Educação em greve: e agora?
A greve dos técnicos administrativos universitários já passa de 1 mês e demonstrou uma relevante força por todo país, nos IFs os trabalhadores pararam já no começo desse mês e agora, em diversas universidades do país, os professores deflagraram sua própria greve iniciando nesta semana.
Com a deflagração da greve de professores nesta segunda-feira (15/04), a educação federal entra em um processo unificado de luta de seus trabalhadores. A greve dos técnicos administrativos universitários já passa de 1 mês e demonstrou uma relevante força por todo país, nos IFs os trabalhadores pararam já no começo desse mês e agora, em diversas universidades do país, os professores deflagraram sua própria greve iniciando nesta semana. Nesse contexto, temos que nos perguntar, qual deve ser o papel e quais objetivos deve ter o movimento estudantil?
Primeiro, é importante entender que mesmo a luta dos trabalhadores se expressando centralmente a partir de pautas salariais ou de carreira, o motivo para a desestruturação dessas categorias vem da precarização da educação no país – desde 2015 o ensino superior brasileiro vem sofrendo cortes sistemáticos. Já iniciados no final do governo Dilma, a situação orçamentária piorou com Temer e seu teto de gastos, com os ataques de Bolsonaro e não encontrou soluções no atual governo Lula.
Muito pelo contrário, de 2023 para 2024, houve um corte de mais 310 milhões. Isso piorou uma situação que era já preocupante: de acordo com o ANDIFES (representante oficial das universidades federais na relação com o governo), seriam necessários mais 2,5 bilhões de reais para as universidades fecharem o ano. Ou seja, com anos sem reajustes salariais e toda condição precária, é natural que os trabalhadores da educação encontrassem uma necessidade de suas categorias de entrar em greve por seus direitos – algo que temos o dever de apoiar.
Mas nesse sentido, o papel do movimento estudantil deve ir além. Foi a partir das mobilizações estudantis que foi possível que o questionamento aos cortes nas universidades em 2019 se tornassem uma grande onda que colocou, pela primeira vez na rua, o povo na rua contra o bolsonarismo. Recentemente, as greves da USP e da UNICAMP conseguiram demonstrar mobilizações amplas, capazes de dialogar com a sociedade, críticos ao modelo educacional neoliberal.
Por isso, temos três desafios fundamentais: assumir, totalizar e ampliar a luta. Os primeiros dois objetivos vêm em conjunto, ou seja, a compreensão de que essa luta também está conectada diretamente aos estudantes vem com o desafio de fazer com que as mobilizações assumam tanto as próprias pautas estudantis como também a disputa total de um projeto educacional. É necessário colocar que nenhuma mudança será possível sem que haja recomposição orçamentária e que junto a ela tenhamos condições de maior investimento na permanência estudantil e em estrutura. Com isso, a entrada do movimento estudantil na luta pode ser o fator que faça essa mobilização incorporar pautas centrais na disputa de modelo de universidade, como as cotas trans ou mesmo a paridade, porém, para isso, é preciso saber como é que os estudantes vão entrar em cena.
Diferente de outros momentos da luta educacional brasileira, em 2024, os trabalhadores entraram nesse processo como a vanguarda – ou seja, o setor deu o exemplo mais avançado da luta. Isso significa que ainda há uma disputa a ser feita nas universidades. Não é todo estudante que está convencido da greve, muito pelo contrário, ainda existe, a partir de uma nova geração pós-pandemia, muito medo e receio do que uma paralisação dessas pode significar. Isso não quer dizer que a maior parte dos estudantes não veja como justa a luta, mas que ainda precisa ser feita uma disputa e um trabalho para conseguir fazer com que eles não se tornem só observadores, mas partes ativas desse processo.
Para que isso seja possível, precisamos construir essa mobilização como uma luta de maioria. Ou seja, nem ser aqueles que querem negar as greves e mobilização por receio de dar um passo à frente, nem ser aqueles que acreditam que construir a greve basta por si só. Isso significa, buscando unidade com as categorias, construir ao mesmo tempo calendários unificados e atividades que possam incorporar e convencer estudantes ainda em disputa e, ao mesmo tempo, construir fatores exemplos onde for possível.
A construção de uma greve precisa colocar como principal objetivo se fazer uma luta de maioria dentro da universidade. Se nem todo instituto vai entrar em greve, nosso desafio é, ao mesmo tempo, construir exemplos nos espaços mais mobilizados, que possamos propagandear pela universidade e pelo país, sem ao mesmo tempo, perder a perspectiva de que é uma disputa total e não só dos espaços de vanguarda e que será necessário ter métodos que permitam todo estudante disposto a se somar no movimento na luta.
Por isso, onde o movimento estiver avançado, é importante permitir e desenvolver a experiência daqueles que querem estar à frente da mobilização, mas sempre alertando e disputando que só um exemplo isolado nunca será suficiente: os fatores exemplos precisam servir como pólo de unificação com as categorias já em greve e para a ampliação da luta para fora. Se não construirmos atividades unificadas, como atos, brigadas e outros espaços de convencimentos, a luta estudantil corre o risco de se fechar na sua própria vanguarda. Nisso, a caravana construída em Brasília para esse dia 17 pode ser um importante primeiro momento para nacionalizar a ideia de unidade entre os três setores e a busca por ampliação da mobilização entre os estudantes.
Por fim, para massificar a luta serão necessários dois embates: não aceitar a posição daqueles que buscam desmobilizar a mobilização para proteger o governo, mas ao mesmo tempo não cair no erro dos que acham que a greve pela greve basta e não procuram ampliar a luta para além da vanguarda. O combate a essas duas concepções se dá com o impulso à mobilização mais ampla, a paciência no debate com os estudantes em disputa, a flexibilidade tática do formato de mobilizações mas a não capitulação que é necessário avançar em nossas pautas.
Lula demonstra sinais trocados, reconhece as greves e diz estar pressionando seu governo para avançar nas negociações, ao mesmo tempo que indica, durante as mobilizações, cortes na própria educação. Isso significa que nossa mobilização é uma necessidade – a educação está sendo o primeiro setor que pela luta põe em xeque a política neoliberal do atual governo. É um processo em aberto, com seus desafios, potencialidades e contradições, mas que precisa ser disputado e para isso a participação e articulação do movimento estudantil é fundamental.