Alerta de incêndio na USP: não há tempo a perder!
Radicalizar as lutas para enfrentar a crise ambiental, o genocídio e a extrema direita pintando a USP de povo!
Os desafios da nossa geração não são poucos ou fáceis. Somos a última geração que pode puxar o “freio de emergência” da catástrofe ambiental e da ascensão da extrema direita. Estamos assistindo de forma televisionada um genocídio na Palestina pelas mãos de Netanyahu, primeiro-ministro de israel, com o apoio de Donald Trump e dos bilionários, combinada com uma ofensiva imperialista nos mais diversos países. Os desastres ambientais são cada vez mais frequentes e o PL da Devastação, promovido pelo agronegócio e pelo Congresso, acaba de ser sancionado pelo governo Lula.
Bolsonaro foi preso, mas a extrema direita segue ocupando o parlamento e as ruas, ameaçando os direitos do povo e as liberdades democráticas já insuficientes que temos. Diante disso tudo, precisamos de um movimento estudantil que não apenas aceite que a correlação de forças “está difícil”, mas que ouse ir além para subverter essa correlação de forças, indo até a raiz dos problemas e apostando em métodos de mobilização coletiva, mostrando nosso peso social nas ruas.
Em São Paulo, temos um elemento a mais: Tarcísio de Freitas tem colocado em prática seu projeto de destruição da educação pública pautado no sucateamento e diminuição do orçamento, da violência e da privatização. Seu tem sido um marco especial no agrupamento e fortalecimento da extrema direita no país a partir de São Paulo, de modo que precisamos atuar com ainda mais firmeza e consequência.
Na ditadura militar, foram os jovens do movimento estudantil da nossa universidade, organizados no DCE Livre da USP, que primeiro levantaram a palavra de ordem “Abaixo à ditadura!”. Foram protagonistas da conjuntura política e não aceitaram a miséria do possível, que era colocada pelos setores progressistas da época sob a justificativa de que era o momento de “esperar”. Levamos estes como exemplo: não temos tempo a perder! O alerta de incêndio já disparou: ou apostamos na ruptura com o sistema em que vivemos, que explora os trabalhadores e o meio ambiente, ou a barbárie se intensificará.
Nesse contexto, nós do Juntos! queremos abrir um debate franco sobre isso dentro da USP, levando em conta que as eleições do DCE Livre da USP estão chegando. Consideramos esse momento importante para politizar a nossa universidade e apresentar alternativas e propostas para a nossa universidade, para a educação e para o nosso futuro.
Nesse contexto, queremos defender a luta concreta como centro da nossa atuação, entendendo que nossa vitória passa por fora da institucionalidade. Além disso, é preciso apontar que a atuação dos coletivos que hoje dirigem a União Nacional dos Estudantes (PT, UJS e JPL, com a novidade do Afronte e RUA que passaram a fazer parte desse campo com suas guinadas ao governismo e à institucionalização) tem expressado seus limites no movimento estudantil: se ausentaram na construção da greve das federais em 2024; paralisaram o DCE Livre da USP quando estiveram na gestão; se ausentaram dos atos contra o PL da Devastação; e mesmo apostando firmemente em uma vitória eleitoral de Lula em 2022, seguem acreditando que a derrota da extrema direita se dará dentro dos limites das instituições – do STF e do Congresso.
Esses elementos apontam que, mais do que nunca, o movimento estudantil deve apostar em uma esquerda independente para derrotar a extrema direita e o fim do mundo promovido por ela. Uma esquerda que não tenha amarras com as instituições e que vá até as últimas consequências das lutas que nos propomos a tocar.
Por isso, de saída, colocamos que a nossa batalha se dá pela conformação de um campo anticapitalista e com independência política de qualquer reitoria e governo, com todos que defendem um movimento estudantil que tenha como principal método a mobilização e o enfrentamento. Com todos que não querem esperar o tempo das instituições, dentro e fora da USP!
Radicalizar a luta
Defendemos a unidade de ação, ou seja, queremos golpear juntos a extrema direita, com todos aqueles que entendem a gravidade do que significa a ascensão de setores neofascistas – contra estes, nos unimos “ao diabo e sua avó”. Mas com a certeza de que temos que marchar separados, ou seja, não somos aqueles que vão normalizar o arcabouço fiscal e a sanção do PL da Devastação, chamar Alckmin de “camarada” ou achar que o governo federal resolverá todos os nossos problemas.
