EDITORIAL: 2022, derrotar Bolsonaro para enterrar a extrema-direita no Brasil!
As lutas e mobilizações de 2021 não só terão continuidade como precisarão ir além.
2022 será o ano em que vamos derrotar Bolsonaro. Em 2021, apesar da linha de aguardar as eleições para tirar Bolsonaro da presidência, nós fomos firmes na aposta de que era preciso tomar as ruas para lutar pela derrubada do genocida o quanto antes. Ainda que não tenhamos atingido seu impeachment, as mobilizações possibilitaram o acúmulo de forças e experiência na luta contra a extrema-direita, isolando Bolsonaro e consolidando nossa maioria social de oposição. Muitos daqueles que ocuparam as ruas e alguns pela primeira vez, viram no Juntos! um movimento para se organizar e seguir lutando por uma alternativa anticapitalista.
A crise que tanto nos atingiu antes não dá sinal de que irá diminuir. O ano mal começou e já estamos em alerta. As lutas e mobilizações de 2021 não só terão continuidade como precisarão ir além.
A crise ambiental e o capitalismo predatório
O sul da Bahia teve dezenas de cidades atingidas por chuvas fortes já em dezembro. Também no sul do Maranhão, cidades inteiras foram alagadas pela mesma razão, como Mirador e Imperatriz. Em Minas, a situação de tragédia foi realçada pelas ambições das mineradoras que afetam todo um ecossistema em busca de minérios. Como uma expressão do racismo ambiental, são justamente as pessoas negras e indígenas as mais atingidas pelas tragédias que o capitalismo produz.
As “tragédias das chuvas”, que sempre atingem o país no verão, por conta da ausência de políticas públicas destinadas a garantir moradias dignas, planejamento e proteção ambiental, são cada vez mais frequentes e em maior escala. As mudanças climáticas, com ondas que oscilam entre um extremo calor ou frio, entre a seca e o excesso de chuvas, são resultados do modo de produção em que somos submetidos.
O capitalismo e seu espírito predatório, associado a um governo que favorece essa lógica, faz índices de desmatamentos baterem recordes: a Amazônia tem a maior taxa em 15 anos. Enquanto a crise ambiental coloca a alguns a refletirem sobre o fim do mundo, cabe a nós apontar a necessidade do fim do capitalismo! Não há saída para qualquer crise que não perpasse pela superação desse modo de produção em que cada ação é pensada no valor de troca que pode ser gerado, mesmo que isso signifique a destruição de vidas e biomas e até do planeta.
É claro que a nossa luta deve perpassar por mediações a partir das nossas necessidades imediatas, não há tempo a perder. As mobilizações dos povos indígenas que tomaram Brasília no último ano são um exemplo a ser seguido nesse sentido, na busca por impor um freio ao genocídio e a sanha extrativista de garimpeiros, fazendeiros e madeireiros. Como os acampamentos Terra Livre e Levante pela Terra, em que estivemos presentes.
Para lutar contra os “consumidores do planeta”, como cunhou o líder indígena Ailton Krenak, precisamos lutar por uma alternativa que carregue consigo um programa de transição ecossocialista. Em breve, teremos um minicurso sobre ecossocialismo para que a nossa militância possa se apoderar ainda mais dessas elaborações e experiências. Só o povo salva a terra!
Bolsonaro, inimigo da educação
Desde quando chegou, com seus cortes e medidas autoritárias como a imposição de interventores e a perseguição de professores e estudantes, Bolsonaro sinalizou e identificou a educação pública como uma inimiga. Não à toa, é de lá onde parte muita resistência e de onde surgiu até então a maior mobilização contra seu governo com os Tsunamis da Educação em maio de 2019.
O ódio do genocida à educação não dá tréguas. Em pleno dia 30 de dezembro, o MEC emitiu um despacho proibindo a exigência da vacina para participação em atividades presenciais em universidades e institutos federais. Uma expressão do negacionismo que já foi derrubada, inclusive com decisão judicial, mas que ainda precisamos enfrentar.
Se não há uma orientação nacional pela cobrança do passaporte da vacina, em cada local que estamos, temos que lutar para que isso seja exigido! Como através de resoluções por meio dos conselhos superiores. Se é na universidade o principal espaço de produção científica, o exemplo da luta contra o obscurantismo deve partir de lá.
Os cortes também seguem, justo quando é preciso um reforço orçamentário para garantir que todos os estudantes possam retomar suas aulas presenciais, principalmente considerando a piora das condições de vida do povo desde quando entramos na dinâmica remota. A luta contra os cortes e por mais verbas para permanência estudantil será um marco para o movimento estudantil em 2022, sobretudo para impedir que a evasão universitária se aprofunde e que tenhamos mais retrocessos no processo de popularização do ensino superior. Assim como a luta pela prorrogação da lei de cotas, junto ao movimento negro, e contra as intervenções. Já neste ano, tivemos mais um ataque à autonomia universitária na Federal de Goiás.
