Não ao retorno do vestibular na Universidade Federal de Santa Maria
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Não ao retorno do vestibular na Universidade Federal de Santa Maria

A volta do vestibular coloca a universidade sob interesse dos cursinhos e escolas privadas e excluem ainda mais a classe trabalhadora da possibilidade de acesso ao ensino superior.

Juan Zebrowski 25 jan 2023, 12:18

No dia 23 de janeiro foi divulgado pelo Jornal Diário de Santa Maria que entrará em discussão no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), no dia 26 de janeiro, a proposta de retorno do vestibular na Universidade Federal de Santa Maria. Apresentar esta proposta atravessando sobre o debate do conjunto da categoria estudantil é uma forma de atropelar qualquer mobilização que reflita o interesse dos estudantes sobre as formas de ingresso.

No final do mês de novembro a reitoria da UFSM retomou publicamente a discussão sobre o retorno do vestibular. Contra a ampla maioria dos estudantes, professores e comunidade acadêmica que consideram essa atitude um retrocesso no que diz respeito a almpa democratização do acesso à educação. Este é um interesse comum da atual gestão com o empresariado local e inclusive com representantes da extrema-direita na cidade, como a vereadora Roberta Leitão, inimiga dos estudantes e que vem se dedicando a ataques constantes à UFSM. A proposta de retorno do vestibular foi apresentada em uma reunião pública, que ocorreu no dia 30 de novembro,  organizada pela PROGRAD.

A proposta busca se apoiar em três eixos: a identificação da UFSM com os setores locais, as taxas de evasão e o não preenchimento da totalidade de vagas pelo ingresso através do ENEM. Porém, é ignorado em todo o momento a profunda crise que a juventude e a classe trabalhadora vêm sofrendo sob efeito do desgoverno de Bolsonaro, apoiado por setores empresariais que lucrariam com o retorno do vestibular. 

O retorno do vestibular coloca a universidade sob interesse dos cursinhos pré-vestibulares e escolas privadas, que operam com altas mensalidades e excluem da classe trabalhadora a possibilidade de acesso ao ensino superior. Esses são, na prática, os setores da sociedade que se “identificariam” com o retorno do vestibular que exclui as escolas públicas da região que ainda passam pela Reforma do Ensino Médio e convivem com as sequelas da pandemia e da precarização da educação pública. Ainda é mais visível a falácia da justificativa pela identificação da comunidade santamariense com a UFSM, quando os Cursos Populares como o Práxis e o Alternativa estão precarizados, sendo estes um importante meio de trazer os estudantes das escolas públicas para a universidade 

A principal contradição em que a reitoria tenta justificar o retorno do vestibular, é sobre a crescente taxa de evasão nas universidades. Para além de se ausentar de um debate público sobre as políticas de assistência estudantil na UFSM. A crise financeira provocada pela política econômica anti-povo de Bolsonaro tem se apresentado como principal motivo para a evasão de estudantes na universidade, elemento que é ausente na proposta da reitoria para as novas formas de ingresso na UFSM. 

A alta no preço dos alimentos, baixos salários, insuficiência de bolsas de formação, precariedade no transporte público e a dupla jornada da maioria dos estudantes dos cursos noturnos (trabalham durante o dia e estudam à noite) são hoje o peso na balança de quem abandona a universidade para trabalhar em três turnos muitas vezes. A prioridade hoje deve ser a mobilização pelo avanço das lutas em defesa de um programa de assistência estudantil amplo e de qualidade que coloque em prioridade a entrada e a permanência dos estudantes trabalhadores e cotistas na universidade e, não um projeto de elitização do ensino público superior.

Enfatizamos que muitas famílias foram afetadas pela pandemia, muitos estudantes foram excluídos do processo educacional devido a falta de materiais, como computador e Internet, e ressaltamos que esse período pós pandemia nossa prioridade enquanto universidade deve ser garantir o retorno e permanência dos estudantes na universidade, a possível volta do vestibular só afasta ainda mais os estudantes de entrarem e permanecer na universidade.

A volta do vestibular está na contramão das necessidades dos estudantes das escolas públicas e do papel que a UFSM tem cumprido e deve seguir no próximo período: ser a porta de entrada para jovens e trabalhadores de todo o país para o ensino superior. O ingresso 100% SISU, ampliou a democratização do acesso à universidade e possibilitou que estudantes das regiões próximas à Santa Maria e de todo o país possam ingressar na UFSM. 

Retomando nosso acúmulo enquanto organização na luta pela democratização do acesso à universidade, trazemos a nota que publicamos em 25 de junho de 2014:

No dia 22 de maio ocorreu a reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFSM em que uma das pautas era os desdobramentos do vestibular. O fim da reunião se deu com votação pelo fim do vestibular e a adoção de 100% ENEM/Sisu como única forma de ingresso na universidade.

Entidades representantes do empresariado local e ditos representantes dos estudantes que se apresenta na União Santa-mariense de Estudantes (USE) comandada pela juventude do PCdoB (UJS), se postularam contra essa decisão e através da via judicial entraram com uma representação pela volta do vestibular. No dia 24 de junho vem a público a decisão do juiz Loraci Flores de Lima, o qual atendeu ao pedido dos empresários e sentencia a volta do vestibular.

A instituição já afirmou que irá recorrer dessa decisão e nós, do coletivo Juntos!, nos colocamos contrário ao vestibular por acreditarmos que o mesmo é excludente e vemos no Sisu uma possibilidade de melhorar a democratização do acesso ao ensino superior. Por isso, repudiamos a decisão do juiz, que se coloca em favor do poderio econômico dos empresários santa-marienses.

Caberá ao Movimento Estudantil combativo dar o enfrentamento nas ruas contra esse verdadeiro ataque à autonomia universitária.

O empresariado local de Santa Maria foi e será capaz de intervir na autonomia universitária e neste momento contará com o apoio da extrema- direita caso o retorno do vestibular seja derrotado no CEPE futuramente.

Apesar da reitoria apresentar essa proposta no final do semestre letivo, movimento tático para empurrar goela abaixo o vestibular, precisamos organizar a categoria estudantil, da universidade e das escolas públicas, para defender o ingresso 100% SISU e lutar contra o entreguismo da universidade às mãos dos interesses privados e do lucro dos cursinhos pré-vestibulares!

Nesse sentido, é preciso a construção de um amplo espaço de debate e mobilização os estudantes secundaristas das escolas públicas e o conjunto da comunidade acadêmica contra esse ataque à educação e a democratização do acesso. É de suma urgência que o debate sobre o retorno do vestibular seja levado para todas as instâncias da universidade, e não atropelado pela reitoria da UFSM!


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