Marchamos separados porque queremos construir um campo anticapitalista, em unidade com todos que acreditam que a mobilização popular é o único caminho para derrotar esse sistema, enterrar a extrema direita e enfrentar a crise climática e a exploração dos trabalhadores e trabalhadoras; que apostem sistematicamente nas ruas, e não apenas nas reuniões de gabinete; que sejam um embrião da construção de uma nova esquerda para o movimento estudantil e para o país.
Diante da extrema direita e de um governo de conciliação de classes, a esquerda reformista, que dirige o movimento estudantil nacional e que é oposição à nossa gestão do DCE Livre da USP, defende que é o momento de termos “paciência”, que precisamos esperar 2026 para “eleger mais deputados progressistas”. Não acreditamos nisso! Não podemos depender da institucionalidade, os últimos acontecimentos no Brasil e na USP demonstram isso: a nível federal, o governo Lula decidiu por vetar pequenos trechos do PL da Devastação, mantendo este como o maior ataque ao licenciamento ambiental da nossa história; na USP, a Reitoria se mostra intransigente no debate sobre cotas trans. Esses são apenas dois exemplos de que os meios institucionais são limitados e que vamos precisar ir além: precisamos radicalizar a luta.
A nível geral, defendemos ocupar as ruas pelo fim da escala 6×1, contra o genocídio na Palestina, contra o PL da Devastação e a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas e por direitos para a classe trabalhadora. Na USP, se for necessário, queremos ir até às últimas consequências e construir uma grande greve que arranque da reitoria as cotas trans, o vestibular indígena e as cotas PCD; além de fazer da USP uma fortaleza contra Tarcísio, batalhando para que o movimento estudantil esteja comprometido com o enfrentamento às privatizações, ao autoritarismo e à escala de violência da Polícia Militar nas periferias.
Se os nossos inimigos estão radicalizando o discurso, defendendo um golpe de estado, colocando alvos em pessoas trans e aprovando ataques ao meio ambiente, achamos que nós também precisamos radicalizar! Para levar até o fim essas lutas, precisamos de um DCE independente!
De onde viemos?
Com o retorno da pandemia em 2022, o movimento estudantil se via profundamente fragilizado na USP. A quarentena que perdurou os anos de 2020 e 2021 impôs uma quebra do acúmulo de experiências do movimento estudantil e também entraves à socialização dos estudantes e à ocupação dos espaços da universidade, condições fundamentais para construção de mobilizações. Junto a isso, vivíamos o quinto ano de um DCE sendo gerido pelo “Nossa Voz”, coletivo que agrupava as forças da majoritária da UNE, como os coletivos do PT, a UJS e a JPL. Essas gestões foram marcadas pelo boicote às mobilizações dos estudantes e pela compreensão de que o movimento estudantil deveria ser um mero intermediário entre os estudantes e a reitoria – no período dessas gestões, nenhuma mobilização de peso foi protagonizada pelo nosso DCE; quando os estudantes voltaram para a o presencial, a nossa entidade era praticamente clandestina, com pouca ou nenhuma intervenção no cotidiano.
Nesse contexto, as eleições do DCE Livre da USP de 2022, a primeira desde a pandemia, foi marcada pela vitória com mais de 70% dos votos para a chapa “É tudo pra ontem!”, construída por estudantes que tinham a certeza de que a mobilização e amplitude era o único caminho para colocar o movimento estudantil da USP de pé. Em 2024, a chapa “Fazer valer a luta!”, chapa de continuidade da gestão anterior, foi novamente vitoriosa.
Nesses últimos anos, essas gestões apostaram nas lutas com os Centros Acadêmicos e com o conjunto dos estudantes para garantir um aumento do PAPFE de 500 para 800 reais, pela construção da Greve de 2023 que abriu caminho para a contratação de mais de 1000 professores, por paralisações em defesa das moradias estudantis e da permanência e pela abertura dos debates nos conselhos superiores sobre cotas trans e vestibular indígena. Foram elas também que devolveram a relevância do movimento estudantil da USP, sendo linha de frente de amplas mobilizações contra o governo Bolsonaro; em defesa do orçamento da educação; contra Tarcísio e suas medidas autoritárias; e também em defesa do meio ambiente, contra o desmatamento e contra o PL da Devastação.
