás de cozinha que consumimos internamente.
Este novo porto de petróleo vai garantir a cadeia produtiva de combustíveis fósseis por mais de uma década, e tem o projeto de substituir a extração feita no pré-sal quando ela declinar por volta de 2031. Sequer a riqueza extraída do solo, às custas de muito sangue vem sendo aplicada para a distribuição de bens e serviços públicos para a população, ou para financiar a transição energética. A distribuição de dividendos da Petrobrás bateu recordes para a empresa em 2022, no governo Bolsonaro, e apesar de não ter renovado o recorde no governo Lula, a renda dos acionistas continua alta (SINDPETRO, 2025).
Após as reivindicações realizadas pela organização popular com vanguarda indígena, o ministro da secretaria geral da república, Guilherme Boulos, decidiu fazer uma consulta “prévia” sobre a obra do Ferrogrão e as concessões hidroviárias que já tiveram inclusive decreto assinado pelo presidente. Espera-se que haja uma mudança na proposição do governo na privatização dos rios amazonenses. Sabe-se entretanto que nas democracias liberais, os mecanismos de participação social, quando existem, são meramente consultivos, sem participação direta dos povos afetados na tomada de decisão sobre novos projetos.
Podemos lutar pelas transformações que forem necessárias com o sistema que temos hoje, mas o modo de produção capitalista e a sua lógica de acumulação infinita de capital em meio a uma natureza finita, nos empurra para um abismo socioambiental e o colapso da sociedade como a conhecemos. Aqueles que lucram com essa lógica nunca darão o braço a torcer para uma necessária mudança sistêmica que garanta a sobrevivência de toda classe trabalhadora.
Para isso é necessária nossa organização como classe, no nosso território e além, para arrancar as transformações que forem necessárias para o nosso bem viver, e garantir a organização popular necessária para a chegada da revolução ecossocialista, que nos trará a verdadeira perspectiva de futuro neste planeta.
Bibliografia:
AGÊNCIA BRASIL. Lula anuncia aplicação de R$ 15,5 bi em obras na Dutra e na Rio-Santos. Brasília, 19 jul. 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-07/lula-anuncia-aplicacao-de-r-155-bi-em-obras-na-dutra-e-na-rio-santos. Acesso em: 06 nov. 2025.
Agência de Parcerias e Investimentos do Estado de São Paulo. Projeto Qualificado – Lote Nova Raposo. 2025. Disponível em: https://www.parceriaseminvestimentos.sp.gov.br/projeto-qualificado/lote-nova-raposo/. Acesso em: 06 nov. 2025.
AMAZÔNIA REAL. Lula planeja privatizar três hidrovias da Amazônia. Amazônia Real, 13 ago. 2025. Disponível em: https://amazoniareal.com.br/lula-planeja-privatizar-tres-hidrovias-da-amazonia/. Acesso em: 16 nov. 2025.
CET – Companhia de Engenharia de Tráfego. Prefeitura dá início às obras do Túnel Sena Madureira. São Paulo, 13 set. 2024. Disponível em: https://www.cetsp.com.br/noticias/2024/09/13/prefeitura-da-inicio-as-obras-do-tunel-sena-madureira.aspx. Acesso em: 06/11/2025.
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