Cursinhos Populares: a luta pelo direito à universidade

A luta pela democratização do acesso à universidade tem mobilizado muitos estudantes pelo país. A Rede Emancipa de cursinhos populares é fruto dessa luta. “E aí, passou?” é a pergunta que muitos jovens escutam nesse início de ano, quando saem os resultados dos vestibulares. Ótimo ouvir do recém-calouro o “sim!” animado. A esmagadora maioria dos […]

Bianca Cruz 14 abr 2011, 00:00

A luta pela democratização do acesso à universidade tem mobilizado muitos estudantes pelo país. A Rede Emancipa de cursinhos populares é fruto dessa luta.

“E aí, passou?” é a pergunta que muitos jovens escutam nesse início de ano, quando saem os resultados dos vestibulares. Ótimo ouvir do recém-calouro o “sim!” animado. A esmagadora maioria dos jovens brasileiros, no entanto, diz “não”, “não passei” ou “não prestei”. Apenas 20% deles estão no ensino superior.

Será coincidência que os universitários (especialmente das públicas), em sua maioria, sejam brancos, de classe média ou alta, oriundos de escolas privadas ou pré-vestibulares caros? As primeiras universidades do Brasil foram concebidas para os filhos das elites. Embora com alguma ampliação, a lógica de fundo prevalece atual: universidade para poucos, não para todos. Isso se expressa no baixo número de vagas, especialmente quando se fala em qualidade.

No governo FHC, proliferaram-se as faculdades-fábricas de diplomas e demolidoras da educação de qualidade: o ensino privado passou a ser um dos ramos empresariais mais lucrativos do país. A lei é a do lucro máximo e custo mínimo – para o dono. Assim, o estudante é formado para ser mão-de-obra precarizada no mercado de trabalho.

Em vez de uma expansão de vagas adequada, a solução dos governos é a seleção sumária pelo vestibular. Mas a real seleção começa antes: quando em boa parte das escolas públicas falta professor de química, de geografia. Essa guerra já começa desonesta. Os jovens já partem de condições desiguais para fazer uma prova de “decorebas”. E o vestibular é só a ponta do iceberg. Lula tentou maquiar o caráter de filtro sócio-econômico do vestibular através do novo ENEM, mas o descaso com a educação ficou evidente em dois anos consecutivos de crise grave.

O discurso do “mérito individual do vestibulando” esconde uma política consciente de reprodução da desigualdade social, que restringe a produção de conhecimento às elites. E conhecimento é poder. No final das contas, o poder fica nas mãos dos poucos de sempre.

Compartilhar o conhecimento é compartilhar o poder

Nós fundamos a Rede Emancipa para inserir nas melhores universidades aqueles que majoritariamente estão fora delas: os negros, os indígenas, os mais pobres, os estudantes da escola pública.

Estudamos para o vestibular e também lutamos para acabar com ele. Protestamos contra o descaso de Lula e do MEC, compondo o bloco dos ENEMganados em 2009 e 2010. Defendemos cotas sociais e raciais nas universidades, como fizemos em manifestação na USP no começo do ano passado. Nos bairros em que estamos, lutamos contra o fechamento das escolas, por biblioteca, em defesa da cultura popular local.

Em 2011 continuamos crescendo: teremos a alegria de inaugurar um cursinho em Porto Alegre, encabeçado pela lutadora Luciana Genro (ex-deputada federal), e outro em Brasília.

Sabemos que se nós, alunos e professores nos acomodarmos com nossa condição individual, aprovados ou não pelo vestibular, as coisas não vão mudar. Lutamos por um projeto coletivo de transformação maior: queremos educação pública, gratuita e de qualidade para todos. A educação tem um potencial emancipador poderoso, que brigamos para concretizar. Assim estamos no rumo de uma vida melhor para nosso povo.


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