É preciso retomar Junho de 2013
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É preciso retomar Junho de 2013

Junho precisa ser lembrado, reivindicado, mas também superado

João Pedro de Paula 8 jun 2023, 17:29

Eu vivi Junho de 2013 pela TV. À época tinha apenas 13 anos e não pude estar nas mobilizações. Mas Junho me deixou um ânimo de luta que fui reencontrar na primavera secundarista de 2015 e 2016, que tomou o Brasil e a América Latina com ocupações estudantis. Esse texto não é sobre minha experiência pessoal, mas é nítido como Junho abalou a consciência até daqueles que não estiveram presencialmente nos atos. Tanto é, que até hoje seguimos em um debate sobre quais são seus legados. 

Para nós do Juntos, o que ocorreu foi um exemplo em muitos sentidos. Da nossa capacidade de mobilização, de como as estruturas do poder podem ser atingidas, da importância de entender o caráter internacionalista dos processos e até mesmo das insuficiências de Junho, marcado por lutas contra tudo e ao mesmo tempo contra nada, pela ausência de um programa e uma direção com capacidade de dirigir o processo para rupturas. 

Aos 10 anos de 2013, Junho segue mais vivo do que nunca. Voltamos a um governo do PT, marcado por concessões de “governabilidade” que ferem nossos direitos, como o novo teto de gastos, e sem uma alternativa anticapitalista de massas. Mas com uma extrema-direita com presença orgânica na sociedade, que soube acumular justamente por disputar e cavar espaços nas insuficiências e insatisfações do regime político, personificado no petismo e partidos como PMDB e PSDB. 

Há quem negue as Jornadas de 2013 por supostamente ser o ponto de partida do bolsonarismo ao poder. Uma leitura que condena Junho a um espontaneísmo vazio, irresponsável e que não deveria ter ser realizado. Partem dessa posição aqueles que defendem as gestões petistas e não veem problema na colaboração de classes. Em vez de reconhecer que o bolsonarismo se desenvolve a partir das frustrações com o PT, apontam que é Junho que tem culpa por isso, quando no fundo as manifestações foram expressão das próprias contradições do capitalismo e de seu “gestor” no Brasil – marcadas à época por distintas mobilizações no centro e na periferia do capital desde a crise de 2008. 

Quem nega e condena Junho é quem pretende administrar as crises nas dinâmicas de acordos e conciliações que contraditoriamente desenvolveu as jornadas de luta, por colocar a maioria do povo para pagar pelos problemas do capitalismo. As manifestações envolviam temas concretos de insatisfação popular como o combate à corrupção, o aumento das passagens, os problemas em serviços públicos, etc. São agendas de lutas de caráter popular e progressivo que foram negadas e reprimidas pelo PT. O problema está em exigir melhorias na vida de classe trabalhadora e da juventude ou em não dialogar com essas demandas? 

Debater esses temas não é uma mera disputa de interpretação histórica. É debater quais serão nossos rumos no hoje a partir dessa experiência. Quem busca esquecer essas Jornadas recairá no erro de defender uma forma de governar que privilegia as negociatas para obter ganhos mínimos, sem qualquer enfrentamento real à classe dominante para balançar as estruturas de exploração no país para termos as mudanças que precisamos há muito. Junho nos deixou uma lição, assim como outros processos, de que o jogo do poder pode ser invertido. De que é possível colocar uma maioria parlamentar no papel de minoria social que ela é que de fato quando colocamos nosso peso nas ruas. 

Seguir se pautando pelo pragmatismo político, pelo que é possível numa lógica formal e parlamentar, vai continuar produzindo tetos de gastos, retrocessos na luta ambiental, ataques aos movimentos sociais como o MST e até mesmo abrir espaço para a extrema-direita ressurgir na indignação que certamente resultará essa política.

Junho precisa ser lembrado, reivindicado, mas também superado. Precisamos de Junho outra vez. Mas com um programa que carregue bandeiras de transformação social, com medidas como a taxação das grandes fortunas, a auditoria da dívida pública, uma reforma agrária e urbana, um passe livre nacional, a desmilitarização das polícias, a legalização das drogas e muito mais. Lutas que possam desenvolver uma consciência anticapitalista no aprendizado das ruas e capacidade organizativa para avançar em um projeto de ruptura com a ordem e na construção de uma alternativa e direção política que possa guiar as lutas sociais até o fim. Algo que nos faz falta e buscamos construir no PSOL e através da juventude com apoio do Juntos.


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