Esse é também um ano onde a educação básica está sofrendo os resultados de anos de uma política excludente. O período da pandemia impactou em cheio os estudantes secundaristas, e a taxa de evasão escolar cresceu muito em meio à pressão para a entrada precoce no mercado de trabalho, graças também a um ensino remoto inoperante e que afastou muitos jovens do ensino. Este ano, veremos também os primeiros efeitos da Reforma do Ensino Médio, que resultará ainda mais em um ensino precarizado e que deve forçar jovens a abandonar a escola em busca de empregos cada vez mais precários. Desafios não nos faltam.
Aumentos e precarização das condições de vida
Uma das marcas da pandemia foram os aumentos nos preços, todos colocados na nossa conta e enquanto os ricaços seguiam lucrando e vivendo em condições absurdas. Como colocou a nossa Diretora da UNE, bilionários como Jeff Bezos iam ao espaço, enquanto a maioria mundial conhecia o inferno.
2022 se inicia com o anúncio de aumento nos preços de passagens em todo o país e nos mais diversos meios de transporte. Hoje o gasto com transporte representa quase 20% do orçamento das famílias. Não é por menos que as lutas contra o aumento nas passagens sempre podem ser expressivas. O “estallido social” no Chile, que desencadeou uma onda de mobilizações no país, partiu de atos de estudantes secundaristas que se recusaram a pagar o metrô, num gesto contra o aumento da tarifa. Não só os aumentos foram revertidos, como a Constituição neoliberal e autoritária de Pinochet foi derrubada.
Mais recente ainda é o processo de lutas em que vive o Cazaquistão, que explodiu a partir do aumento do preço do gás e foi direcionado posteriormente em manifestações contra o governo. É claro que a mobilização e seu potencial por si só não se desenvolverão. Precisamos nos jogar e estimular todo espaço de auto organização e mobilização contra os aumentos, nos referenciando nos mais diversos movimentos, coletivos e entidades.
Com um salário-mínimo real (1.212 reais) cada vez mais distante do necessário (5.315 reais, segundo o DIEESE), qualquer aumento é trágico. Ainda mais quando grande parcela da população sequer está empregada ou vive precariamente do trabalho informal. Não há possibilidade de aceitar que a conta da crise seja paga por nós enquanto os ricaços só ficam mais ricos!
2022, um ano de lutas
Por mais que anseios e expectativas possam surgir, é preciso visualizar 2022 como um ano de muita luta social. Nunca é demais relembrar, em especial neste ano. Todos os processos que promoveram mudanças estruturais decorreram da mobilização, forjada nas ruas. Novamente, o Chile é um exemplo para isso. Ainda que o processo de transformação poderia ter ido além (tendo sido interrompido por um acordo por cima), foi através do povo em luta que as mudanças foram construídas e abriram caminho para a derrota eleitoral da extrema direita.
Então é até mesmo aí que está a chave para um avanço no plano imediato. O levante negro que tomou os EUA em 2020 foi fundamental para a queda de Trump, ainda que também tenha sido derrotado nas eleições. Era ele a representação da extrema-direita, do núcleo mais racista do país. Cada mobilização antirracista que se expressou nas ruas carregou consigo também a luta pela derrubada do alaranjado.
Tal qual Trump, Bolsonaro não cairá de maduro. A eleição é um momento, um retrato. Se a sua derrubada será refletida no voto, é porque está sustentada num processo de acúmulo advindo da luta social. E ele não irá facilitá-lo, como já sinalizou em diversos momentos. Pode parecer um mantra, mas para quem está na posição de oprimido e explorado, jogando um jogo cujas regras não nos favorecem, não há outra saída senão a mobilização permanente para que essa queda de braços esteja a nosso favor.
Para além disso, precisamos forjar uma alternativa que de fato repense o Brasil a partir do enfrentamento aos seus problemas estruturais, sem rabo preso com alianças com o lado de lá, tendo uma perspectiva anticapitalista e ecossocialista. Nesse sentido, seguiremos com a nossa campanha Nem a fome nem os bilionários deveriam existir. A taxação dos ricaços desse país é uma marca de enfrentamento programático àqueles que se enriquecem de forma absurda à custa do povo. Qualquer melhoria real e efetiva nas condições de vida do povo não virá simplesmente das mãos de alguém. Precisamos arrancá-las com as nossas próprias mãos.
Mais do que nunca, é preciso derrotar Bolsonaro e avançar para enterrar a extrema-direita no Brasil e conquistar mais direitos ao nosso povo!