29M: uma reflexão sobre os próximos passos
Uma primeira impressão sobre as manifestações do 29M, o papel da juventude e a necessidade de disputar que as manifestações continuem em uma luta pela saída imediata de Bolsonaro
O significado e as possibilidades abertas a partir das mobilizações desse dia 29 de maio ainda têm que ser compreendidas com mais tempo e elementos que devem se desenvolver nos próximos dias. Mas a grandiosidade das manifestações permite uma certeza: foi um dia vitorioso que coloca a necessidade da retomada das ruas em pauta para aqueles que são oposição ao Governo Bolsonaro. Os manifestantes chegaram a centenas de milhares em todo país, com peso grande de uma parcela da juventude que está participando pela primeira vez de processos de luta como esses, e superaram em números qualquer mobilização bolsonarista recente. Na semana passada mesmo, o passeio de moto do presidente no Rio de Janeiro ficou aquém do tamanho do protesto do 29M na mesma cidade. Ou seja, foi uma data histórica que certamente repercutirá nos próximos passos da política brasileira.
Três elementos foram fundamentais para esse sucesso. O primeiro é o desenvolvimento e as repercussões do CPI da COVID e a queda de popularidade do Governo que vem se intensificado nas últimas semanas. Somado a isso, tem sido fundamental o desenvolvimento de protestos mais amplos de lutas nos Estados e nacionalmente durante o mês de maio – no qual se destaca a mobilização feita pelos moradores do Jacarezinho, os atos do dia 13 e a manifestação no dia 14 puxada pelo DCE da UFRJ, no qual o Juntos teve um papel fundamental. Por fim foi a amplitude da convocação, já que pela primeira vez desde o começo da pandemia uma parte considerável tanto dos movimentos sociais mas também dos aparatos políticos participaram na chamada das mobilizações.
A soma desses elementos não só permitiu o dia 29M se tornar um espaço que agregou as diversas mobilizações em uma expressão de uma luta geral contra Bolsonaro mas também colocam em pauta a possibilidade do desenvolvimento de novas iniciativas que acirrem o enfrentamento contra ele e por sua saída imediata. Nós estivemos defendendo desde os levantes antirracistas do ano passado a necessidade de entender a rua enquanto espaço que precisa ser ocupado para uma luta real contra a extrema-direita. Nossa disputa nesse momento precisa ser pela continuidade desse processo e de que nossa luta política se gire em torno da saída imediata do Bolsonaro – ou seja, do impeachment.
Uma disputa porque a defesa de parte da esquerda brasileira tem se expressado de forma bem evidente – acreditam que se deve desgastar Bolsonaro até 2022 para que ele seja derrotado nas eleições, para isso as manifestações de ruas sendo feitas de forma contínua podem ser desnecessárias ou até incomodas. Exemplo disso foi a posição que a CUT e o MST tiveram durante boa parte da semana de não convocação para o 29M. Junto a isso, Governadores do campo progressista em vários Estados atuaram contra as manifestações, com destaque da gestão do PSB em Pernambuco que já vinha atuando com o Ministério Público para a desmonte dos atos e que, ao se tornarem realidades, respondeu com uma repressão maior que qualquer outo Estado no Brasil.
Essa lógica que vem seguindo o PT. Para além dos casos mais explícitos como na Bahia onde se colocaram publicamente contrário as manifestações, as chamando de insanidade, e em Fortaleza onde puxaram (junto à Frente Brasil Popular) uma carreata separada do ato de rua na cidade, o silêncio do partido sobre as manifestações é expressivo. Lula durante todo o dia 29 não fez nenhuma referência em suas redes sobre as mobilizações. A aposta exclusivamente em 2022 é uma estratégia política pensada que tem consequências – entre elas a tentativa de esvaziamento das ruas e a dificuldade de se pensar uma continuidade no movimento.
Isso não significa que não devemos defender que as ações e lutas contra o Bolsonaro tenham que ser o mais amplas possíveis – a força do 29M veio exatamente da unidade de ação. Mas que é importante sermos abertos sobre as disputas que passa o movimento agora para que possamos travar a batalha em todos nossos espaços para que o movimento continue e siga a luta pela saída imediata de Bolsonaro.
No tamanho da crise que estamos vivendo, com mais de 450.000 mortos, esperar até 2022 para derrotar esse governo seria uma tragédia. As ruas ontem mostraram um caminho num dia muito vitorioso e a mobilização precisa seguir. É necessário não só pensar uma nova data nacional de lutas, mas mobilizações contínuas como panfletagens e outras iniciativas nesse sentido que coloquem em pauta o Impeachment e a saída imediata de Bolsonaro.
Esse debate tem que ser feito também de baixo para cima, o papel do Juntos, de seus militantes e da juventude em geral precisa ser o de fortalecer a luta para que haja continuidade dos processos abertos no mês de maio e que eles levem a uma mobilização pela saída imediata desse Governo. Essa nova geração que tem ocupado as ruas pode ser vanguarda no enfrentamento ao bolsonarismo, não se submetendo àqueles que acreditam numa via meramente eleitoral e apontando, com todos aliados possíveis, o caminho das ruas. Muita água ainda vai correr depois das mobilizações de ontem e ainda não sabemos quais serão os desenvolvimentos que surgirão desse processo, mas ter em mente nossos objetivos é fundamental para os desafios que virão.