13J: uma data necessária! Esquenta Nacional para o dia 24!
Rio de Janeiro

13J: uma data necessária! Esquenta Nacional para o dia 24!

Não podemos fazer uma aposta única em dias com intervalos tão espaçados, sem perspectiva de construir uma luta mais generalizada

Theo Louzada Lobato 25 jun 2021, 12:51

Com mais de 2 mil participantes, a Assembleia Povo na Rua votou uma nova data de manifestações nacionais: o dia 13 de Julho. Essa data surgiu depois que a Campanha Fora Bolsonaro definiu o dia 24 de Julho, mais de um mês de depois da construção da última manifestação, como a nova data de mobilizações contra o Governo. Essa decisão gerou críticas de muitos que acreditam que a luta contra Bolsonaro tem que ser contínua. As redes da UNE e de diversos parlamentares que convocaram a data, por exemplo, ficaram cheias de questionamentos do porquê a organização estaria esperando tanto tempo para marcar uma nova mobilização.

Estamos em um momento onde a fragilidade de Bolsonaro está em alta. Ao mesmo tempo que Bolsonaro tenta coesionar sua base com suas motociatas, o dia 19J foi uma prova definitiva de que a oposição é quem tem condições de dar as cartas com verdadeira força na rua. A manifestação do presidente em São Paulo, com todo peso jogado pelo bolsonarismo, reuniu pouco mais de 6000 pessoas, enquanto isso, na própria capital do mesmo Estado, a oposição chegou na casa da centena de milhar, com nove quadras da Avenida Paulista ocupadas.

Enquanto isso, o desenvolvimento do CPI da COVID tem chegado a espaços cada vez mais comprometedores para o Governo. A compra da Covaxin por 1000% o preço de custo, após negar a Pfizer por metade do preço e a suspeita de fraude na escolha da empresa mediadora desse negócio, coloca a possibilidade de um escândalo de corrupção no seio do governo cada mais vez próxima. Somada à crise social, isso gera motivos para a impopularidade de Bolsonaro estar em uma crescente considerável – as novas pesquisas demostraram que agora 49% da população considera seu governo ruim ou péssimo, em contraste com os 24% que ainda o apoiam.

Ou seja, todos elementos estão dados para que o povo possa contra-atacar esse governo genocida. A decisão da campanha Fora Bolsonaro é infeliz, porque entra em uma lógica de desgaste de Bolsonaro até as eleições e não de enfrentamento até sua derrubada – por isso cria datas tão espaçadas. Isso de forma alguma tira a legitimidade do dia – o dia 24J tem que ser uma grande manifestação onde toda oposição jogue tudo para uma manifestação de mais de um milhão de pessoas. Mas isso não significa que é suficiente.

Precisamos disputar a ideia de que as ruas precisam ser permanentemente ocupadas e não somente uma vez por mês. Os processos latino-americanos como o da Colômbia, Peru, Paraguai e Chile são exemplos importantes e avançados de como o povo na rua pode em pouco tempo mudar os rumos da política – essa disputa permanente do espaço das ruas tem sido definidora para conquistas importantes como a nova constituição chilena e a derrota da extrema-direita no Peru. Esse espírito de revolta ainda precisa ser criado no Brasil, mas para isso, os setores de oposição têm que apostar na mobilização popular permanente.

Nesse sentido, o dia 13 de Julho se torna uma data muito importante. Antes da assembleia, nela já estavam marcadas duas mobilizações fundamentais. A primeira era a paralisação dos trabalhadores dos Correios contra a privatização da empresa. No mesmo dia, em Brasília, a Frente Nacional de Lutas no Campo e na Cidade já planejava uma marcha importante de enfretamento ao governo.

Nada faria mais sentido que aqueles que estão construindo a luta geral de enfrentamento ao Bolsonaro se somassem à essa data como forma de construir um esquenta para o dia 24J. Iniciar a construir um calendário mais permanente de lutas tem que ser feito junto aos trabalhadores e movimentos sociais já em mobilização. Nisso a data do 13 também tem um fator importante, por ser um dia de semana, permite a possibilidade de debate de paralisações nos locais de trabalho e estudo – algo que, caso aconteça, pode dar uma outra qualidade para a luta.

Sendo assim, a construção dessa data será fundamental para que possamos caminhar para uma mobilização mais permanente contra Bolsonaro. Como esperado, alguns setores da esquerda já vêm colocado uma taxa de “divisionismo” na construção de dia de lutas. Não é difícil dizer que essa crítica faz muito pouco sentido. O Juntos, como outros partidos e coletivos que estão construindo o 13J, tem participado ativamente e com todo peso das datas unitárias – a existência de dias de convocação unificados é um aspecto fundamental da luta antibolsonarista. Por isso participamos da campanha Fora Bolsonaro e seguiremos construindo as datas de mobilização conjuntas, mesmo quando discordamos de parte das decisões de sua direção.

Porém, é visível que é necessário que precisamos ir além da lógica de manifestações dispersas no tempo e que não se coloquem também como construções de baixo pra cima, envolvendo espaços democráticos de decisões dos trabalhadores, estudantes e movimentos populares em seus locais de estudo, trabalho e atuação. Apostar na amplitude do movimento é natural em qualquer momento de maior enfrentamento e é um dever da esquerda para permitir que as mobilizações não tenham um sentido político que se resuma à institucionalidade. Não podemos fazer uma aposta única em dias com intervalos tão espaçados, sem perspectiva de construir uma luta mais generalizada e dando tempo para o bolsonarismo se recuperar. O exemplo das jornadas de mobilizações que aconteceram no Rio de Janeiro em maio, com o dia 10 contra chacina do Jacarezinho, 13 nas manifestações nacionais contra o genocídio do povo negro e 14 puxado pelos estudantes da UFRJ são exemplos que valem ser retomados.

Esse é o espírito do dia 13J e por isso todos estão convidados a construí-lo em seus diversos locais de atuação. Um dia de mobilizações e de preparação para um dia 24J que supere o 19 de Junho! A força de nosso movimento é a cada dia maior, ao mesmo tempo que Bolsonaro se fragiliza. Mas derrotar o bolsonarismo ainda é uma luta em curso e árdua, para isso precisamos nos reinventar, nos renovar e apostar na luta popular. Por isso estaremos no 13J com os estudantes e trabalhadores esquentando a rua e se preparando para o 24J!


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