UNIDADE E INDEPENDÊNCIA PARA REINVENTAR A UFRGS
No momento político que vivemos, não é possível abrir mão de unidade programática em nome da autoconstrução. É na unidade de ação e nas mobilizações reais que se criam as condições para vitórias do movimento estudantil
Em setembro deste ano, organizamos a Jornada de Luta pela Palestina, um marco que não só garantiu vitórias importantes, como abriu, pela primeira vez em muitos anos, uma unidade de ação necessária entre todas as organizações da oposição de esquerda da UFRGS. Em outubro, avançamos ainda mais: fizemos um chamado público à unidade para construir uma chapa que não fosse apenas eleitoral, mas que apresentasse um novo projeto de movimento estudantil. Desde então, nossa avaliação era clara: se conseguíssemos garantir a unidade, poderíamos vencer as eleições e romper o clima de apatia.
A partir de plenárias programáticas amplas, públicas e abertas, esse processo se materializou na chapa de oposição unificada Nosso Tempo é Agora – Reinventar a UFRGS (Juntos, Faísca, Ocupe, UJC e Rebeldia). Nossa identidade surgiu da própria luta: carregou as cores da Palestina e o barco como símbolo da solidariedade, inspirado tanto na Flotilha Global, que enfrentou os bloqueios de Israel, quanto na coragem dos gaúchos que, abandonados pelos governos durante as enchentes de 2024, usaram barcos para resgatar vizinhos, familiares e desconhecidos.
A chapa conquistou 1824 votos, defendendo um programa de independência política necessário não apenas para enfrentar a extrema direita, mas também para resistir aos cortes, aos retrocessos sociais e aos ataques à universidade pública promovidos sob o pretexto de “ajustes” e “responsabilidade fiscal” pelo governo federal. Cada voto recebido foi um voto de compromisso com a permanência estudantil, sem ilusões nem promessas vazias. Fizemos campanha com firmeza, com internacionalismo e com honestidade.
E, mais do que os votos, a eleição revelou algo importante: a expressiva votação da chapa unificada expressou a confiança dos estudantes exatamente na composição que construímos. Caso essa unidade não tivesse existido, teríamos diminuído a proporção de votos em relação ao ano passado. O resultado deixa evidente que, quando caminhamos juntos, o movimento estudantil da UFRGS responde.
Ao mesmo tempo, os números mostram de forma cristalina o peso da fragmentação na vitória do governismo. No momento político que vivemos, não é possível abrir mão de unidade programática em nome da autoconstrução. É na unidade de ação e nas mobilizações reais que se criam as condições para vitórias do movimento estudantil. Não faz sentido que em tantas universidades do país conseguimos unidade com forças da esquerda e que isso não pudesse se expressar na UFRGS, justamente aqui, onde já dirigimos o DCE juntos em outros momentos.
Os resultados não mentem: a chapa 2 recebeu um número de votos quase equivalente aos nulos. A chapa 3, por sua vez, fez uma votação expressiva, após uma campanha em que o centro foi a denúncia das condições de precariedade da UFRGS, mas que refletiu o peso do trabalho dos companheiros do Correnteza, e que os levou até o CONSUN. É fundamental dialogar para que essa presença não seja isolada, mas parte de uma atuação conjunta da oposição no Conselho e nas lutas práticas do próximo período.
O Correnteza e o Alicerce, que optaram por chapas separadas mesmo sem divergências programáticas reais, precisam refletir sobre o efeito disso: a fragmentação ajudou a consolidar a vitória do governismo e do imobilismo no DCE.
A unidade que construímos não nasceu de acordos por cargos nem de interesses pessoais, nasceu de um programa e da experiência concreta das lutas que compartilhamos dentro e fora da universidade.
Cada voto que recebemos expressa confiança em um projeto construído pela base: pelas lutas em defesa da universidade, pelo acampamento, pela solidariedade ao povo palestino e pelo desejo sincero de reinventar a UFRGS. O resultado reforça algo essencial: a oposição de esquerda unificada tem força, tem densidade política e tem compromisso verdadeiro com o movimento estudantil.
Nesta eleição, não enfrentamos apenas outra chapa, enfrentamos uma máquina governista, apoiada em estruturas, redes e até pela reitoria, para se manter controlando o DCE. Ainda assim, não recuamos: avançamos. Mostramos que existe, sim, um setor da universidade que rejeita a conciliação permanente, que se recusa a se submeter à reitoria e ao governo, e que está disposto a disputar outro horizonte para a UFRGS.
A campanha provou que quando unificamos a oposição com programa, coragem e independência política, o movimento estudantil responde. Esse é um saldo que deve ser valorizado. Mostramos que é possível fazer unidade sem apagar diferenças, ser firme sem ser sectário e disputar a universidade com ousadia e responsabilidade.
Saímos desse processo mais fortes, mais unidos e mais necessários. Agora é momento de seguir avaliando, dialogando e aprofundando a unidade que construímos com tanta coragem, paciência e convicção.