Lutar por permanência é urgente! O projeto de precarização da USP ameaça a saúde mental dos estudantes
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Lutar por permanência é urgente! O projeto de precarização da USP ameaça a saúde mental dos estudantes

Todos nós sabemos que a crise pela qual passa o nosso país, que envolve a pandemia, o desemprego e a falta de perspectivas de futuro tem sérios impactos na saúde mental da juventude e colaboram para o aparecimento de quadros depressivos entre os estudantes. Mas a saúde mental também encontra barreiras dentro da própria universidade.

Juntos! USP 9 jun 2021, 18:45

2021 é o primeiro ano no qual a maioria dos estudantes da USP é oriunda da escola pública. Nos últimos 10 anos, quadruplicou-se o número de estudantes negros em nossa universidade, que antes da conquista história das cotas étnico-raciais e sociais, era pouco popular e muito embranquecida.

Essa nova realidade, apesar de muito positiva, traz consigo uma série de desafios.

É necessário garantir que esses estudantes não tenham que evadir, por não conseguirem morar e se alimentar com qualidade, pagar suas contas, acessar a internet e equipamentos de informática, por adoecerem mentalmente, entre outros problemas cada vez mais latentes na USP. Entrar não basta, é necessário garantir que esses estudantes permaneçam na universidade!

Enfrentar esse problema é também enfrentar um projeto de precarização da USP e das universidades públicas no geral. Esse projeto de precarização em curso tem como sua expressão nacional os ataques de Jair Bolsonaro ao orçamento das federais, o que acarretará no fechamento de muitas dessas universidades. A precarização na USP acontece de forma semelhante. Ao mesmo tempo que nossa universidade se populariza e se enegrece, estes novos estudantes se depararam com uma USP que ainda não está preparada para garantir a permanência de todes.

Com moradias estudantis em situação precária, um auxílio financeiro insuficiente e a falta de uma política que garanta alimentação de qualidade para os que precisam, sejam por meio de marmitas ou por meio de um auxílio, a universidade não se preocupa em garantir que esses alunes terminem sua graduação com tranquilidade. A USP também está enfrentando uma grave crise de falta de professores, assim como denunciaram os estudantes do Centro Acadêmico da ECA na última semana. Hoje, os estudantes atravessam um ensino remoto precário e improvisado, que inclusive pode se estender até depois da pandemia, conforme quer a reitoria.

Enquanto a USP, como uma referência na potência da educação pública em produzir conhecimento, se encontra em 9º lugar como a universidade que mais produz pesquisa no mundo, no dia a dia da universidade professores negros precisam denunciar publicamente a falta de políticas que combatam o racismo estrutural dentro da universidade e as dificuldades que estudantes negros enfrentam ao tentar estudar e se formar. 

Essa contradição é latente e não pode servir para que o governo e a reitoria sigam concentrando investimento nas áreas mais lucrativas, enquanto desmonta a estrutura da universidade que garante com que seus alunos, docentes e pesquisadores aprendam e sigam sendo fundamentais como um pólo importante da ciência e de democratização do conhecimento. 

O projeto de precarização das universidades estaduais paulistas, que se expressou ano passado com a proposta do PL 529 de João Doria, para congelar o orçamento da estaduais, não apenas não garante a continuidade das pesquisas de ponta na USP, mas também não garante que os estudantes mais pobres e mais vulneráveis concluam a tão sonhada graduação. 

Saúde mental também é permanência estudantil!

[Alerta de gatilho – suicídio]

Nas últimas semanas, a comunidade uspiana se viu diante de uma tragédia. Em um curto período de tempo, 3 estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, infelizmente cometeram suicídio. Um deles, inclusive, era morador do CRUSP, O Conjunto Residencial da USP. O adoecimento mental dos estudantes da universidade é cada vez mais frequente, mas a reitoria e as diretorias se mantém inertes em relação a buscar saídas para esse quadro.

Todos nós sabemos que a crise pela qual passa o nosso país, que envolve a pandemia, o desemprego e a falta de perspectivas de futuro tem sérios impactos na saúde mental da juventude e colaboram para o aparecimento de quadros depressivos entre os estudantes. 

Esse cenário é reforçado com a falta da vivência presencial da universidade e de espaços de troca com colegas e amigos, sendo a solidão do EAD também sendo parte dessa crise. Mas a saúde mental também encontra barreiras dentro da própria universidade. 

Quando os estudantes mais pobres e os estudantes negros, que depois de anos sendo sistematicamente excluídos do direito à educação superior, chegam numa universidade despreparada para recebê-los, se vêm numa situação muito difícil. 

As políticas de permanência, como as residências estudantis, os bandejões e os auxílios financeiros são fundamentais para garantir que o direito à educação e à graduação, seja um direito pleno. 

Mas não é o que vemos hoje na USP. As residências estudantis enfrentam uma série de problemas estruturais: falta de manutenção, de internet, cozinhas e lavanderias precárias, falta de água e luz constantes, marmitas oferecidas durante a pandemia também são de pouca qualidade e os bandejões vem sofrendo privatizações que estão impactando sua qualidade. 

Os auxílios financeiros existentes na USP hoje são aquém do que deveriam ser: 400 reais, o antigo valor, e 500 reais, o novo valor depois do insuficiente reajuste feito pela reitoria, estão muito distantes de conseguir acompanhar o aumento dos custos de vida dos estudantes diante de uma grave crise econômica no nosso país. Esses problemas, que têm responsáveis – a reitoria e o projeto de precarização da USP encabeçado pelo governo estadual – impactam não só a vida acadêmica dos estudantes mais pobres, mas também sua saúde mental. Afinal, em meio a uma pandemia, é muito prejudicial ainda se ver sem o apoio necessário da universidade para se manter em sua graduação. 

É urgente que a luta pela permanência estudantil se fortaleça na USP: a nova geração de estudantes que precisam ainda mais de moradias, bolsas e auxílios, precisam conseguir concluir suas graduações. É necessário garantir que não precisem optar entre evadir dos cursos ou adoecer mentalmente. 

Permanência estudantil é também sobre saúde mental e precisamos incorporar essa pauta em nossas lutas na USP a fim de construir um movimento em defesa da permanência estudantil e das nossas vidas! 

Gostaríamos também de lembrar dos estudantes que partiram: a eles nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de luta!

 Para que esses casos não se repitam na USP e para que a universidade responda às reivindicações de estudantes e professores por medidas de atendimento à saúde mental e de combate ao racismo dentro da universidade é urgente a construção de um movimento pelo fortalecimento das políticas de permanência, a exemplo da Campanha Permanência Não É Esmola, construída pelo Coletivo Juntos e estudantes de diversos campi da USP, que reivindica mais investimentos dos auxílios financeiros e manutenção nas moradias estudantis e bandejões.


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