Monark, Kim, Adrilles e as falsas comparações
Da apologia ao nazismo à falsa comparação com o comunismo
O recente caso de apologia ao nazismo protagonizado pelo podcaster Monark, um dos donos do FlowPodcast repercutiu nos últimos dois dias por todas as redes. Em um programa gravado junto aos deputados Tabata Amaral e Kim Kataguri, o influenciador comentou que deveria haver um “partido nazista”, como forma de liberdade de expressão e que não seria um problema em si se expressar enquanto antijudeu. Essa polêmica respingou em diversos espaços e figuras, como o próprio fundador da MBL, Kim Kataguri, que disse no programa que o nazismo deveria ser também “posto a luz para repudiá-lo” quanto o apresentador da Jovem Pan Adrilles Jorge, demitido por fazer uma saudação nazista no programa.
Ressaltar o porquê dessa fala é um absurdo é óbvio e não é o principal objetivo desse texto. A defesa de uma “liberdade total de expressão” que Monark e as outras duas figuras representam chega ao ponto de que se eles se sintam confortáveis para defender a existência de uma ideologia política que baseia sua existência no extermínio de outros. É um ponto auge de uma lógica capitalista que defende a liberdade em sua forma e não em seu conteúdo. Enquanto alguém com a influência do Monark tem a liberdade de expressar que deva existir um partido nazista, Durval, um trabalhador negro assassinado por supostamente “ser confundido por um ladrão” em São Gonçalo, não tem a liberdade de viver por conta de uma estrutura racista que é mantida por esse sistema.
Não existe liberdade para a maior parte do povo no capitalismo. Enquanto vivemos em um sistema onde é necessário ser explorado para viver e a maior parte dos jovens negros brasileiros ainda têm que lidar com o risco de ter um destino igual ao Moïse, imigrande congolês assassinado na Barra da Tijuca por exigir seu salário atrasado, e Durval, a utilização dessa palavra sem a reflexão da necessidade da criação de um novo modelo de sociedade realmente livre tem o risco de ser só uma utilização de um conceito formal para justificar o aumento da exploração.
Nisso que vale destacar algo que não foi tão repercutido assim nas mídias e redes sociais, em ambos os casos – do Flow e do jornalista da Jovem Pan – a discussão que ambos tentavam, durante seus pronunciamentos, fazer era uma equiparação entre o comunismo e o nazismo, colocando ambos como moedas do mesmo lado e defendendo que se o último é proibido, ao menos partidos que se reivindicam comunistas também deveriam ser.
Esse discurso não é novo, era constantemente utilizado por exemplo no período macartista nos Estados Unidos (1950-1957) e foi base para a instauração de diversas ditaduras militares capitalistas pelo mundo, inclusive a brasileira que se instalou também utilizando a ideia de “perigo vermelho”. Os regimes mais reacionários, em seu combate ao comunismo, muitas vezes colocaram essa noção de “liberdade” como algo a se defender contra a construção de uma sociedade mais coletiva.
Isso não significa que todo regime que se reivindicou comunista deva ser defendido: a contrarrevolução stalinista ou o regime sanguinário de Pol Pot na Cambodia, por exemplo, não são modelos a serem seguidos. Mas não são poucos os comunistas que abertamente já defendiam e seguem defendendo que a abolição da exploração do capital também seja conectada com uma democracia operária, feita pela maioria dos trabalhadores e do povo e não por uma elite econômica capitalista nem por uma burocracia degenerada.
Mas a história do capitalismo é marcada por seus Pinochets, Médicis e Hitlers, por suas guerras imperialistas, pelos bombardeios (sejam na África ou Nagasaki), pelas suas guerras às drogas, pelo racismo e pela fome. É um sistema marcado por uma opressão da grande maior parte da população, que não tem como decidir como vai viver ou como vai morrer. É uma estrutura econômica que tem um sentido de ser: o da exploração. Ela garante que mesmo em seus períodos mais democráticos, a maior parte da população não terá controle sobre sua própria vida.
Não existe liberdade verdadeira no capitalismo. Nem a legalização de um partido nazista nem a proibição dos partidos comunistas são passos reais para nenhuma liberdade, a não ser o dos exploradores de oprimir. Para a maior parte do povo ser verdadeiramente livre só será possível numa mudança radical desse sistema de classes que vivemos. Buscar liberdade é buscar a possibilidade de que não tenhamos um mundo onde ao mesmo tempo que se aumenta a fome, os bilionários aumentem seus lucros de forma absurda, como foi o crescimento de 60% de suas rendas durante a pandemia.
É preciso refundar nosso sistema com base em uma estrutura onde esse tipo de realidade não seja tolerada. E isso só se faz pela luta cotidiana, pela não tolerância de posicionamentos como estes de Monark, Kataguri e Adrilles e pela construção de uma sociedade que, como diz Marx, possa garantir ser construída “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.”