ENSAIOS SOBRE O FIM
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ENSAIOS SOBRE O FIM

Uma reflexão sobre o colapso ambiental, o capitalismo e a necessidade urgente de reinventar nossas relações com o planeta a partir da sabedoria ancestral dos povos da floresta

Mateus de Sousa Lima 10 nov 2025, 17:57

Na atual conjuntura, após 29 COPs, e com os preparativos para a 30° Conferência das Partes, já deve estar claro quais interesses estão postos à mesa, e que, as tais partes, se limitam a uma parcela ínfima da população global. Verdade seja dita, a COP em questão, que acontecerá na Amazônia, não pretende ser um espaço de escuta para os povos da floresta. Sua premissa central, mitigar os estragos resultantes dos últimos dois séculos em que o Capitalismo vem se desenvolvendo, é fortemente suprimida pelas urgências da burguesia e sua necessidade de extrair até a última gota os recursos do Sistema Terra para multiplicar seu capital financeiro.

Como Marx bem previu, o Estado se tornou um verdadeiro balcão para a disputa pelos interesses da classe dominante, e uma prova cabal disso, é o discurso ambientalista do governo brasileiro, que se contradiz com o leilão de nossos territórios, e dos povos que neles vivem. Ecos disso, uma gestão que fala em ser uma potência verde ao mesmo tempo em que aprova a perfuração em busca de petróleo na Foz do Amazonas, que apresenta como solução viável o crédito de carbono, a compra de florestas preservadas para destruir outras. As políticas debatidas nesse evento apenas tentam saciar a sede infinita daqueles que buscam insaciavelmente por dinheiro, em um mundo onde os recursos estão se esvaindo e sua falta, juntamente com as cristalizações das mudanças climáticas em deslizamentos, secas e enchentes, começam a gerar inquietações nas massas.

Mesmo mediante às crises provocadas pelo Sistema Capitalista, tentam nos convencer a permanecer nele. Condicionam, com filmes, livros e séries sobre diversas versões de apocalipse, o imaginário popular a crer que é mais fácil pensar o fim do mundo, do que pensar o fim do Capitalismo. Alimentam a ideia de um final inevitável. Pois que seja o fim, o fim do sistema que nos expropriou de nossa terra e se alimenta da nossa miséria, para que haja o nascimento de um novo sistema, que respeite o planeta e glorifique a emancipação real das consciências humanas e não-humanas, o renascimento de Pachamama e nossos povos. Essa ideia de fim do mundo não nos é desconhecida, nem evoca o pavor que poderia resultar em uma apatia estagnante, pois, enquanto povos colonizados, conhecemos e vivemos inúmeros fins de mundos, desde o primeiro indígena executado pelos invasores europeus, aos que hoje são assassinados pela fome que vigora com o roubo de suas terras, desde o primeiro negro sequestrado de Mãe África, aos que hoje são massacrados por chacinas policiais, tivemos contatos íntimos com o fim, que hoje, com apenas uma de suas muitas facetas, tanto assusta os colonizadores.

Apesar da necropolítica que decide quais são as vidas vivíveis e as vidas matáveis, nossos povos resistem, existem e reexistem, mesmo com as barbáries infligidas pelo sistema que se mostra sem máscaras, aqui, na periferia do Capital. E, é por eles, não somente por todos que vieram antes de nós, mas também, por todos que virão, que nossas lutas precisam continuar e encontrar maneiras de produzir futuros possíveis. Alessandra Munduruku disse que na contramão das políticas de morte, a gente precisa construir sementes de esperança, e é isso o que fazemos, JUNTOS, quando organizados coletivamente e politicamente instrumentalizados demandamos direitos, em especial, o direito de esperançar, no sentido freiriano, um amanhã melhor. Estamos enraizando essas sementes, fincando-as ao chão com raízes profundas, para que resistam as tempestades que virão. A possibilidade da continuidade da vida na terra sairá da Amazônia para o mundo, e não o contrário. É hora de esquecer o mito desenvolvimentista, e, focar no Envolvimento entre as pessoas e a natureza. Ouvir os povos que há milênios desenvolvem relações harmônicas com o cosmos e reaprender com eles formas outras de existência, que promovam o alargamento da nossa estadia no planeta, porque nosso futuro será ancestral, ou não será.


Imagem O Futuro se Conquista

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