Por que negros e indígenas recebem menos propostas de estágio e emprego?
Reprodução: e-Diário Oficial

Por que negros e indígenas recebem menos propostas de estágio e emprego?

o racismo institucional reforça estereótipos que associam a população negra e indígena à incapacidade, à informalidade ou à violência

Marcela Karapotó 2 jun 2025, 15:39

Negros e indígenas seguem sendo preteridos em processos seletivos de estágio e emprego não por falta de competência, mas por conta de um sistema que ainda opera com base em privilégios históricos, racismo estrutural e exclusão silenciosa. Mesmo quando são altamente qualificados, com dedicação e preparo acima da média, ainda enfrentam barreiras que pessoas brancas, muitas vezes com menos preparo, não conhecem.

A realidade é que o mercado de trabalho — assim como as universidades e instituições de ensino — ainda reproduz um padrão de preferência: o corpo branco, o sobrenome europeu, a fala sem sotaque. Qualquer coisa que fuja desse molde é vista como “diferente”, e o diferente é automaticamente colocado em desvantagem. A imagem do profissional ideal, construída socialmente, raramente se parece com a de uma mulher negra ou de um jovem indígena. E essa construção influencia diretamente nas escolhas de quem contrata.

Além disso, o racismo institucional reforça estereótipos que associam a população negra e indígena à incapacidade, à informalidade ou à violência. São estigmas que moldam a percepção de competência antes mesmo que o currículo seja lido. Não se trata de mérito, mas de exclusão ativa disfarçada de “perfil ideal”.

Isso gera um ciclo cruel: sem oportunidades, esses grupos têm mais dificuldade de ganhar experiência. Sem experiência, continuam sendo preteridos. O esforço, que deveria ser suficiente, nunca parece bastar. E, para piorar, muitos ainda enfrentam ambientes hostis, onde são cobrados mais do que os outros, onde não podem errar, onde são constantemente invisibilizados — mesmo quando são os mais preparados da sala.

O caminho para romper com essa realidade passa pela responsabilidade das instituições. É preciso revisar processos seletivos, adotar ações afirmativas, capacitar equipes de RH, criar ambientes realmente inclusivos e, principalmente, questionar os critérios que sustentam privilégios disfarçados de neutralidade.

Negros e indígenas não precisam ser salvos, precisam de oportunidade real. O Brasil não avançará enquanto continuar desperdiçando talentos por manter os mesmos filtros racistas de sempre. O acesso ao trabalho digno e justo não pode depender da cor da pele ou da origem étnica — deve depender apenas da capacidade, da dedicação e do potencial de cada pessoa. E esses, negros e indígenas têm de sobra.


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