Através da Greve de 2023, fizemos o movimento estudantil da USP voltar para o debate público, apostando na unidade com os trabalhadores da CPTM, do Metrô e da SABESP para costurar um amplo levante contra Tarcísio de Freitas. Nos últimos meses, apostamos na articulação com o movimento LGBTQIAPN+, com o movimento trans em especial, de fora e de dentro da USP, para defender a implementação das cotas trans na nossa universidade e fortalecer o enfrentamento à extrema direita que escolheu pessoas trans como principal alvo de seus discursos de ódio. Colocamos o DCE Livre da USP à serviço do movimento dentro e fora dos muros da universidade!
Em 2025, queremos defender esse legado e seguir garantindo que a nossa entidade geral seja pautada pela mobilização e pela amplitude, com a confiança de que é “nós por nós”, que apenas a nossa própria força pode garantir vitórias pela democratização da universidade e também por outra sociedade. O que estará em jogo não é se os estudantes concordam ou discordam de tudo aquilo que defendemos, mas se o nosso DCE seguirá tendo independência política para lutar, ou se tornará um apêndice da Reitoria e do governo federal.
O que defendemos para essas eleições?
Diante do que expomos, propomos algumas bandeiras fundamentais para o próximo período, chamando todos os estudantes, coletivos auto-organizados e entidades a levantarem elas conosco:
- USP contra a crise climática: fim de qualquer convênio com big-techs, com o agronegócio ou com petroleiras – nossa ciência não pode servir ao fim do mundo. Por um protocolo de combate aos efeitos das mudanças climáticas na USP, que preveja a suspensão das atividades em momentos de extremos climáticos e reformas estruturais nos nossos campi!
- Por uma USP com a cara do povo: aprendemos com a conquista das cotas étnico-raciais e sociais que a USP só pode ser transformada com luta, por isso queremos radicalizar nossa mobilização pelas cotas trans, pelo vestibular indígena e pelas cotas PCD.
- A USP não pode ser conivente com um genocídio: rompimento de toda e qualquer relação da nossa universidade com Israel. Impulsionar programas de solidariedade e de apoio aos refugiados palestinos e parcerias com instituições que resistem em Gaza e na Cisjordânia.
- Permanência para estudar, direitos para trabalhar: PAPFE de no mínimo R$1000 e para todes que precisam; reformas estruturais e ampliação das moradias; aumento da quantidade de bolsas PUB e também de sua remuneração; direitos para os estagiários; garantia de bolsas para os alunos da pós-graduação. Queremos mais orçamento e investimentos na universidade!
- Independência política para lutar: seguir apostando nas mobilizações de dentro e fora da USP, sem rabo preso com reitorias e governos. Não é o momento de termos “paciência”, nossas demandas são urgentes! Queremos ocupar a USP e as ruas para defender a nossa educação e os direitos do povo!
Para concretizar essas demandas, precisamos fortalecer um campo de todos aqueles que defendem a mobilização e a independência política para o movimento estudantil. Diante de uma difícil conjuntura, a unidade daqueles que lutam é fundamental. Passou da hora de superarmos as disputas improdutivas do movimento estudantil e fortalecermos um campo que seja capaz de dialogar com amplos setores da universidade e de construir lutas para conquistar as demandas mais imediatas dos estudantes e também de avançar na batalha por outro futuro que supere o sistema em que vivemos.
Por isso, achamos fundamental a construção de uma chapa para o DCE Livre da USP que envolva os companheiros do Movimento Correnteza, da UJC e do Rebeldia, coletivos que já construíram e constroem unidades de ação fundamentais conosco. Desejamos abrir um diálogo também com os companheiros da Faísca Revolucionária, que demonstram disposição de lutar unitariamente, apesar de terem sido oposição às nossas gestões nos últimos anos. Com estes, acreditamos ser possível produzir sínteses não somente para disputar eleições, mas também para unitariamente incendiarmos a USP com as nossas lutas. Além disso, queremos seguir dando a batalha para que o movimento estudantil seja de todo mundo! Defendemos uma renovação dos métodos do ME para que ele seja compatível e receptivo com todes es estudantes. E é nesse sentido que chamamos qualquer um que acredita que a luta é o caminho para construir esse projeto conosco!