A Ditadura militar que assolou Brasil de 1964 até 1985 foi marcada pelo terror, pela morte, pela tortura e pelo desaparecimento. No ano de 2021, marca-se 57 anos do início de um dos mais sombrios tempos da nossa história. Com o Brasil sob o comando de um capitão do exército, a morte parece revisitar a nossa realidade de forma tenebrosa. 

Nessa data, 1° de Abril de 2021, vale lembrar os ocorridos daquele tempo como forma de memória ativa de todos aqueles que partiram na mão dos militares por acreditarem em um mundo mais justo. Nossa missão, como militantes e historiadores, é manter viva a história de tantos que como nós, combateram e seguem combatendo a tirania genocida que teima em assolar a América Latina. 

A lógica de operação da tirania é simples: usar do terror e da morte, e logo em seguida encobrir ela. No Brasil da ditadura, falar que existia tortura era como uma própria sentença de morte. O negacionismo é uma das mais poderosas armas daqueles que buscam subjugar o povo à sua vontade. Utiliza-se discursos falsos, falsas narrativas e até mesmo se cria um clima de “um país que vai pra frente”. Não à toa, que ainda nos dias de hoje, a América latina ainda tem que lidar com a realidade do desaparecimento de milhares de pessoas, escondidas, mortas, pelas ditaduras militares. 

Mas a realidade aparece, ela está lá. E isso, para aquele tempo, e, infelizmente, para o nosso, incomoda, e mais, põem em risco o poder genocida. Nos 21 anos que se estendeu a ditadura, a censura era uma prática elementar do governo. Páginas em branco nos jornais, receitas de bolo e poesias preenchiam o buraco censurado das matérias que denunciavam o que acontecia no país. Diversos expoentes da nossa arte, cultura, música foram censurados, proibidos de tocarem suas músicas ou até mesmo mandados ao exílio, o famoso “ame-o ou deixe-o”. 

Nas universidades, a realidade era dura. A liberdade de cátedra dos docentes foi suprimida, suas linhas de pesquisa também. O movimento estudantil logo foi um dos primeiros setores a se levantar contra a sanha assassina e ditatorial do governo. Cansados de verem a voz da juventude se calar, levantaram-se diversas vezes, cumprindo papéis fundamentais na derrocada do regime.  

A questão é que, de fato, se teme a realidade. Ela própria possui um poder mobilizador capaz de fazer cair até a mais apaixonada e mirabolante conspiração. Se para os militares a razão do que eles chamam de revolução de 64 era o combate a uma suposta ameaça comunista, a realidade demonstra que tudo não passou um golpe, que cerceou liberdades, retirou direitos e suprimiu a voz dos brasileiros, atos esses apoiados e pautados pelo interesse do capital norte americano e da elite reacionária brasileira que queriam ditar as regras sem nenhuma oposição. 

Assim como antes, Bolsonaro teme a realidade. Seu discurso se baseia no negacionismo e precisa dele para coesionar sua política de morte e desmonte. Não por menos escolheu como um de seus grandes inimigos a própria educação pública. Bolsonaro sabe que a educação tem o poder de contruir uma noção extremamente critica da realidade da ditadura militar, da perseguição e genocidio aos indigenas, da tortura de militantes políticos, das políticas manicomiais, da perseguição ao direito dos LGBTs e a supressão da voz da negritude. 

A história é temida por aqueles que a querem distorcer e reescrevê-la. Durante as sessões da comissão da verdade, ainda quando era deputado, Bolsonaro e seus filhos deixaram muito claro que repudiavam a busca pelos desaparecidos. Não apenas isso, queriam mudar os fatos, dar um ar de notoriedade para um assassino torturador que levam como herói. Apenas o fato de ter homenageado Ustra em um processo de golpe parlamentar em 2016 diz muito sobre quem é e o que representa Bolsonaro. 

Esse nojento saudosismo pode nos escapar a compreensão de sua razão quando somos cegados pelo ódio que temos à ditadura. Pode nos fazer acreditar que não passa de uma tentativa de unir sua base mais extrema. Mas, infelizmente, se trata de uma plataforma política à qual Bolsonaro e seu governo vêm como ideal. 

Não faltaram razões para eles atacarem a educação, a cultura, os movimentos sociais e os direitos do povo. Faz parte da natureza política da extrema direita a busca por destruir tudo e todos que a fazem oposição, inclusive a realidade. Nesse momento, com o Brasil se aproximando rapidamente dos 400 mil mortos, nossa tarefa é fazer gritar a realidade por todos os cantos, resistir às tentativas de censura quando chamamos de forma acertada o governo de genocida e derrubarmos de uma vez por todas Bolsonaro e a extrema direita! Lembramos hoje da ditadura como um exemplo do que é capaz a sanha assassina apoiada pelo capital. DITADURA NUNCA MAIS! FORA BOLSONARO GENOCIDA!