A Geografia serve, antes de mais nada, para construir outro futuro!
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A Geografia serve, antes de mais nada, para construir outro futuro!

Hoje é dia 29 de Maio, dia do Geógrafo. Para além de ficarmos felizes por termos nossa profissão reconhecida e datada, é necessário que, como Geógrafos ou estudantes de Geografia, reflitamos: Para que serve esse dia, afinal de contas?

Gabriel Lindenbach 29 maio 2012, 18:14

* Gabriel Lindenbach

“Minhas primeiras viagens, ainda na infância, feitas por alguém que ainda não pensava que um dia viesse a se tornar geógrafo, adquiriram, posteriormente, uma importância fundamental. Ao longo da vida, cada impressão que tive de paisagem, de clima ou de tempo foi por mim interpretada geograficamente mais tarde, por mais recôndita que estivesse na memória. Aos poucos, atingi a noção da organização natural do espaço em face da (des) organização humana do território.”
(Aziz Nacib Ab’Saber em “O que é ser Geógrafo”)

Hoje é dia 29 de Maio, dia do Geógrafo. Para além de ficarmos felizes por termos nossa profissão reconhecida e datada, é necessário que, como Geógrafos ou estudantes de Geografia, reflitamos: Para que serve esse dia, afinal de contas?

A Geografia é uma Ciência Atípica. Não só porque rompe com as diretrizes científicas do séc. XIX, de uma academia forjada nos interesses capitalistas, quando ousa questionar a desnaturalização do homem e a conseqüente segregação dos estudos e da produção do conhecimento humano em diversas áreas (Ciências Humanas, Naturais e Exatas), mas essencialmente porque os estudos das relações entre a sociedade humana e o planeta Terra nos dão condições e a responsabilidade de construir um mundo diferente, socialmente igualitário, livre de opressões e ecologicamente suficiente, buscando uma relação de equilíbrio entre homens e o restante da natureza.

Sendo essa a função final de um Geógrafo, não há motivo para comemorações no dia de hoje. A forma de organização da sociedade, o sistema capitalista, nos faz avançar a passos largos na contramão do que entendemos ser esse mundo melhor. Em escala global, resguardadas as devidas proporções, a sociedade é obrigada a pagar a conta de uma crise econômica que não é sua, e sim de grandes empresas e bancos. Retiram nossos direitos a educação, a moradia, a cultura e ao transporte e aplicam esse dinheiro para salvar essas grandes corporações.

Mas isso não é o suficiente para tirar o mundo dessa crise. Os grandes capitalistas já arquitetam novas formas de continuar acumulando riquezas: Avançar sobre o que nos é de vital importância, o Meio Ambiente.

No mesmo Brasil onde foram recém aprovadas as mudanças no Código Florestal, que permitem a destruição de nossas florestas por parte dos grandes produtores latifundiários e onde em nome do progresso e do desenvolvimento se constrói a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que destruirá uma grande parte de um de nossos biomas mais ricos, será organizada, no próximo mês, a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, um espaço onde Chefes de Estado de todo o mundo se reunirão para debater e aprovar uma “nova” forma de relação com a Natureza, uma máscara para o caráter devastador da exploração do sistema capitalista, onde a natureza se transforma numa mercadoria à disposição dos interesses dos donos do poder.

Paralelamente a essa atividade institucional, acontecerá, também no Rio de Janeiro, a Cúpula dos Povos, um espaço onde Movimentos Sociais, Intelectuais, Estudantes, Partidos Políticos e demais setores da sociedade civil mundial se reunirão para debater as causas estruturais das crises econômica, ambiental e política, e propor alternativas concretas a essas crises. Basta de falsas soluções!

Nós, Geógrafos, não podemos nos abster desse processo. Temos a tarefa de colocar em prática tudo o que estudamos. Vamos sair de nossos locais de trabalho, das salas de aula e das Universidades e vamos nos organizar coletivamente para construir outro futuro, um novo projeto de desenvolvimento, de sociedade e outra forma de nos relacionarmos com a natureza.

Que o dia 29 de Maio, então, passe a ter esse significado, o espírito contestador de nosso eterno mestre Aziz Ab’Saber, que até os últimos dias de sua vida lutou com força e determinação pela construção de um outro mundo. Um dia de debate, um dia de esperança e um dia de luta.

* Gabriel Lindenbach é estudante de Geografia da FFLCH/USP e militante do Juntos! SP.


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